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"Colocava muita sujeira por dentro das unhas", diz caracterizadora de Grazi

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

25/09/2015 13h06

Figurinha frequente nas listas de mulheres mais bonitas do Brasil, Grazi Massafera surpreendeu ao aparecer macérrima e suja na reta final de “Verdades Secretas”, que acaba nesta sexta-feira (26). Mas ela contou com uma ajuda importante para mostrar a transformação da modelo Larissa: a da caracterizadora Dayse Teixeira. Trabalhando há dez anos na Globo, em produções como “Tá no Ar”, “Dupla Identidade” e “Amor à Vida”, ela foi a responsável pelos truques de maquiagem e cabelo que “enfeiaram” a atriz.

Para mostrar aos poucos a decadência de Larissa, que viu sua carreira desmoronar enquanto seu vício em crack piorava, Dayse fez mudanças graduais no visual da personagem. “Primeiro, deixei sem maquiagem, depois ela parou de fazer a sobrancelha, comecei a colocar olheiras, e assim foi”, contou a caracterizadora ao UOL. “A Grazi foi emagrecendo e eu fui ajudando também na maquiagem, não só no rosto, mas no corpo também – afinando braço, pescoço, fazendo com que ela aparecesse mais magra no vídeo.”

Quando a personagem foi morar na cracolândia com Roy (Flávio Tolezani), o desafio de Dayse foi ser fiel ao aspecto real dos viciados que moram nas ruas. “Foi um trabalho de sujeira mesmo. Eu a encardi, colocava muita sujeira por dentro das unhas, no calcanhar, nos pés, no pescoço, em todas as partes do corpo”, contou Dayse, que visitou cracolândias do mundo real como forma de se preparar para o trabalho da trama. E nem o cabelo da atriz foi poupado: “Acabei com o volume do cabelo dela, usei um spray americano também para tirar a cor do cabelo dela e vários outros truques para deixar o cabelo com o aspecto de sujo”.

set.2015 - Dayse Teixeira, caracterizadora de "Verdades Secretas", posa com Grazi Massafera - Reprodução/Instagram/dayseteixeiracursos - Reprodução/Instagram/dayseteixeiracursos
Dayse Teixeira, caracterizadora de "Verdades Secretas", posa com Grazi Massafera
Imagem: Reprodução/Instagram/dayseteixeiracursos

O rosto da atriz, que passava por 40 minutos de preparação antes de gravar suas cenas, mereceu atenção especial no processo, ressaltou. “A Grazi é bela, então para fazer com que o rosto dela ficasse real, foi uma construção muito cuidadosa mesmo, eu criei melasmas, olheiras, profundidades, olhos vermelhos do vício”.

Um dos detalhes que mais chamou atenção foram os dentes podres de Larissa, resultado de uma prótese dentária criada especialmente para Grazi. “O que acontece com uma pessoa que fica afundada no crack? Os dentes começam a apodrecer. Alguns apodrecem durante anos, outros ficam como o da Grazi, cheio de tártaro, porque não lava, não escova, eles viram zumbis. Disso de prestar atenção nos dentes foi como eu tive a ideia da prótese para dar mais realismo à Larissa”, explicou Dayse.

Transformar uma mulher como Grazi não é fácil – “a prova de fogo dos meus 19 anos de profissão”, definiu a profissional –, mas a atriz se entregou ao trabalho e abriu mão da vaidade para compor Larissa, aparecendo para gravar já com os cabelos sem lavar e com o esmalte descascando. “O cabelo dela é muito bonito. Uma vez que lave, fica lindo. E se você não passa escova, fica mais bonito ainda. Falei ‘Gente, o que faço com você?’ E ela ficava sem lavar o cabelo para me ajudar. Ela mergulhou no personagem de uma maneira linda, nós fizemos uma parceria muito bacana, em tudo”.

Relembrando momentos fortes da trama de Walcyr Carrasco, Dayse contou que Grazi fez toda a equipe se emocionar nas cenas em que pede ajuda após ser estuprada e em que fica em choque após ver seu reflexo em um espelho. “Eu me emocionei muitas vezes. Na cena da redenção dela, de sair, era um set inteiro de gravação chorando. Quando ela se olhou no espelho, nossa, era todo mundo chorando também”.

Para a caracterizadora, que já fez trabalhos sociais com viciados em drogas, a novela ficará marcada por ter trazido essa discussão para o público. “O mais lindo desse trabalho foi gravar no Santo Cristo [bairro do Rio de Janeiro] e ver o olhar dos moradores, e a palma que eles batiam para gente. Muitas cenas que a Grazi fez ali, como a Larissa, nós víamos muitas pessoas chorando, como a cena me que a mãe foi resgatá-la e ela não foi. Vimos ali a realidade que muitos deles vivem com os filhos. É um grito de socorro que o país está dando com essa dramaturgia.”