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Morre aos 77 anos o ator, apresentador e produtor musical Luiz Carlos Miele

Do UOL, em São Paulo

14/10/2015 10h48

O apresentador, ator e produtor musical Luiz Carlos Miele, 77 anos, teve um mal súbito e foi encontrado morto na manhã desta quarta-feira (14) em sua casa em São Conrado, Zona Sul do Rio de Janeiro. Segundo a empresária de Miele, ele e a mulher, Anita, saíram para jantar na noite de terça-feira com amigos. Ao acordar nesta quarta-feira, Anita encontrou o marido caído no chão.

O velório ocorrerá a partir das 7h de quinta-feira na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, no Centro, e será aberto ao público. O corpo será enterrado no Cemitério do Caju, às 14h.

Artista de múltiplos talentos, Miele trabalhou com música, televisão, humor, teatro. Na televisão, um dos seus últimos trabalhos foi em "Geração Brasil", no papel de Jack Parker, em 2014. No mesmo ano, participou da competição Dança dos Famosos, no "Domingão do Faustão", e da minissérie "A Teia", como o ex-senador Walter Gama. Em 2015, fez participações na novela "Boogie Oogie", como ex-gerente da boate Vogue, e no humorístico "Tomara Que Caia".
 
Nesta quarta-feira, Record e SBT divulgaram notas de pesar, lamentando a morte do artista e lembrando a atuação dele em "Escolhinha do Barulho" (2003) e "Cidadão Brasileiro" (2006), e em "Cocktail" (1991), respectivamente.
 
Em setembro deste ano, o apresentador disse ao UOL que sentia saudades de trabalhar na TV. "Eu acordo com saudade, estou desde a inauguração da TV. Sinto-me muito deslocado fora da TV, mas tudo tem seu momento na carreira. É preciso saber administrar e não se desesperar. A cada dia espero ser chamado para alguma coisa nova na TV. Se alguém da televisão me ligar, eu digo 'É só me dizer a hora e a roupa'", afirmou.
 
"Showman"
Luiz Carlos Miele nasceu no dia 31 de maio de 1938, em São Paulo. Filho da atriz e cantora Irma Miele, frequentava o ambiente de emissoras de rádio e televisão desde pequeno. Aos 12 anos, participou do programa "Meu Filho, Meu Orgulho", na Rádio Excelsior de São Paulo. Também trabalhou na rádios Tupi e Nacional.
 

Em 1959, mudou-se para o Rio, onde conheceu o compositor Ronaldo Bôscoli, com quem formou a dupla Miele & Bôscoli, responsável pela pela direção e produção de diversos espetáculos. Atuante na bossa nova, foi um dos criadores do modelo de apresentação "banquinho e violão". Como produtor, trabalhou com artistas como Roberto Carlos, Wilson Simonal, Agnaldo Timóteo e Alcione. 

O "showman", como era chamado, começou a trabalhar na TV há mais de 60 anos. Em entrevista recente ao UOL, ele lembrou o início da carreira: "A TV tem 65 anos e eu estou nela há 66 [risos]. Eu estava na rádio Tupi quando chegou a televisão no Brasil. Lembro-me que um diretor falou, em uma das primeiras transmissões ao vivo, manda esse garoto parar de passar na frente da câmera. Eu era o garoto e passei na frente da câmera de calça curta. Daí alguém falou, 'a TV brasileira dá os primeiros passos'. E os primeiros passos da TV foram as minhas pernas", lembrou. 

Na Globo, Miele e Bôscoli produziram os programas "Alô, Dolly", "Dick & Betty" e "Um Cantor por Dez Milhões, Dez Milhões por Uma Canção". Nos anos 1970, atuou em humorísticos como "Faça Humor, Não Faça Guerra" e "Planeta dos Homens".
 
Miele com Ronald Golias na "Praça da Alegria"  - Divulgação/Memória Globo - Divulgação/Memória Globo
Miele com o humorista Golias, na "Praça da Alegria"
Imagem: Divulgação/Memória Globo
Entre 1976 e 1979, apresentou "A Praça da Alegria", na Rede Globo, substituindo Manuel de Nóbrega, que morreu em 1976. O programa tinha a participação de Ronald Golias. Também fez produção e direção musical de "Se Meu Apartamento Falasse", com Cyl Farney e Odete Lara, "Fantástico", "Elis Especial", "Praça da Alegria", "Viva Marília" e "Batalha dos Astros".
 
Buscando sempre se reinventar na carreira artística, Miele dizia ter um arrependimento na vida: o programa "Cocktail", exibido no SBT entre 1991 e 1992. "Isso foi um mau passo da minha carreira. Aquilo era muito ruim. Eu fiz, mas não que eu tenha gostado", disse em entrevista ao UOL em 2012.
 
Em 1999, assinou a direção do espetáculo "Vivendo Vinícius", com Carlos Lyra, Toquinho, Miúcha e Baden Powell. No mesmo ano, passou a exercer a função de diretor de projetos especiais na Casa de Cultura da Universidade Estácio de Sá, no Rio, onde produziu vários espetáculos, como "Um brasileiro chamado Jobim", com Roberto Menescal e Danilo Caymmi, "Minhas duas estrelas – Pery Ribeiro canta e conta – Dalva de Oliveira e Herivelto Martins" e "Essa Bahia chamada Caymmi", com Nana Caymmi, Dori Caymmi e Danilo Caymmi.
 
Depois de uma temporada afastado da televisão, retornou em 2002, para apresentar o programa de entrevistas "A Vida é um Show", na TV Educativa do Rio. Em 2005, viveu o advogado Wexler, no seriado "Mandrake", exibido pela HBO. 
 
Na Rede Globo, em 2008, participou de um episódio do seriado "Casos & Acasos" e, em 2011, do seriado "Tapas & Beijos", como pai do personagem de Vladimir Brichta. No ano seguinte, interpretou um poderoso e corrupto político na minissérie "O Brado Retumbante", de Euclydes Marinho. 
 
Neste ano, ele tinha acabado de relançar o livro "Miele, o Contador de Histórias", com a estreia de uma nova turnê de mesmo nome. Na obra, Miele reuniu memórias com personalidades diversas com quem conviveu, como Elis Regina, Roberto Carlos, Simonal, Pelé, Dorival Caymmi, Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Maysa.