Chateado com a Record, Leonardo Brício cutuca: "Não quero ser ator bíblico"
"Onde você está?" e "quando você vai voltar?" são as perguntas mais ouvidas por Leonardo Brício. O ator, com mais de 25 anos de carreira na TV, está longe das câmeras desde 2012. Seu último trabalho, "Rei Davi", está sendo exibido pela terceira vez na Record, no lugar do sucesso "Os Dez Mandamentos". Embora considere o papel um dos mais importantes de sua carreira, Brício relembra com tristeza a saída conturbada da emissora e recusaria outro papel religioso: "Não quero ser ator bíblico".
Brício não abandonou a atuação. Ele passou 2015 viajando pelo Brasil com sua companhia de teatro, OmondÉ, fundada há cinco anos, e tenta sobreviver somente com suas peças. Mesmo fora da TV, ainda é reconhecido por seus personagens na TV, como Ulisses Sardinha da novela "Da Cor do Pecado" (2004), da Globo, e rei Davi, na minissérie bíblica da Record. E é cobrado pelo público para voltar à televisão.
"As senhoras, as pessoas perguntam 'Meu filho, onde você está? Você não apareceu mais! Quando você vai voltar?' Ouço direto. E falam indignadas: 'Não é possível, você tem que voltar!' Respondo: 'Isso não depende de mim, querida' (risos). Sinto-me valorizado pelo público. Por outro lado, nem sempre valorizado por quem escolhe", afirma Leonardo Brício em entrevista ao UOL.
Desde sua saída da Record, Brício foi chamado pelo SBT e teve conversas com o novelista Ricardo Linhares para participar de "Babilônia", mas o elenco já estava fechado. Atualmente, visita a Globo a cada 15 dias para ler peças de teatro aos atores e funcionários. Gosta do projeto, porém confessa que sente vontade de voltar a atuar na antiga casa.
"Estou fora de lá há 12 anos. Ansiedade existe, mas tenho que controlar. Não vou negar que não quero voltar. Quero voltar. Fiz uma boa história lá, bem bonita e acho que não deve ser apagada, e ao mesmo tempo em que ela é apagada com o tempo porque as pessoas realmente não têm muita memória. Por mais que fique lá no VT, está cada vez mais distante. Quero botar minha cara de novo sim para as pessoas que não sabem quem eu sou, porque às vezes tem gente que não sabe quem eu sou", admite.
Saída melancólica da Record após "Rei Davi"
Para a Record, entretanto, o ator não cogita retornar: "Da forma como saí, não tem sentido, pelo menos agora. Saí, para que voltar?". A relutância tem explicação. Após oito anos como contratado da Record, Leonardo Brício não foi chamado para renovar seu vínculo e deixou a emissora de forma melancólica em 2014. Atualmente, está no ar na Record em duas reprises: "Rei Davi" e "Chamas da Vida" (2008).
"Rolou só um papo por telefone, beijo e tchau. Só isso. Foi bem triste. Nem toda empresa é justa. Eles não pesam que em 'Rei Davi' eu fui parar no hospital por incompetência deles", lamenta, relembrando quando seu dedo polegar foi esfacelado enquanto lutava contra 100 homens armados com espada em uma gravação da minissérie bíblica. "Quatro dias depois eu estava gravando porque eu queria, para não atrasar o trabalho. E isso não é levado em conta, não", completa.
Enquanto esteve na Record, o ator não dispensou o teatro, onde começou aos 15 anos. Os últimos dias na emissora foram desoladores, com demissões e debandada de atores. Brício recusou um papel em "Vitória" porque achou que não se sentiria realizado.
"Preferi mudar a vida um pouco, minha estrutura, mas me sinto muito mais íntegro e feliz com a minha arte. Lá [na Record] parecia estar fechando as portas, não via mais ninguém nos estúdios, tudo abandonado, sentia que estava acabando. Engraçado que não, continua, 'Os Dez Mandamentos' é um sucesso", reconhece.
Apesar da despedida triste, Brício gosta de se ver na reprise e classifica "Rei Davi" como um de seus trabalhos mais importantes na TV. Mais: acredita que o sucesso da minissérie foi fundamental para a Record fazer "Os Dez Mandamentos", novela da qual era cogitado para ser o protagonista, Moisés.
"Gostei de fazer ["Rei Davi"]. Eu tinha esse histórico religioso, fui católico e quando era criança assistia a muitos filmes bíblicos. Mas não queria sempre fazer isso, tanto que quando saí e estavam cogitando 'Os Dez Mandamentos' falei: 'Não quero virar um ator bíblico', não quero ser rotulado'. Faria, mas agora não é o que quero. Quero personagens que me desafiem. 'Rei Davi' foi um grande desafio", afirma.
Galã baixinho e longe do computador
Aos 52 anos, Leonardo Brício acumula papéis de galã, como o bon vivant Ricardo Medeiros de "Anjo Mau" (1998), e mais jovens, como Ulisses Sardinha em "Da Cor do Pecado", mais novo do que seus irmãos Paco e Apolo, personagens de Reynaldo Gianecchini, que na vida real nasceu dez anos depois de Brício.
O ator, entretanto, não se considera um bonitão: "As pessoas me falavam na época. Não sou galã, olha o meu tamanho (risos). Tenho 1,70m. Quando Daniel Filho me chamou para fazer "A Justiceira", ele falou; 'Galã! Galã!'".
Para manter o físico e a aparência jovial, o ator conta que se preocupa com a alimentação, pratica corrida e natação. Além disso, não vê TV por falta de tempo e faz algo impensável para muitos atores atualmente: não usa computador nem redes sociais, o que o deixa mais tranquilo, mas aumenta o desespero do público com o "sumiço" dele na TV.
"As pessoas brigam comigo: 'Meu Whatsapp você não respondeu!' Ficam enlouquecidas porque não respondo no Facebook. Que preguiça, gente! (risos) Quando nasci nem existia computador, só aqueles da Nasa. Quando posso, vou para o meu sítio em Minas Gerais, sem computador, internet, isolado. O cérebro fica mais calmo mesmo", recomenda.
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