"Vingança é um prato que se come frio", diz vice da RedeTV! sobre "Pânico"

Vice-presidente e apresentador da Rede TV!, Marcelo de Carvalho não esconde a satisfação de vencer o “Pânico” no Ibope. Ironicamente, o programa que já foi a maior a audiência da RedeTV!, e desde 2012 é apresentado pela Band, vem sofrendo derrotas sucessivas para o “Encrenca” justamente no horário no qual se consagrou na televisão.
“Como neto de italiano calabrês, minha avó dizia que a vingança é um prato que se come frio. Então, como pessoa física, estou comendo em prato frio a minha vingança. Estou muito satisfeito. Mas, como empresário não estou porque gostaria que vários canais estivessem programas fazendo sucesso, pois isso favoreceria a fragmentação da audiência que nos favorece”, disse o ex-patrão da trupe de Emílio Surita.
O empresário explica a decepção que teve com os humoristas do "Pânico". “Na televisão, todos têm o direito de sair de um canal. Artista vai e vem. Atração vai e vem. Isso é do nosso ramo. O que eu fiquei chateado, magoado, foi a maneira como eles saíram. Isso não se faz. Você não cospe no prato que comeu. Tanto o Tutinha, quanto o Emílio ganharam milhões de reais aqui, então não dá para sair falando mal”, avaliou.
Guerra de audiência
Em fase de implantação no Brasil, o instituto alemão GfK recebeu os investimentos de RedeTV!, SBT e Record para se tornar uma alternativa à medição de audiência no Brasil. A Band também pretendia apoiar a empresa, mas desistiu da empreitada em agosto deste ano ao rescindir o contrato. A chegada de um concorrente ao Ibope foi elogiada por Carvalho.
“Fico chocado com a ignorância de algumas pessoas do mercado de dizerem que são contra a concorrência. Eu quero lembrar que se não existisse concorrência, no Brasil ainda só teriam Ford, Volkswagen, Fiat e General Motors de carro. E tínhamos carros que eram 30 anos mais antigos do que o restante do mundo. Se não existisse concorrência, as pessoas ainda iriam viver de alugar linha telefônica”, comparou.
Ele, que está aguardando a auditoria e validação dos números de audiência do GFK para começar a divulgá-los, disse estranhar a posição da Globo de não apoiar a criação de nova forma de medição de audiência.
“É como um camarada que fala, vou continuar com meu Ford Galaxie de 1971. Não gosta de evolução? É contra a livre-concorrência, o livre-mercado? Quer que continue como está? Qual a razão? Acho [a decisão] totalmente equivocada. Respeito, mas acho equivocada”, declarou.
Com mais de trinta anos de televisão, Carvalho diz que a grande mudança que ele observa atualmente em relação ao início da RedeTV!, há 16 anos, é a pulverização da audiência da TV aberta. “Antes a rede Globo tinha 90% de share [número de televisores ligados] e hoje tem perto de 30%. O share está mais dividido. A outra mudança é a queda das novelas do horário nobre. Eu me lembro que ‘Roque Santeiro’ deu 90% de share, uma loucura!”, afirmou.
“É como um camarada que fala, vou continuar com meu Ford Galaxie de 1971. Não gosta de evolução? É contra a livre-concorrência, o livre-mercado? Quer que continue como está? Qual a razão? Acho [a decisão] totalmente equivocada
Marcelo de Carvalho, sobre a decisão da Globo de não investir em um concorrente do Ibope
Investimento em séries para 2016
Atento aos novos hábitos e ao sucesso de serviços de streaming como a Netflix, o empresário pretende investir em produção de séries para meados do ano que vem. Tudo, diz ele, dependerá de como a emissora vai reagir à crise da economia.
“A RedeTV! não fará novelas, acho um risco muito grande - embora agora, depois de anos de investimento, a Record tenha acertado com esse golaço que é ‘Os Dez Mandamentos’. Assisti a vários capítulos e achei uma produção fantástica, primorosa. Mas é muito difícil e muito custoso”, analisou. “A gente vê que no mundo cada vez mais há preferência por espaços mais curtos de programação. O camarada não quer ficar assistindo por seis meses a mesma coisa. Ele quer assistir a uma série que dure quinze dias ou três semanas”, completou.
O vice da RedeTV! disse que o canal já começou a fazer a triagem dos mais de 250 roteiros recebidos – alguns deles assinados, inclusive por “autores consagrados que estão sem vínculos com outras emissoras”. A emissora ainda discute se irá produzir séries de humor, de acordo com Carvalho um gênero “mais seguro”, ou de drama – esta segunda opção é preferida por ele.
“O bom de séries é que você não precisa ser 'coxinha', sai do politicamente correto. ‘Breaking Bad’, por exemplo, o herói é um tremendo vilão. É uma loucura. ‘Game of Thrones’ você não sabe se as pessoas por quem você está apaixonado irão morrer. As séries quebram essa coisa meio previsível das novelas”, explicou.