Campanella volta à direção em Colony e diz que série é metáfora de ditadura
Vencedor de um Oscar pelo filme “O Segredo de Seus Olhos” (2009), o argentino Juan José Campanella pode ser mais conhecido por seus trabalhos no cinema, mas não é estranho ao mundo da TV. Depois de trabalhar em séries norte-americanas como “House” e “Law and Order: Special Victims Units”, ele voltou à direção televisiva com a série “Colony”. Escrita pelo roteirista Carlton Cuse, de “Lost”, a trama estreou no TNT na última segunda-feira (18), e tem seus três primeiros episódios comandados por Campanella.
Em um futuro distópico, mas não distante, Los Angeles é invadida por alienígenas e passa a ser comandada por um governo totalitário formado por humanos colaboracionistas, que impõe vigilância forçada e toque de recolher aos cidadãos. Will (Josh Holloway, o Sawyer de “Lost”) e sua mulher, Katie (Sarah Wayne Callies, a Lori de “The Walking Dead”) tentam sobreviver a esse novo cenário com seus dois filhos, enquanto sofrem por terem sido separados do terceiro durante a invasão.
Diferentemente do que se poderia esperar de uma série de ficção científica, o foco principal da trama está na relação dos protagonistas – e foi justamente isso que atraiu Campanella. “O que eu gostei foi justamente que há pouca ciência nessa ficção cientifica. Eu o classificaria mais como uma fantasia, como filmes como ‘Twilight Zone’ e ‘Planeta dos Macacos’. São filmes que, por mais inventado que sejam, falam algo do mundo em que estamos. Gostei muito disso e me sinto confortável fazendo isso”, afirmou o diretor em teleconferência com jornalistas de toda a América Latina, da qual o UOL participou.
Seguindo essa ideia, os alienígenas que criaram toda a situação da série não são mostrados explicitamente, e têm sua presença apenas sugerida. “Eles são a força invasora, mas os conflitos que surgem não são dos invadidos contra os invasores, mas dos invadidos entre si, dos colaboracionistas com a resistência, dos que estão contentes com a invasão, porque a sua vida está melhor, e dos que colocam sua liberdade acima de tudo. É uma metáfora de uma ditadura na vida real, das relações de traição, de conformismo, de lealdade. É muito mais interessante para a série”.
Para o Camapnella, que se inspirou em filmes do diretor Costa-Gavras como “Z” e “Estado de Sítio”, o estado ditatorial retratado na série reflete outros que já existiram na história.
“Estamos falando de um governo que para muita gente facilitou a vida, a deixou mais previsível, em lugares onde os delitos passaram a ser mais reprimidos, então uma grande parte da população se acomoda com a invasão”, explicou o diretor. “Obviamente, não estamos falando de uma coisa como o que está acontecendo na Síria, que está notoriamente destruindo o país. Aqui, a briga é entre os que são coniventes e os que resistem, como já aconteceu em muitas invasões da história, como na França invadida pelos nazistas, e em muitas ditaduras como as que estamos mais familiarizados [na América Latina]”.
Carreira na Argentina e cinema
Juan Campanella prepara sua volta ao cinema para 2017, em um longa ao lado de Eduardo Sacheri, com quem trabalhou em “O Segredo de Seus Olhos”. “Se as musas colaborarem, pretendemos começar a produção em janeiro ou fevereiro para lançar em 2017”, contou, sem dar mais detalhes.
E apesar de ter seu nome reconhecido no exterior, o cineasta não pretende deixar de trabalhar na Argentina, onde tem mais liberdade para criar. “Eu vivo na Argentina, e lá não sou somente um diretor, sou um criador das histórias. É onde eu mais encontro minha identidade. Na Argentina, sou Juan Campanella. No exterior sou um diretor apreciado, trabalho em projetos interessantes, mas não são coisas que eu crio. A Argentina sempre será o lugar onde eu crio meus próprios filmes”.
Feliz com a produção crescente de TV e cinema na América Latina, Campanella disse ainda que sonha em ver projetos que integrem o continente e tragam mais visibilidade a seus filmes e séries. “Está ocorrendo um movimento muito interessante nos nossos países e é uma pena que cada um fique por si, com suas pequenas quantidades de público, que não possamos compartilhar mais atores, e que não tenhamos plataformas comuns nem um grande bloco, que é a grande vantagem dos norte-americanos. Eles têm um público de 325 milhões de pessoas, então podem criar projetos maiores”.
"Colony" vai ao ar às segundas, às 23h30, no TNT.
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