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Corretor das estrelas de Hollywood coleciona processos por barulho

O corretor de imóveis de Hollywood Danny Fitzgerald - Apu Gomes/UOL - Apu Gomes/UOL
O corretor de imóveis Danny Fitzgerald
Imagem: Apu Gomes/UOL

James Cimino

Colaboração para o UOL, em Los Angeles

22/01/2016 08h00

“Os vizinhos ficaram bravos e a promotoria da cidade abriu várias ações contra mim. Estamos mais cuidadosos agora. Na verdade nós tentamos não dar mais festas aqui. Preferimos alugar para temporadas de luxo.”

Foi com esta cautela e com seu típico tom de negociante que Danny Fitzgerald — um corretor de imóveis de Los Angeles que aluga mansões em Hollywood Hills para quem aprecia um “after hours” e, claro, tenha bastante dinheiro — recebeu a reportagem do UOL dois dias antes do Natal.

Ele ficou famoso por suas tretas com a vizinhança em uma área próxima ao reservatório de água de Hollywood, onde outros ricos da indústria do entretenimento vivem.

Recentemente, em entrevista à revista “The Hollywood Reporter”, seu tom era outro. Gritava da sua sacada para quem quisesse ouvir que os vizinhos incomodados deveriam comprar suas quatro mansões geminadas onde Justin Bieber, a banda The Weeknd, o jogador Jerome Boateng e vários outros astros da música costumavam dar festas de arromba. “Elas [as casas] dão muito lucro, viu? Cuzões!”

Em uma festa, aquela promovida por Justin Bieber, as ruas estreitas da região ficaram entupidas de carros, gente bêbada, vomitando e urinando na rua, e jogando garrafas nos quintais alheios. Eram, segundo ele, fãs que tinham descoberto o local da festa após postagens de Bieber e de seus convidados no Instagram. Agora, disse ele ao UOL, só aceita grupos de no máximo 20 pessoas.

Não foram só as festas o problema. As casas da Weidlake Drive também foram palco de alguns realities shows. Candidatos do “American Idol” e do “X Factor” se hospedavam ali. Também rolou ali o “Playboy Swing”, que resultou em uma denúncia de atentado ao pudor, pois um dos casais participantes achou que era legal transar em uma das sacadas do complexo.

Embora diga que não sabia o que aconteceria ali, fala, com um sorrisinho de canto de boca, que todo esse escândalo ajudou a promover o “American Idol”. “Houve uma grande polêmica em torno do fato de os garotos do ‘American Idol’ estarem dormindo nas mesmas camas usadas pelo pessoal do ‘Playboy Swing’. Então, na temporada depois do escândalo, o ‘Idol’ teve mais gente assistindo ao programa.”

Leão para tirar selfies

Em outra das notórias festas ocorridas, foi apreendido um leão sem licença que um de seus inquilinos resolveu trazer para seus convidados tirarem selfies. “Eu nem sabia que precisava de licença. Achei ‘cool’!”, disse Fitzgerald, bancando o rei do camarote.

 

Quem trouxe o leão foi um inquilino constante, a quem, segundo ele, a vizinhança também odeia. Trata-se de Bastien Yotta, um empresário alemão do ramo dos cosméticos que enfureceu os moradores ao colocar na porta de sua garagem uma foto sua, sentado em uma espécie de trono, ladeado por sua mulher, Maria, uma típica loira siliconada, e seu cão golden retriever. Yotta também apresenta um reality na Alemanha.

O corretor diz que os vizinhos que reclamam dele e seus inquilinos são classistas e racistas. Que uma vez, durante uma festa promovida pelo cantor Sean Kingston, chamaram a polícia às 7 da noite — seu recorde de reclamações foi 92 em uma noite. Sua explicação à “Hollywood Reporter” foi a de que os vizinhos não querem negros por perto nem gente como ele.

O que eu ganho com isso?

Por “gente como ele” entenda-se “novo rico” — ou como se diz no Brasil, “emergente”. Danny Fitzgerald foi criado no Vale [San Fernando Valley, região que as patricinhas de Beverly Hills, do filme e da vida real, jamais aprovariam]. A área hoje é como o Tatuapé, na Zona Leste de São Paulo. Já foi mais pobre, mas tem regiões muito ricas. E isso graças aos olhos empreendedores de gente como ele.

O corretor contou à reportagem que começou a ganhar a vida aos 11, como jardineiro dos quintais de seus vizinhos. Juntou algum dinheiro e comprou uma libra de maconha, que custou US$ 100 e rendeu US$ 160. Do dinheiro que ganhou com o negócio, passou a investir na fabricação de roupas. Até que comprou sua primeira casa por US$ 65 mil, em Granada Hills. Como o quintal era grande, construiu mais uma nos fundos. Construía por US$ 25 mil e vendia por US$ 200 mil.

Aos 21 anos já tinha acumulado US$ 2,5 milhões. Aí começou a construir em áreas em expansão como Sherman Oaks, depois foi para as praias de Marina Del Rey e Malibu até que chegou a Beverly e Hollywood Hills. Hoje, diz ele, acumula cerca de US$ 100 milhões.

Inclusive, para dar entrevista, teve de ser convencido de que isso seria bom para seus negócios. Para tanto, a reportagem disse que não seria improvável que brasileiros endinheirados, que dão festas de aniversário em Nova York e chás-de-bebê em Miami, mesmo em tempos de crise, poderiam muito bem querer passar uma “temporada de luxo” em uma de suas mansões de Hollywood, equipadas com academias de ginástica, cinema particular, piscina, jacuzzi, churrasqueira, sauna, closets gigantes e até cinema particular (uma de suas assinaturas).

O preço de uma brincadeira destas, por um mês, no verão, é de US$ 100 mil, para a casa maior. As quatro casas juntas têm mais de 4.250 m2, 37 quartos, 47 banheiros e valem US$ 50 milhões.

E falando em ganhos, o corretor, que vendeu a atual casa da atriz Eva Longoria, virou tema de dois realities shows que, segundo ele, o estão ajudando a se acertar com os vizinhos. “Um deles se chama ‘American Jury’ e nele as pessoas votam se eu ou se meus vizinhos estamos com a razão. Quem ganhar leva US$ 100 mil. São 22 milhões de espectadores. Espero que eu ganhe. No fim das contas, esses caras só me ajudam sendo cuzões.”