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Com foco nos fãs, novo "Arquivo X" tem Mulder, Scully e efeitos especiais

James Cimino

Colaboração para o UOL, em Nova York

25/01/2016 07h00

Em 1993, foi lançada uma série de ficção científica que seria cultuada por quase uma década inteira. “Arquivo X” contava a história do agente do FBI Fox Mulder (David Duchovny), cuja irmã teria sido abduzida quando ambos ainda eram crianças. Ao lado da médica Dana Scully, uma cética por quem ele se apaixona durante o curso do programa, Mulder passa as nove temporadas obcecado com a ideia de provar que sua teoria é, na verdade, um fato.

As limitações de orçamento e os ainda não tão avançados efeitos especiais faziam com que a série tivesse uma aura “noir”, obscura, sombria, em que o espectador o tempo todo alterna entre a certeza e a dúvida que envolve todo relato de vida alienígena e eventos paranormais. “Eu quero acreditar” (“I want to believe”) era seu lema.

Quatorze anos depois de seu fim, “Arquivo X” volta nesta terça-feira (26), à 0h, pela Fox, podendo usufruir de uma chamada “idade do ouro” da TV que, segundo seu criador, o roteirista Chris Carter, astros, diretores e produtores de cinema investem pesado em todo o tipo de série: com ou sem efeitos especiais, variando entre das densamente dramáticas e as de mais puro entretenimento e ação.

Por isso, já em seu primeiro episódio, a série faz algo que, em seus primórdios, era evento raro, com imagens nem sempre claras, que serviam mais para sugestionar a audiência que para desvendar qualquer dúvida: mostra de cara dois tipos de nave espacial e um alienígena.

Durante entrevista sobre o relançamento do programa, a reportagem do UOL perguntou a Carter e a Duchovny o por quê desta mudança. Ambos responderam que o que se vê não é necessariamente real.

Arquivo X - AKM-GSI /Divulgação - AKM-GSI /Divulgação
Os agentes Scully e Mulder nos bastidores do novo "Arquivo X" e em imagem antiga da série
Imagem: AKM-GSI /Divulgação
“Você não está vendo a verdade. Você está vendo a versão de alguém sobre a verdade. Agora a nave, o alienígena, isso tudo é em função da tecnologia de que dispomos hoje. Também temos mais dinheiro do que tínhamos quando começamos o programa. Na época eu e o Chris [Carter] conversamos muito sobre o roteiro e ele sempre dizia: ‘não mostre muito’. Acho que os tempos mudaram. As pessoas estão acostumadas a ver mais”, disse Duchovny.

E Chris Carter ressaltou que “quando você estiver vendo algo, você estará, na verdade, mostrando a história que alguém contou” e que, nos próximos cinco episódios desta que é a décima temporada da história, estarão preservando a atmosfera psicológica do programa.

Paranoia
Outra coisa que mudou no novo roteiro é a mistura de conspiração política com ficção científica. Carter afirma que viu a oportunidade de explorar esse tema devido a algo que chama “momento ideal”, em que séries como “Mr. Robot”, também apresentada nesta Comic Con, discutem o poder de manipulação das grandes corporações e o cyber-ativisimo.

“Achamos que voltar neste momento é muito propício. As pessoas estão em paranoia e falando de teorias da conspiração novamente. O governo admitiu que nos espiona”, completa o roteirista, que afirma que, no novo roteiro, não haverá nenhum desdobramento de histórias ocorridas nas nove temporadas anteriores. “Não teremos sequências.”

Fã ‘hardcore’ x calouro
Com apenas seis novos episódios, a décima temporada foi criada pelo mesmo motivo que “Supernatural” voltou a ser filmada após seu cancelamento: Público fiel. E é neles que os produtores estão de olho.

“A razão pela qual estamos fazendo esse programa é o fã ‘hardcore’. Eles nos transformaram em um sucesso e esta série é para eles. Se conseguirmos atrair uma audiência jovem ao mesmo tempo, isso seria fantástico, afinal, a primeira cena faz um retrospecto, mas definitivamente a nova temporada é para quem assistia antes.”

Mesmo assim, nada impede que um fã novato possa começar a ver o programa a partir deste momento. Quem afirma isso é o ator Mitch Pileggi, que também retorna no mesmo papel de antes: o agente Walter Skinner.

“Eu tenho uma história sobre esse lance de agradar esta ou aquela geração. Tenho uma filha e, quando ela estava com 13 anos, isso uns quatro anos atrás, ela trouxe uns amigos aqui. E eles estavam todos muito quietos. E eu achei estranho. Aí eles foram embora e ela veio falar comigo. Perguntei se eles tinha me achado estranho ou chato. Aí ela disse que eles, assim que saíram de casa, começaram a surtar: `Você não disse que o seu pai era o Skinner!`”

Romance e choro
Outro tema que será tratado na reestreia da série é o romance entre Mulder e Scully. Carter diz que a premissa por trás disso é colocar à prova a ideia da médica, quando o programa se encerrou, de que seu romance era impossível. “Cada um deles seguiu seu caminho, mas agora eles estão juntos novamente”, disse o autor, que também afirmou que haverá “mais pistas no decorrer dos episódios” sobre o filho que Mulder e Scully tiveram.

Durante a conversa com jornalistas, Duchovny, com sua já característica falta de paciência, falou também sobre ter dito que chorou ao ler o script.
“Foi nostalgia. Não é que eu tenha chorado. Eu apenas vi ali, novamente, Mulder e Scully e, sabe quando você encontra uma carta de amor que você escreveu aos 15 anos? Eu gostaria de nunca ter dito isso porque, agora, toda vez me fazem essa pergunta. Não foi por algo que estivesse escrito, então, diga para seus leitores não levarem tão ao pé da letra. Eu não chorei, apenas me emocionei”, disse o ator, que, por fim, resumiu seu personagem nesta fase da seguinte maneira:

“Vocês  viram como começou: ele está sozinho, não corta o cabelo, não se barbeia, não trabalha mais no FBI, nem para ninguém, e usa o Uber. Os tempos mudaram…”