Sem as gêmeas Olsen, "Fuller House" falha ao tentar reviver "Três É Demais"
Na onda de “revivals” na TV — que inclui “Heroes” e “Arquivo X”—, Netflix lançou nesta sexta-feira (25) “Fuller House”, uma continuação a comédia familiar “Três É Demais” ("Full" House, no original em inglês), que foi ao ar de 1987 a 1995.
No entanto, uma parte importante do elenco não está participando do programa, as gêmeas Ashley e Mary-Kate Olsen, que na versão original se revezavam no papel da bebê Michelle. O papel as fez famosas no mundo todo, mas elas se recusaram a participar do programa.
Mesmo assim, Jeff Franklin, o produtor da série original e da atual, já disse em entrevistas que isso não vai impedir que Michelle apareça, na sua versão mais jovem, e que ele ainda espera que as Olsen mudem de ideia e façam pelo menos uma visita à casa onde “foram criadas”.
Mas quem ficou? No primeiro episódio, pelo menos, todos os outros. A história, porém, vai ficar centrada nas irmãs D.J. (Candace Cameron-Bure) e Stephanie (Jodie Sweetin), além da melhor amiga Kimmy Gibler (Andrea Barber), que no original eram crianças e, posteriormente, adolescentes.
A primeira acaba de ficar viúva, com três filhos para criar, e termina por precisar da ajuda da irmã, hoje uma DJ famosa. Kimmy, por sua vez, é mãe solteira de uma adolescente e continua sem noção — e portanto é a personagem mais cômica de todas. Mas, em solidariedade à amiga, e também porque aparentemente não tem para onde ir, decide realizar o sonho de morar na casa onde sempre viveu enfiada.
Como o nome da série diz, a casa está mais cheia, mas também não poderia estar entupida de gente. Portanto os personagens masculinos de Bob Saget (Danny Tanner, pai das meninas), John Stamos (tio Jesse) e Dave Coulier (Joey) estão, no primeiro episódio, de mudança para outras cidades. De vez em quando, no entanto, aparecem para reviver cenas idênticas tiradas de “Três É Demais”, assim como fazer releituras contemporâneas das situações familiares.
Em um dos episódios, por exemplo, Joey fica de babá das quatro crianças enquanto as irmãs e a amiga vão para uma balada. Acontece que os três mais velhos não interagem entre si e ficam apenas em seus telefones celulares e tablets. Ele decide, então, trazer um arsenal de pistolas de tinta e faz as crianças aprontarem a maior bagunça.
“Encontrei três crianças obcecadas pelos seus brinquedos eletrônicos e estou deixando três companheiros que tiveram uma noite superdivertida, bem no velho estilo de violência familiar inofensiva”, diz o personagem.
Em conversa com o UOL em janeiro deste ano, as três atrizes falaram que a série vai mostrar como a criação dos filhos mudou em alguns aspectos e como continua a mesma em outros.
“É um programa moderno e vamos tratar disso como você mesmo mencionou, em termos de tecnologia. Naquela época o pai dizia: OK, vou limitar seu tempo de TV. Agora é o tempo de [uso de] iPads e telefones celulares no lugar. São pequenas mudanças, mas o temas principais, como criar crianças e ajudar umas às outras, continuam os mesmos”, diz Andrea Barber.
Assistindo aos três primeiros episódios, no entanto, a impressão que se tem é a de que algo ficou datado. Especialmente quando se pensa nas comédias que tratam de relações familiares hoje em dia como a premiadíssima “Modern Family”, que não apenas mostra uma família nada tradicional (e ao mesmo tempo totalmente adequada ao mundo de hoje), mas cujo formato imita a linguagem dos reality shows.
“Fuller House” quer ser tão nostálgica que até a fotografia lembra as séries dos anos 1990. Em termos de saudosismo pode até funcionar, mas o ritmo, o timing e as piadas inocentes às vezes até demais não empolgam.
Transportar a estrutura dramática de “Três É Demais” para os dias atuais sem mostrar uma evolução psicológica mais profunda de suas personagens é subestimar um espectador que, na mesma Netflix, tem acesso a produções muito mais sofisticadas e ousadas. E não vai ser um tablet na mão de uma criança que vai mudar isso.
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