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Cidade de "Êta Mundo Bom" reproduz SP e é comparada a Hollywood pelo elenco

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

01/03/2016 07h00

Um bondinho estacionado, um filme de Cary Grant em cartaz e alguns cartazes anunciando "biscoutos" e "caramellos" dão a dica: entrar na cidade cenográfica de "Êta Mundo Bom", construída no Projac, no Rio, é um deslocamento no tempo e no espaço. Idealizado pelos cenógrafos José Claudio Ferreira e Eliane Heringer, o espaço de 11 mil metros quadrados reproduz o estilo das construções da cidade de São Paulo na década de 40 com o máximo de fidelidade - e com o glamour que uma trama de época exige.

Para isso, os profissionais contaram com relatos pessoais, busca na internet, muitas fotografias e produções artísticas da época, como o longa "Candinho", com Mazzaroppi, que serviu de inspiração para a novela das seis.

"Eu, que sou paulistano, reconheço muito de São Paulo aqui", conta Eriberto Leão, que interpreta o vilão Ernesto na trama de Walcyr Carrasco. Ao descrever o ambiente, ele menciona o fictício Cine Caldin e imediatamente se lembra, com certa nostalgia, do Cine São João, o primeiro que frequentou na vida. "Ator junta esses elementos técnicos, como o figurino, o cenário, a luz, com o imaginário e vira uma criança", afirma.

O UOL visitou parte da cidade cenográfica na última quinta-feira (25), justamente quando uma chuva fina interrompeu as gravações. O imprevisto, que geralmente causa intervalos forçados, deixou a produção com duas cenas atrasadas, para serem feitas no dia seguinte. Quando São Pedro dava uma trégua, a equipe, de cerca de 80 pessoas, comandada pelo diretor Diego Morais, tentava manter o cronograma: neste dia, o expediente começou às 14h30 e terminou às 20h40.

"Quando chove muito atrapalha, mas quando é uma chuviscada, é só esperar um pouquinho", explica JP Rufino, 13, com a experiência de quem está em sua terceira novela. Mas, para o intérprete de Pirulito, são outras condições meteorológicas que o fazem preferir cenas no ambiente fechado dos estúdios às sequências ao ar livre.

"Gosto de gravar nos dois lugares, mas quando estiver muito calor, você vai querer gravar onde? No estúdio, né?", brinca.

Os cenógrafos José Claudio Ferreira e Eliane Heringer, de "Êta Mundo Bom" - Reprodução/Inácio Moraes/Gshow - Reprodução/Inácio Moraes/Gshow
Os cenógrafos José Claudio Ferreira e Eliane Heringer, de "Êta Mundo Bom"
Imagem: Reprodução/Inácio Moraes/Gshow

Para reconstruir o centro da capital paulista, a equipe de cenografia também fez visitas à cidade. "É muito importante sentir o clima, ver os detalhes. Até os anos 20, São Paulo tinha um estilo mais colonial. A partir da década de 40, triplicou de tamanho, começou a ter prédios gigantes, arranha-céus. A revolução industrial veio como uma grande locomotiva. Nessa época que a cidade passou a ter prédios como o do Banespa, o edifício Martinelli. Reproduzir essa escala é difícil", conta Ferreira, que já trabalhou em histórias de época como "Alma Gêmea", "Chocolate com Pimenta" e Chiquinha Gonzaga".

Ambientes como a confeitaria, a loja de tecidos de Severo (Tarcísio Filho) e o bar Freguês Feliz contam com interiores decorados e objetos cuidadosamente criados para a novela. Já espaços como o Taxi Dancing têm apenas a fachada e alguns detalhes da entrada construídos neste espaço.

"A cidade é incrível! Os detalhes são o que pegam a gente: os cartazes de aulas de piano, o anúncio de sabonete, o bondinho... Tudo ajuda a compor o personagem e colocar a gente nesse universo, para poder passar naturalidade para o pessoal em casa", resume Débora Nascimento, que vive a mocinha Filomena.

Hollywood em Jacarepaguá

Tanto capricho da equipe de arte encantou Mariana Armellini, a Clarice da trama, desde o primeiro dia. "É impressionante, isso aqui é Hollywood! As coisas são realmente de época, o cinema é uma coisa louca. Fico passada, é São Paulo dos anos 40", conta a atriz.
 
Além do trecho da capital, a cidade cenográfica se divide ainda em duas outras grandes áreas: a fazenda e a área das mansões de Anastácia (Eliane Giardini) e do advogado Araújo (Flávio Tolezani), além da casa de Pancrácio (Marco Nanini). A sede da Pedro II, onde vive a família de Cunegundes (Elizabeth Savalla) e Quinzinho (Ary Fontoura), aliás, deu trabalho aos cenógrafos, que plantaram árvores, inseriram uma casa e criaram um estábulo no local. Os primeiros estudos para a construção desse universo começaram em maio, baseados apenas na sinopse, já que a produção da novela começou antes mesmo de Walcyr Carrasco, envolvido com "Verdades Secretas", entregar os primeiros capítulos. 
 
Foi no ambiente da fazenda que Sergio Guizé gravou as cenas de Candinho que foram ao ar no primeiro capítulo. Mas é mesmo na cidade que ele se sente à vontade. "Eu só gravo aqui. A praça é a minha casa", afirma.