Cadê o romance? "Love" questiona amor ideal dos "feitos um para o outro"
Não se espante se você começar a assistir "Love", série que chegou ao Netflix no último dia 19 de fevereiro, esperando dar umas boas risadas e terminar a maratona com uma certa depressão. Narrada em dez episódios, a história começa prometendo juntar um casal infalível já visto em outras mil comédias românticas: o nerd perdedor só que bonzinho e a garota problemática e excêntrica, porém linda. Mas as coisas não continuam tão bem assim.
Criada por Judd Apatow, nome responsável por filmes como "O Virgem de 40 anos" e "Ligeiramente Grávidos", "Love" conta a história de Mickey (Gillian Jacobs) e Gus (Paul Rust). Ela, uma descolada produtora de rádio, com uma coleção de namorados babacas no passado. Ele, um tipo bem sem graça que ganha a vida dando aulas particulares para estrelas mirins de séries de TV nos estúdios de Hollywood. Recém-saídos de namoros traumáticos, os dois têm apenas uma coisa em comum: carência. E isso basta para que ambos enxerguem um no outro uma oportunidade de redenção amorosa na vida.
Com a premissa da busca pelo amor estabelecida, "Love" vai episódio a episódio desconstruindo os estereótipos dos protagonistas. De uma maneira desconfortante, a série escancara o quão destruídos sentimentalmente estão Gus e Mickey, evidenciando um dos males dos relacionamentos do século 21: a idealização do outro.
Logo no primeiro encontro, Gus deixa de ser o príncipe nerd agradável e se mostra um machista benevolente, aquele rapaz que disfarça o desprezo pela mulher com ações tidas como cavalheirismo. Apesar de Mickey dizer que não vê graça em truques de magia, o passeio do casal termina em uma espécie de cassino de mágicos. Chateado com a falta de empolgação da garota, ele reage com um piti. "Você não pode esperar que eu tenha a reação que você quer, Gus", ela responde, estabelecendo a atmosfera "climão" que só vai piorando ao longo da série.
Bem mais carismática que seu pretendente, Mickey é um desastre ambulante. Fuma um baseado antes de declarar em uma reunião do AA (Alcoólatras Anônimos) que está sóbria há dias, frequenta o DASA (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos), mas transa com o chefe escroto para não ser demitida. Desprovida de qualquer amor próprio, ela vê em Gus o "cara ideal" e desenvolve uma obsessão assustadora, chegando a armar um plano para surpreendê-lo no trabalho. Mesmo depois de ter seguidas mensagens de celular ignoradas, ela acredita num final feliz e vai confrontá-lo. "Você é o pior tipo de malvado, porque você finge que é bonzinho", acusa Mickey. "Você é louca", responde Gus. E seria ótimo se "Love" terminasse assim, mas não.
A série é pontuada por boas cenas de comédia e alguns divertidos momentos nonsense, como a sequência em que Gus e Mickey passeiam chapados por Los Angeles atirando Blu-Rays do carro enquanto fazem comentários raivosos sobre os filmes. Há ainda uma boa dose de acidez - um personagem alerta Gus sobre pedofilia, pedindo que ele não aja como Bill Cosby – e piadas internas sobre Hollywood: "Nunca namore uma atriz. Elas são muito carentes. Ano passado fiz um filme com a Jennifer Lawrence e ela andava para cima e para baixo com um ursinho de pelúcia".
Mas não se engane com as risadas, "Love" é de longe a comédia mais obscura do Netflix, e olha que o serviço de streaming tem em seu catálogo de produções originais "Grace e Frankie","Master of None" e "Orange is The New Black".
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