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"As mulheres da minha família não eram Filomenas", diz Débora Nascimento

Débora Nascimento como Filomena de "Êta Mundo Bom" - João Miguel Júnior/TV Globo
Débora Nascimento como Filomena de "Êta Mundo Bom" Imagem: João Miguel Júnior/TV Globo

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

09/03/2016 15h17

Como toda boa mocinha, Filomena, vivida por Débora Nascimento em "Êta Mundo Bom", sofre. Separada de seu grande amor, enganada por um malandro aproveitador e julgada por virar uma táxi girl na cidade grande, a protagonista da novela de Walcyr Carrasco é o retrato de uma época que as gerações mais jovens podem até estranhar. E a atriz comemora o fato de a personagem mexer tanto com o público.

"É impressionante. Muitos senhores me abordam. As mulheres mais velhas também, as senhoras se enxergam nela, dizem que era exatamente assim. Acho que mexe mais com quem tem essa consciência da década", diz ela, referindo-se aos anos 40, retratados na trama.

Depois de um tempo na capital paulista, a moça do interior começa a mudar um pouco de postura - e não apenas de visual. Mas, ainda assim, a passos tímidos, dentro do que a sociedade permitia.

"Perder a virgindade e não casar era um absurdo. A mulher sofria o julgamento da sociedade e ela mesmo sofria com situação. Era um peso muito grande, a mulher era tratada como sem salvação, como perdida. Ela sente vergonha de si mesma, e exatamente por isso não fica com Candinho (Sergio Guizé). Vivemos numa era de internet e tudo mais, mas não podemos perder a referência do que realmente era", diz ela, ressaltando que desigualdades entre homens e mulheres continuam até hoje. 

"É um absurdo ainda termos que lutar por salários iguais. Os direitos têm que ser iguais e ponto", afirma.

Livros e filmes que retratam a época serviram de referência para a atriz, que não encontrou tantos exemplos de mulheres submissas dentro de casa. "As mulheres da minha família sofreram muito, mas eram fortes, não eram 'Filomenas'. Minha avó sofreu horrores mas lavava roupa para fora. Minha mãe também sempre teve a cabeça erguida. Mas sempre foram extremamente apaixonadas", conta.

Protagonista sem pressão

Vivendo sua primeira protagonista, Débora diz que não sente o peso da função - pelo contrário, gosta de ter um desafio diferente a cada semana. "O trabalho é o mesmo, só a quantidade de cenas que aumenta. Tem que estudar mais. Fora isso, não sinto essa pressão de errar em cena", conta.

Feliz com os cabelos curtos, visual que não exibia há pelo menos 12 anos, a atriz conta que gostou do que viu no espelho. "Estou adorando! Eu me surpreendi de como deu outro estilo para a Filomena, tanto ele arrumado quanto ele cacheado", conta ela, que só não faria uma mudança por uma personagem: tirar a sobrancelha com pinça. "Se fosse para raspar, eu raspava. Fico careca, gorda, magra... Mas já tive problema na época de modelo, o maquiador tirava errado... E gosto dela natural", explica.

Já as unhas postiças deram mais trabalho para a intérprete se adaptar. "Isso é uma questão (risos), ainda estou me acostumando. Já machuquei o José (Loreto, ator e marido de Débora), atrapalha para passar maquiagem, usar o telefone... Mas quis ter essa postura da época, interfere até no meu movimento em cena", diz.