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Intercambistas viram figurantes de Game of Thrones e contam sufocos do set

O músico e intercambista russo Aleksei Firsov: "É um desgaste mental e físico" - Arquivo pessoal
O músico e intercambista russo Aleksei Firsov: "É um desgaste mental e físico" Imagem: Arquivo pessoal

Amanda Serra

Colaboração para o UOL, em Dublin

22/03/2016 07h30

Cenários medievais, montanhas, neve, armaduras, batalhas, dragões e castelos. O conjunto apresentado na tela de uma TV ou de um computador muitas vezes faz com que a gente queira se transportar e vivenciar aquilo que assistamos. Mas será que seria tão bom assim? Em entrevista ao UOL, figurantes de “Game of Thrones“ e “Vikings“ contam como é enfrentar o frio, o vento e a chuva, sem roupas adequadas, e ficar à disposição dos diretores e de suas ideias.

Formado em engenharia de produção e fã de GOT, o paulistano Anderson Barbosa, 26 anos, embarcou para a Irlanda, já de olho em uma oportunidade na série que possui cenário fixo em Belfast, na Irlanda do Norte. Assim que chegou, ele se inscreveu no site da produção do programa e em poucos dias foi chamado para realizar um teste para sexta temporada, que estreia dia 24 de abril.

“A gente fica em casa assistindo e se perguntando: ‘Como eles conseguem usar esse tipo de roupa com esse frio?' Tive a experiência da forma mais real possível. O frio foi horrível, mas a sensação [de estar no set] é muito boa”, conta o intercambista que teve que filmar de madrugada com os termômetros marcando – 2°C, vestindo apenas uma regata de couro. "Chegou uma hora que eu não conseguia nem sentir o dedinho do meu pé".

Há cerca de dois anos, o músico e intercambista russo Aleksei Firsov, 30, vem trabalhando como figurante de GOT e “Vikings”, e ele também concorda com o colega de trabalho, a vida dentro do estúdio não é tão glamorosa como alguns pensam. Além das exaustivas horas de gravação, que costumam acontecer durante a madrugada ou muito cedo, também tem a questão do mau tempo, surpreendente até mesmo para ele acostumado com os termômetros marcando – 20° graus.

“Suas pernas doem, é um desgaste mental e físico, muitas vezes você dorme poucas horas. Seu corpo não consegue entender o que acontece com ele. Tenho uma lembrança terrível de uma gravação. Estávamos filmando na beira de um lago -- tanto os figurantes como os atores --, o dia estava nublado e ventava muito, todos já estavam congelando, quando o diretor inventou que queria uma chuva. Pegaram a água do lago e jogaram em cima da gente. Tremendo e com o corpo azul já, ainda tive que continuar filmando durante seis horas”, conta Aleksei, que ganhou uma sinusite após esse episódio.

O figurante Anderson caracterizado de soldado de Ynkai no set de gravação da série "Game of Thrones" - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Anderson Barbosa caracterizado de soldado de Yunkai no set de "Game of Thrones"
Imagem: Arquivo pessoal
 E vale a pena?
A interação com os atores principais acontece? O cachê é bom? Os figurantes explicam que eles ficam separados do elenco principal e só se encontram na hora do “valendo”. Sem roteiros, os atores de apoio são orientados pela produção e pela direção sobre o que devem fazer, mas detalhes da gravação não são divulgados.

“A primeira vez que eu pisei no set de gravação fiquei emocionado, olhava ao redor com a boca aberta, era um caos organizado. Duzentas pessoas correndo em volta, mas cada uma sabendo o que deveria fazer. Os primeiros dias foram difíceis porque o meu inglês era terrível e não conseguia entender exatamente o que o diretor queria”, conta Aleksei, que adotou o visual de guerreiro para o seu dia a dia. “Vim para Irlanda para fazer meu exército ruivo crescer, em breve dominaremos o mundo”, brinca ele.

Como o set de GOT está localizado dentro do Reino Unido, o pagamento do cachê é feito em libras, o que torna a experiência ainda mais interessante. O cachê por participação é de 100 libras (cerca de R$ 558), mas existem alguns bônus. Caso o figurante precise mudar algo em seu visual, como foi o caso do brasileiro que precisou aparar a barba, ele recebeu uma gratificação de 15 libras. Quando as gravações são mais cansativas e envolvem chuva e frio, os trabalhadores também costumam receber um extra de 20 libras.