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Após ser demitido da Globo, Lauro César Muniz diz que não volta à Record

O autor Lauro César Muniz, responsável por sucessos como "Salvador da Pátria"  - Luisa Romano/UOL
O autor Lauro César Muniz, responsável por sucessos como "Salvador da Pátria" Imagem: Luisa Romano/UOL

Janaína Nunes

Colaboração para o UOL, em São Paulo

30/03/2016 19h02

O que seria uma volta triunfal para a Globo após dez anos de exílio (grande parte dele na Record), se tornou uma surpresa lamentável para o autor Lauro César Muniz, 78 anos. Em setembro, ele foi convidado por um diretor artístico para integrar novamente o time de autores da emissora. Seis meses depois, o convite naufragou.

Apesar de tudo, ele disse ao UOL ter considerado justa a decisão da emissora carioca e também afirmou que, mesmo após a confusão com sua antiga casa, não voltaria para a Record.

“Fiquei surpreso porque a iniciativa de voltar à TV Globo não foi minha, mas de um diretor artístico que me convidou. Tudo parecia absolutamente certo. No entanto, entendi o ponto de vista de quem me deu a notícia de que a minha volta não seria possível agora em vista da crise político-econômica do país. Houve uma decisão geral sobre contratações. E eu não seria exceção. Achei justa a explicação”, esclarece.

A notícia ruim foi dada pelo autor e diretor de dramaturgia da emissora, Silvio de Abreu, de acordo com o colunista Flávio Ricco. Estava tudo tão certo com a emissora que Muniz já havia começado a escrever o que lhe fora encomendado: uma novela das 21h. “Escrevi seis capítulos e uma sinopse prevendo a história completa. É uma boa novela”, revela.

Autor de produções de sucesso como as novelas “O Casarão” (1976), “Roda de Fogo (1986), “O Salvador da Pátria” (1989) e a séries “Chiquinha Gonzaga” (1999) e “Aquarela do Brasil” (2000), Lauro é conhecido por buscar nos seus personagens uma relação com a história do país. Sassa Mutema, protagonista “Salvador”, é um bom exemplo disso. 

Ele também tem um lado investigativo que mexe com as entranhas do poder e flerta muito com estilo policial. Na Record, fez novelas como “Poder Paralelo” (2006), “Cidadão Brasileiro” (2009) e “Máscaras” (2012).

Qual será seu futuro na TV agora? Uma coisa é certa: não será na emissora do bispo Edir Macedo. “Não foi ruim trabalhar na Record. Fui muito bem tratado lá. O problema é que não havia naqueles anos em que trabalhei lá alguém na diretoria que pudesse entender a importância de alguns temas. Por exemplo, tratei do tema do Nióbio [um dos metais mais resistentes a temperaturas extremas, usado na fabricação de foguetes] e, embora tenha alertado, o jornalismo da ‘casa’ não se interessou”.

Lauro abordou o assunto em “Máscaras” e, segundo ele, há um mistério em torno deste elemento cuja liga metálica não era protegida. A maior parte das reservas conhecidas do Nióbio no mundo (aproximadamente 85%) está em território brasileiro.

“Nosso país deixava escapar de forma ilegal, contrabandeada, esse minério. Até hoje a questão existe, mas há grupos trabalhando junto ao governo para proteção dessa riqueza mineral. A Record não entendeu isso, como não entendeu a importância de tantos outros temas. Só tudo isso”, finalizou.

Enquanto não fecha com uma emissora, Lauro realiza outros trabalhos. Ele prestou serviços para a Televisão Nacional do Chile (a TVN). “Foi um workshop sobre a estruturação dos primeiros capítulos de uma novela que será produzida no segundo semestre. A trama é de uma autora chilena muito talentosa, Barbara Zemelman. A novela é muito divertida, engraçada. Foi um trabalho de duas semanas”, contou.