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"Não abro mão da democracia", diz Tabet após boicote ao Porta dos Fundos

Gregório Duvivier contracena com Fábio Porchat no vídeo "Delação", do Porta dos Fundos - Reprodução/YouTube
Gregório Duvivier contracena com Fábio Porchat no vídeo "Delação", do Porta dos Fundos Imagem: Reprodução/YouTube

Do UOL, no Rio

04/04/2016 20h29

O vídeo "Delação" lançado no canal do Youtube do "Porta dos Fundos" no último sábado (2) causou revolta em internautas contrários ao governo atual. Algumas pessoas sugeriram um boicote ao canal do humor que vem perdendo o número de inscritos, que passam de 11 milhões, desde então.

O vídeo mostra um agente da Polícia Federal, interpretado por Gregório Duvivier - que se posiciona politicamente contra o governo Dilma - fazendo a delação de um político corrupto, vivido por Fábio Porchat. O agente pouco se importa com as denúncias contra políticos do PSDB e só se empolga quando ele cita que durante um jantar em Paris comeram arroz de lula.

"Pode emitir o mandado de prisão. Avisa lá pro juiz que a gente pegou o Lula", avisa o policial, que no fim do vídeo incentiva o corrupto a falar que precisa "Dilma panela" para cozinhar e avisa que pode emitir um outro mandado: "Está presa a comparsa dele também".

Antonio Tabet, um dos criadores do Porta dos Fundos, usou sua página do Facebook para se posicionar em relação ao boicote que o grupo vem sofrendo.

"Pessoalmente, lamento tudo neste episódio. Absolutamente tudo. Quem me conhece sabe qual é a minha posição em relação ao atual governo e corruptos em geral. Minha posição, aliás, é compartilhada pela maioria dos meus colegas. Acho que a Polícia Federal faz um trabalho bastante competente, sou #‎TeamMoro e, nem por isso, acho que Cunha, Temer, Feliciano e outros políticos são menos piores que os que hoje gostaria de ver derrubados. Sou dos que acha que 'justiçamento seletivo' é querer poupar os bandidos de agora propondo uma fila para punir primeiro os bandidos desde a era Pedro Álvares Cabral. Contudo, não abro mão da democracia e da liberdade. Acredito que todos têm o direito de se expressar. Inclusive aqueles que discordo e principalmente nos locais onde trabalho. Seja no Kibe Loco, seja no Flamengo, seja na Porta dos Fundos. Em todos esses lugares, como em todo o país, há opositores como eu, defensores como o Gregorio, isentões e loucos. Loucos que normalmente (ou não) acham que os loucos somos nós.", disse.

Tabet explicou que cada membro do Porta tem uma posição política e cabe ao outro respeitá-la sem prejuízo da amizade entre eles.

"Isso é civilidade. E nós, como grupo, refletimos essa pluralidade no nosso trabalho quando existe mais de um lado da moeda, o que é saudável num país onde política é futebol, futebol é religião e religião é política. Evidente que jamais tacaríamos pedras em minorias oprimidas ou em injustiçados históricos. Sempre atiramos para cima. E em tempos quando cada um vê a parte de cima de um jeito, acabamos atirando em mais de uma direção. O que mais me entristece nessa história é que vídeos como os dois 'Reunião de Emergência' provam que não somos uma empresa com um pensamento singular. Diferente de quem acha coerente promover boicote cultural contra um grupo heterogêneo. Essa hipocrisia que busca nos desprestigiar, além de não ter sucesso no fim das contas, é tão idiota quanto o tal 'Dia sem Globo'.", opinou.

Por fim, o roteirista fez uma reflexão destacando que é importante respeitar as opiniões políticas de cada um, pois essas pessoas estão presentes em vários locais.

"Quer evitar coxinhas? Não saia do seu quarto. Quer evitar petralhas? Idem. Há pessoas dos dois lados aqui na Porta, na Globo, na Band, na sua novela favorita, no supermercado que você faz compras, no salão de beleza, na igreja que frequenta, na mesa do bar, no time pelo qual você torce e, se duvidar, até no quarto do lado. Esse revanchismo bobo só fomenta o ódio. Incentivar a censura ou a intolerância nada mais é que um recibo de que você pode ser tão fascista quanto os fascistas que critica. Sejam eles imperialistas americanos ou comunistas cubanos. Sem falar na ignorância de quem coloca a Lei Rounet no bolo sem saber que não cobramos cachê que cobraríamos em outros filmes, mas pagamos com justiça uma equipe com centenas de profissionais trabalhando no país da crise. Enfim, era isso que queria mostrar: meu apreço pela liberdade, pela democracia, pelo trabalho, pela justiça, pelo amor e pelo humor. Agora deixa eu ir que já são 12h30 e preciso finalizar meu roteiro zoando a deputada petista Maria do Rosário. Aquele que o Gregorio aprovou", concluiu.