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Morte de Jetro é nobre, diz Paulo Figueiredo sobre "Os Dez Mandamentos"

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

15/04/2016 07h00

Um último sacrifício em nome da família vai provocar a morte de Jetro (Paulo Figueiredo) em "Os Dez Mandamentos - Nova Temporada". No capítulo que vai ao ar nesta sexta-feira (15), o sacerdote e Adira (Rayana Carvalho) vão buscar água no oásis que encontram em sua travessia pelo deserto. Mas, quando a midianita, aflita pela falta de alimento para os filhos, cobiça o pão que um grupo de mercadores amorreus possui, é atacada por eles. Para protegê-la, Jetro intervém, mas é atingido por uma facada pelas costas.

"Foi emocionante para mim, para os colegas e me arrisco a dizer que será para o público. Jetro é um personagem que marca muito, é um homem de grande sabedoria, uma espécie de pai de Moisés (Guilherme Winter). Ele que o instruiu os primeiros passos dele nessa grande missão, na primeira temporada. Ele é assassinado defendendo a vida da filha, é uma coisa muito altruísta, muito nobre. E a cena dele agonizando enquanto a filha é sequestrada soldados é muito forte", afirma. 

A tristeza com a morte do personagem é minimizada pelo fato de não ser uma despedida definitiva da trama: Jetro vai aparecer na novela em cenas de flashback, que o ator ainda tem gravado. E, por aparecer mais jovem nas memórias de Betânia (vivida por Alessandra Trápada na infância), por exemplo, circulou nos bastidores com uma caracterização que o rejuvenescia, na contramão de muitos atores que precisam envelhecer para a história. O novo visual chamou a atenção dos colegas. 

"Mas está um rapaz! Pode até fazer Moisés", brincou Leonardo Vieira, que cruzou com o ator nos corredores no dia que o UOL acompanhou uma gravação no complexo de estúdios da produtora Casablanca, no Rio. Paulo, 76, entrou na brincadeira: "Fala para o Guilherme se cuidar!".

Embora goste de ser mais jovem temporariamente ("Pelo menos por alguns instantes a gente se engana"), Paulo explica que interpretar um homem mais novo lhe exige bem mais concentração. "Idade é atitude, e sua expressão corporal é sempre relacionada com a idade real. Tem sido um exercício fantástico. O Jetro velho tem dificuldade para andar, quando é jovem tem outra disposição, os movimentos são mais ágeis, ele está com as pilhas novas (risos). Tem que compor a postura, a voz, é um conjunto de coisas", compara. 

Jetro (Paulo Figueiredo) e Betânia criança (Alessandra Trápaga) em cena de flashback de "Os Dez Mandamentos - Nova Temporada" - André Durão/UOL - André Durão/UOL
Jetro (Paulo Figueiredo) e Betânia criança (Alessandra Trápaga) em cena de flashback de "Os Dez Mandamentos - Nova Temporada"
Imagem: André Durão/UOL

A caracterização, que inclui cabelos e barbas falsas incomodam ("Se eu comer espaguete, meia barba vai junto"), e demora cerca de duas horas para ficar pronta, mas o ator não reclama. Ao contrário, fala com entusiasmo do sucesso das tramas bíblicas da Record, nicho do qual participa desde "A História de Ester", em 2010.

"Não imaginava que teria uma receptividade desse tamanho, mas fiquei agradavelmente surpreso. As pessoas encontram a gente na rua e falam bem. A trama bíblica cumpre uma função que não é restrita à religião, é mais do que isso. A Bíblia é uma fonte inesgotável de histórias, de amor, de ódio, de preconceitos. Um povo tem preconceito contra o outro por causa da etnia, essas coisas existem hoje. E a novela fundamentalmente prega coisas boas. Considero o público um viajante que encontra um oásis", analisa ele, que também atuou em "Rei Davi" e "Milagres de Jesus".

Gravando sob o sol quente com um figurino pesado, Paulo também demonstrou a maior paciência para repetir algumas vezes a sequência em que Jetro e Betânia salvam um ninho de passarinhos caído de uma árvore. A atriz de 9 anos estava sempre a postos às orientações do diretor Hamsa Wood, mas quem deu trabalho foram os animais: os dois periquitos, quase sem penas de tão novos, não podiam ficar muito tempo sob o sol e teimavam em sair do ninho na hora do "gravando". Enquanto isso, as ovelhas teimavam em fugir do cercado e eram recuperadas pelo tratador Rodrigo Reis e entretidas a base de feno e ração. 

"Tem ator que fica com pé atrás, acha que é trabalhoso. Mas eu adoro criança, elas já nascem atores. Vejo minha netinha de 5 anos, ela pega a boneca, dá papinha, está representando. Elas fazem com naturalidade", diz.

Ainda envolvido com as gravações, Paulo também se dedica a outro projeto, mas como roteirista: uma série, com produção independente, para a TV fechada. "Não tenho muita paciência para assistir a uma novela muito longa, com 200 capítulos. Assisto, claro, até porque eu faço. Mas começa a dar uma certa angústia sobre o que vai acontecer. Série é outro ritmo, mais compacta, eu prefiro. Gosto muito de cinema também, em geral vejo três filmes por dia. Já dirigi e escrevi muito, inclusive na TV Globo, depois comecei a me dedicar mais ao trabalho de ator. Agora estou entusiasmado de novo com texto", conta ele, que é fã de "Família Soprano" e "Breaking Bad".