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"Pânico" se degradou e é forçado a copiar "Zap Zap", diz "Encrenca"

UOL vê TV: Domingo virou o dia do "Zap Zap" em quatro emissoras

UOL Entretenimento

Felipe Pinheiro

Do UOL, em São Paulo

11/05/2016 11h18

Depois de ver o "Pânico" migrar com toda sua equipe para a Bandeirantes em 2012, a RedeTV! parece ter enfim encontrado uma atração à altura do show de trollagens de Emílio Surita e companhia. Também originado no rádio, o "Encrenca" estreou há quase dois anos, após uma série de tentativas que falharam na faixa noturna aos domingos, e passou a incomodar cada vez mais desde o fim do ano passado e início deste semestre.

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Das dezenove vezes em que competiram somente neste ano, o humorístico acumula catorze vitórias e um empate contra o "Pânico" no Ibope medido em São Paulo. Ou seja, ganhou em 73,68% dos duelos diretos. No último domingo, no entanto, ficou atrás no confronto – o que não tira dessa turma o gostinho de satisfação pelas conquistas até aqui acumuladas.

O programa quebrou seu próprio recorde (com 8,6 pontos de pico) há duas semanas e já detém, faz algum tempo, o mérito de ser o produto de maior audiência da RedeTV!. Em meio a brincadeiras e piadas entre si, o diretor, Ricardo de Barros, e os quatro humoristas (Tatola Godas, Dennys Motta, Ricardinho Mendonça e Ângelo Campos) falaram, em bate papo com a reportagem do UOL, na sede da emissora, em Osasco (São Paulo), da ascensão relâmpago de um programa que, eles não escondem, frustrou a expectativa de todos no início.

"É ponto [de audiência] que não acaba mais. [O recorde] emociona porque a nossa estreia deu 0,8. A gente nunca teve uma audiência menor do que a estreia. Viemos da rádio e tínhamos um público forte... Ficamos tão decepcionados. O programa terminou e o Marcelo [de Carvalho, vice-presidente da RedeTV!] ligou dando parabéns, mas a gente ficou triste pra caramba", lembra Tatola, líder do grupo.

Química dos integrantes, atrações do gosto do público e a espontaneidade do vivo ajudam a explicar o sucesso do "Encrenca", mas o que, para o seu diretor, é tão fundamental quanto todos esses elementos para se chegar ao atual resultado é a natureza da internet transportada ao programa. Tudo passa como um "zap zap", nome do quadro de vídeos de WhatsApp e que virou bordão entre os humoristas.

"Hoje em dia o programa tem duas horas e meia, mas é todo fatiado, com uma porrada de assuntos que vão mudando. Hoje, na internet, ninguém tem mais paciência de ver as coisas, em cinco minutos o cara já quer pular uma matéria. Fazemos coisas de no máximo dois minutos, não mais do que isso", afirma Barros.

"Vídeo não é uma novidade e todo mundo já usou. Mas é o jeito que a gente embala o mesmo produto é que tem que se prestar atenção"
Ricardo de Barros, diretor do "Encrenca", sobre o quadro Zap Zap

Integrantes do "Encrenca" comemoram sucesso do programa, que é a maior audiência da RedeTV! - Divulgação/RedeTV! - Divulgação/RedeTV!
Integrantes do "Encrenca" comemoram sucesso do programa, que é a maior audiência da RedeTV!
Imagem: Divulgação/RedeTV!


"Pânico nunca foi para a família"

Para humoristas do "Encrenca", o "Pânico" faz um humor sacana e limitado aos jovens - Reprodução/Band - Reprodução/Band
Para humoristas do "Encrenca", o "Pânico" faz um humor sacana e limitado aos jovens
Imagem: Reprodução/Band
"Pânico" e "Encrenca" são programas inteiramente diferentes, concorrentes desde que nasceram no rádio (o primeiro na Jovem Pan e o segundo na 89 FM) e alcançam um público vasto, que se divide conforme o tipo de humor que prefere ver na TV. Essa é, em síntese, a avaliação de quem está por trás e na frente das câmeras do "Encrenca".

Com a experiência de quem dirigiu o "Pânico" nos cinco primeiros anos de RedeTV!, Ricardo de Barros acredita que o programa da Band não conseguiu expandir sua audiência. "Durante um tempo, o 'Pânico' foi engraçado e inovador. Mas até quando as coisas duram a gente não sabe", diz ele especulando sobre um possível desgaste no formato.

"O 'Pânico' quebrou um monte de coisas no começo. Se falava em tirar essa sensação de que celebridades são a última bolacha do pacote. Com as sandálias da humildade, fazíamos matérias de até meia hora e funcionava. Hoje [no 'Encrenca'] fazemos coisas curtas. É a influência da internet e do WhatsApp. Acho que o 'Pânico' escolheu um público mais jovem, e a gente um público mais geral", observa.

Para o diretor e humoristas do "Encrenca", é unânime que o programa deles conseguiu crescer exatamente no ponto em que o concorrente não conseguiu e nem se propôs em chegar. "O 'Pânico' nunca foi para a família, sempre foi mais para a garotada. Essa mistura é difícil acertar. Dá mais trabalho. Para chocar você tem uma resposta rápida, mas fazer uma coisa leve para todo mundo é mais difícil", analisa Barros.  "O humor deles é mais de imitação e o nosso mais para a família. Tem pra todo mundo, mas hoje a maioria está com a gente", diz Ângelo Campos, dando gargalhada.

“Eles deram um passo à frente na TV, mas ao longo do tempo foram se degradando. As pessoas foram envelhecendo. Você  usa a mesma calça que usava 10 anos atrás? Usa o mesmo cabelo? As coisas vão evoluindo
Dennys Motta, integrante do "Encrenca", sobre o "Pânico"

Dennys Motta defende que o espectador do programa da RedeTV! pode até ter sido fiel ao "Pânico" um dia, mas mudou de canal durante seu amadurecimento. Ele explica: "O 'Pânico' tem 12 anos, então o cara que tem 25 hoje tinha 13 [quando assistia ao programa]. Ele estava começando a tocar bronha, com 18 ele casou e hoje está com um filho pequeno. Esse cara pode ter sido público do 'Pânico', só que hoje tem um filho e uma mulher que ele respeita. Esse respeito ele encontra aqui. Aqui ele não vai ver nada que a mulher dele vá lhe dar um safanão".

"Eles deram um passo à frente na TV, mas ao longo do tempo foram se degradando. As pessoas foram envelhecendo. Você  usa a mesma calça que usava 10 anos atrás? Usa o mesmo cabelo? As coisas vão evoluindo. O celular nem existia há 10 anos como conhecemos hoje", completa.


Das cassetadas do Faustão ao "Zap Zap"

Faustão apresenta as "Cassetadas", do "Domingão", há quase 30 anos - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Faustão apresenta as "Cassetadas", do "Domingão", há quase 30 anos
Imagem: Reprodução/TV Globo
Não é de hoje que gafes de todos os tipos, bebês espertalhões, gordinhos atrapalhados e até pequenos acidentes, daqueles que é melhor rir para não chorar, fazem a alegria da TV aberta desde as popularização das video-cassetadas do "Domingão do Faustão" há quase 30 anos. Mas, em tempos de WhatsApp, a tecnologia mudou a forma de se consumir e produzir o mesmo tipo de humor. A senhora de 85 anos louca para fazer sexo, o bebê que transforma o prato em pandeiro e os skatistas que arriscam a vida correndo contra os carros de uma rodovia são alguns exemplos que saíram direto daquele seu grupo do "Zap Zap" para o "Encrenca".

A fórmula pode ser barata, e a verdade é que é feita de jeitos diferentes por tantos outros programas (Eliana, Domingo Legal e Pânico, para citar alguns), mas para o diretor do programa do Tatola o material que já está à disposição de qualquer um antes de ir ao ar na TV não implica em facilidades. O diferencial, ele diz, está na forma como é produzido.

"Vídeo não é uma novidade e todo mundo já usou, até o jornalismo mesmo pega coisas que o cara manda. É o jeito que a gente embala o mesmo produto é que tem que se prestar atenção. Não acho que seja fácil, é mais difícil porque você tem que embalar de uma forma que a pessoa de casa goste. O que adianta fazer uma matéria em Paris e ninguém dar risada? Seguimos um caminho mais simples, até pelo tamanho do nosso orçamento, mas encontramos um caminho", defende Barros. "Assiste ao Faustão e assiste aos nossos vídeos que você vai ver que são caminhos completamente diferentes. A gente coloca um monte de coisas legais e isso sim é inovar", reforça Ricardinho Mendonça.

"Os meninos do 'Pânico' são supercompetentes e gostam de fazer [o programa] do jeito deles. Agora, fazer o 'Só Cópias' é da direção da Band. É direção de bunda mole da Band"
Tatola Godas sobre o quadro "Só Risos", do "Pânico"

A ideia pegou e, rapidamente, para tentar frear a perda de audiência, a Band recorreu ao mesmo recurso. E dá-lhe mais vídeos de WhatsApp comentados na TV. A iniciativa é vista com desdém pelos integrantes do "Encrenca", que chamam o "Só Risos", com conteúdo comentado pelos humoristas do "Pânico", de "Só Cópias".

"Eles [humoristas do 'Pânico'] não gostam de fazer isso, dá para perceber. A gente gosta, dá risada. Eles já chegaram a passar vídeo nosso, que a gente montou, como se fosse da internet", critica Dennys. "Os meninos do 'Pânico' são supercompetentes e gostam de fazer [o programa] do jeito deles. Agora fazer o 'Só Cópias' é da direção da Band. É direção de bunda mole da Band", protesta Tatola.