"Cultura é mais importante do que canhão", diz Miklos sobre fim do MinC
O fim do Ministério da Cultura, colocado sob a tutela do Ministério da Educação pelo governo interino de Michel Temer, foi classificado como um “retrocesso” por Paulo Miklos, André Ramiro e Ravel Cabral, que conversaram com o UOL na última terça-feira (17).
Miklos ressaltou que a cultura “é mais importante do que canhão”. “Acho que é uma tristeza, é um retrocesso. Só um país que não tem uma visão estratégica, de que a cultura é uma das coisas mais importantes, mais importante do que canhão, do que bala, vai ter uma visão tão rasa das coisas. A cultura é uma grande arma, é um grande tesouro da identidade do povo, da gente desenvolver a nossa história, da gente cultivar a nossa memória. Tem tanta coisa para ser preservada, isso não pode ficar nas mãos do mercado simplesmente. Tem que ter um olhar importante para isso. Acho que é um grande erro, uma grande engando, infelizmente”.
O músico e ator ainda relembrou a experiência similar do governo Collor, que transformou o MinC em uma secretaria ligada à Presidência da República: “A última experiência dessa foi trágica, com o Collor, a gente sabe o que aconteceu. É muito triste ver essa situação colocada novamente. A esperança é justamente que a pressão da sociedade possa reverter isso”.
Ravel Cabral, que esteve no ar recentemente em “Império”, também citou o estado em que a indústria cinematográfica se encontrava há pouco tempo – em 1992, por exemplo, apenas um filme brasileiro foi lançado. “Eu acho que a gente tem que tomar cuidado com o que a gente considera medidas urgentes, porque um movimento desses impacta um aspecto importante da personalidade brasileira ao longo de anos futuros. Vocês lembram muito bem, há pouco tempo atrás o cinema brasileiro estava em estado de coma. Foi necessário um trabalho longo e penoso para ressuscitar a produção brasileira, que hoje está bonita, saudável e vigorosa. Eu acho um retrocesso você extinguir o Ministério da Cultura ao invés de reorganiza-lo. Acho que a gente posse acabar pagando um preço muito caro no médio e longo prazo.”
André Ramiro, famoso por ter interpretado o policial André Mathias em “Tropa de Elite”, definiu o fim do MinC como “uma tremenda falta de respeito”. “Primeiro porque um país sem cultura é um país sem intelecto. É um país que não tem intelecto nem desenvolve a atitude certa para reivindicar e se colocar politicamente me relação a tudo o que acontece. É um retrocesso. Acho que nesse momento se faz necessário que nós da classe artística... não só da classe artística, seja lá qual for, que haja uma união e que isso seja reivindicado. É muito louco isso que acontece com a política brasileira. É como se nós precisássemos deles [políticos], como se só nos precisássemos dele e eles não precisam de nós também.”
O ator ressaltou que a arte tem um papel importante na transformação da sociedade. “A nossa arte, o cinema principalmente, o teatro, ele tem esse poder também de influenciar positivamente e politicamente também, porque não, o espectador, é uma troca. Talvez seja esse o problema. A gente vive isso nesse país há bastante tempo. ‘Quanto menos a massa souber, melhor pra gente, porque a gente consegue manobrar’. É basicamente isso que continua acontecendo”.
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