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Alex Atala diz que chefs seguem caminho de modelos e publicitários na TV

Alex Atala - Chef's Table - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
Alex Atala está em um dos episódios de "Chef's Table"
Imagem: Divulgação/Netflix

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

27/05/2016 07h00

Consagrado no ramo da gastronomia, o chef Alex Atala é uma das estrelas da série documental “Chef’s Table”, cuja segunda temporada estreia nesta sexta-feira (27) na Netflix - novamente com a missão de acompanhar o cotidiano de chefs renomados dentro e fora da cozinha.

A produção -- que estreia poucos dias após um dos restaurantes de Atala, o Dalva e Dito, aparecer no “MasterChef” -- faz parte de uma leva de programas que colocaram a culinária sob os holofotes, seja na ficção ou na vida real. E Atala vê com bons olhos essa proliferação, ainda que haja alguns exageros.

“Os chefs de hoje são as modelos dos anos 1990 e os publicitários dos anos 1980: uma profissão que de repente ocupa a grande cena”, afirmou o chef ao UOL. “É natural que haja exageros. Eu não me sinto apto a medir esses exageros, ou a apontar exageros, mas eu acredito que isso vai trazer sem dúvida uma melhor regulamentação da nossa profissão, que foi o que aconteceu com os publicitários, que foi o que aconteceu com as modelos”.

Os programas, na opinião de Atala, também podem trazer uma nova relação entre o homem e a cozinha. “[Ter] crianças cozinhando é realmente aproximar elas do alimento. Não vou ter que falar pro meu filho que comida de caixinha é ruim, ele já vai aprender sozinho (risos)”.

Questionado sobre a rispidez de jurados de realities culinários, que frequentemente é atribuída ao ambiente profissional da cozinha, o cozinheiro ponderou que há modos diferentes de se trabalhar, mas não tem nada contra esse tipo de programa.

“Cozinhas são ambientes muito intensos, é verdade. Não tem uma maneira só de tratar com eles. No D.O.M., por exemplo, a gente trabalha em silêncio”, contou. “A cozinha é uma necessidade que demanda atenção. O não falar não é proibir as pessoas de se expressar, mas é convencer as pessoas ou mostra para elas que o resultado excepcional, que transforma uma boa receita num prato excepcional, é esta entrega humana, é aquele luxo que eu falo. Tenho bons sentimentos por essas coisas. Não sou contra os realities ou essas coisas, eu consigo ver o lado bom”.

Vida pessoal e conexão com a natureza

Em meio a imagens deslumbrantes captadas na Amazônia e na Mata Atlântica, o episódio de “Chef’s Table” com Atala traz um olhar atento sobre a vida e a obra do cozinheiro, que relembra seu passado “punk” com problemas de drogas, a carreira descoberta quase por acaso – em um curso para garantir um visto de residência na Europa --, e a reconexão com suas origens brasileiras.

 Apesar da exposição, o chef se sentiu seguro com a equipe da série, que permaneceu com ele durante 20 dias. “Quando eu recebi o convite, eu fiquei impressionadíssimo com a pesquisa antes do convite, que já era bem feita. Isso te transmite uma segurança grande para encarar o desafio. E o desafio não era mostrar o cozinheiro, era mostrar tudo o que eu fazia fora da cozinha. Esse foi o lado confortável de entregar a minha vida pessoal”, disse a jornalistas durante o evento de lançamento da temporada. 

Chamado de “embaixador da cultura gastronômica brasileira” pelo criador e diretor da série, David Guelb, Atala acredita que “Chef’s”, além de dar projeção para ele e seu projeto, o ATA, ajuda na compreensão da relação humana com a comida. “Traz uma mensagem global, que é talvez empurrar as fronteiras da cozinha pra frente. Não na maneira de comer ou de produzir, mas de entender que essa é uma atividade vital - todos os seres vivos comem e se reproduzem, morrem. E algumas faculdades as transformam em prazer”. 

Crítico da desconexão que a sociedade urbana tem com as origens do alimento, o chef é filmado em contato direto com ingredientes tipicamente brasileiros, e chega a matar um pato em frente às câmeras – prática que recentemente trouxe problemas a Rodrigo Hilbert, que matou um cabrito no programa “Tempero de Família”, do GNT.

“Eu acho que a gente tem que confrontar algumas coisas”, afirmou quando a reportagem perguntou sobre a polêmica. “Quando eu matei uma galinha no MAD [evento gastronômico], algumas pessoas disseram que eu deveria ter cozinhado a galinha. Se elas tivessem ido ao MAD, ou se a notícia tivesse sido bem reportada ao Brasil, elas saberiam que ninguém cozinha no MAD. Mas teve a festa depois, e a galinha foi cozida e servida a todos. Houve reações extremadas aqui no Brasil, e extremadas fora do Brasil. A extremada fora do Brasil foi a capa da revista ‘TIME’”. Um mês após o ocorrido, o chef estampou a capa da publicação com outros dois colegas – com a chamada “os deuses da comida”.

Além de Atala, também estão na segunda temporada de "Chef’s Table" Ana Ros (Eslovênia); Dominique Crenn (Estados Unidos); Enrique Olvera (México); Gagan Anand (Tailândia); e Grant Achatz (Estados Unidos). A série já tem a terceira e a quarta temporadas confirmadas - para 2016 e 2017, respectivamente.

"Chef's Table"
Estreia: 27/05, na Netflix