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Alice Braga interpreta versão feminina de Pablo Escobar em série americana

James Cimino

Colaboração para o UOL, em Dallas (EUA)

09/06/2016 07h00

Eles são dois dos mais requisitados atores brasileiros em produções hollywoodianas. Wagner Moura e Alice Braga são amigos, trabalharam juntos nos filmes "Cidade Baixa", "Elysium" (neste, contracenaram com Matt Damon e Jodie Foster) e, agora, outra coincidência une suas carreiras: ambos são as estrelas de duas séries americanas em que interpretam dois gigantes do tráfico de drogas. 

Ele, todo mundo sabe, foi indicado ao Globo de Ouro por interpretar um personagem real, o colombiano Pablo Escobar, na série "Narcos", da Netflix. E ela dará vida a Tereza Mendoza, a personagem fictícia do best seller "La Reina del Sur", de Arturo Pérez-Reverte, na série americana "A Rainha do Sul" ("The Queen of South"), que estreia no Brasil em 7 de julho, às 22h30, no canal Space. Na versão brasileira, Alice dublará ela mesma em português – a série foi originalmente gravada em inglês.

O UOL visitou os sets de gravação da série em Dallas, no Texas, Estado americano fronteiriço com o México e que luta contra a imigração ilegal e os cartéis de drogas mexicanos. 

Diferentemente de "Narcos", no entanto, "A Rainha do Sul" é uma série em que as mulheres são as cabeças dos cartéis de drogas. Além de Alice Braga, outras duas atrizes latinas completam a tríade de protagonistas femininas da trama: a mexicana Veronica Falcón (de "Sr. Ávila" e "Capadocia") e a americana com origem porto-riquenha Justina Machado (de "A Sete Palmos").

Durante a visita, Alice Braga foi a última a conversar com a imprensa latino americana, após mais de 14 horas de gravação. Mesmo assim, agradeceu a todos pela paciência em esperá-la com um contagiante sorriso no rosto. Leia trechos da entrevista:

UOL — Como é ser outra brasileira brilhando no papel de uma traficante de drogas?
Alice Braga — É hilário, né? Quando me ofereceram o papel eu pensei: “Ok, a gente comanda o mundo da cocaína!” Eu sou a versão feminina do Pablo!

Há alguma diferença no fato de nesta série serem as mulheres as principais personagens?
Não saberia dizer como é em termos de administrar o negócio, mas certamente há uma diferença na maneira de exercer o poder. Como mulher, há outras formas de chegar a esse poder e de conseguir as coisas que não passa necessariamente pela força física.

Alice Braga em "A Rainha do Sul" - Divulgação - Divulgação
Para Alice, Tereza Mendoza é uma mulher pragmática que "luta pela sobrevivência de acordo com as circunstâncias"
Imagem: Divulgação
Quando você tomou conhecimento deste personagem?
Eu li o livro oito anos atrás. Um amigo brasileiro me deu. Logo depois soube que Eva Longoria faria o papel em um filme. Larguei pra lá e esqueci. Aí, dois anos atrás eu estava filmando no [Estado] do Mississipi e vieram falando de uma série e que queria discutir o papel principal comigo. Era “The Queen of the South”… Desde que li eu me apaixonei por ela, porque ela passou por coisas horríveis desde sua infância e nunca desistiu e nunca se tornou uma vítima de sua própria trajetória. E é lindo porque não é que essa “carreira” era seu objetivo de vida. Ela apenas está lutando por sua sobrevivência de acordo com as circunstâncias que se apresentam. Para mim, ela é pragmática. Se você pegar meus scripts vai ver minhas anotações: Pragmática! Pragmática! Ela tem emoções, é apaixonada, mas como todo herói nunca é uma vítima. 

Tem uma frase dela no primeiro episódio em que ela diz: "Já fui pobre e hoje sou rica! Ser rica é melhor!" O que a atrai nessa "profissão"?
É engraçado você falar disso porque quando eu li isso eu tive toda uma discussão sobre por que ser rica, neste contexto, é melhor. É melhor porque você pode se proteger. Ser rica, sob meu ponto de vista, é estar segura.

Não necessariamente, porque quando você fica rica imediatamente você se torna alvo…
Sim, mas você consegue se proteger melhor. Você consegue construir sua armadura.

Você usou a mesma palavra que a Veronica [Falcón, que interpreta a personagem Camilla Vargas, mentora de Tereza no tráfico]: armadura.
Ela usou isso? Maldita! (risos) Ela tem sido tão malvada comigo. Ela é dura! (risos) Mas sim, em minha opinião é uma preocupação que sempre tive em relação àquela fala porque não acho que ser rica é melhor que ser pobre.

O que você acha que Hollywood procura nos atores brasileiros?
Abriu muito [o mercado], né? A gente tem diretores incríveis, fotógrafos, muitos bons artistas no Brasil. Falta mesmo é a conexão para distribuir seu trabalho fora. O fato de a gente falar português e não espanhol meio que seria uma barreira, mas eu estou fazendo uma mexicana e o Wagner está fazendo um colombiano. Acho que a gente tem talento, uma cultura de atuação diferente que acaba atraindo. 

Você deve saber que o [traficante] El Chapo se apaixonou pela atriz que interpretou esse papel na novela homônima. 
Eu sabia que você ia fazer essa pergunta. Eu estou namorando o Wagner Moura, ele é o Pablo Escobar, lamento. (risos)

Alice Braga em "A Rainha do Sul" - Divulgação - Divulgação
Personagem tem características de Pablo Escobar e de Walter White, de "Breaking Bad"
Imagem: Divulgação
Você acha que ela está mais para Pablo Escobar ou mais para Walter White?
Amei essa pergunta! No presente da série, ela está como o Walter White no início de “Breaking Bad”. Pensando no futuro, ela vai mais para Pablo Escobar…

É uma jornada e tanto, porque o Walter White diz no último capítulo, em uma cena com sua mulher, ele diz que fez aquilo por si, porque gostava daquilo. O que dele ela tem no começo?
O que eu gosto muito no Walter White é que ele fica o tempo todo dizendo que fez aquilo pela família. Mas pra mim a cena que mostra quem ele realmente está se tornando é quando ele vê a namorada do Jesse sufocando e, então, ele não a salva. Ali você vê que ele tem uma fera dentro dele. Então, no começo ele faz pelo dinheiro, para se curar, pelas circunstâncias. A Tereza segue as circunstâncias. Não acho em nenhum momento que ela quis aquilo. O lance dela é sobrevivência. Nunca um desejo por ser poderosa. E eles têm em comum essa ingenuidade sobre aquilo que estão fazend

Veja o trailer de "A Rainha do Sul"

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