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"Não dá para suportar o machismo", diz Jackson Antunes sobre papel violento

Jackson Antunes é Terenciano em "Liberdade, Liberdade" - João Cotta/TV Globo
Jackson Antunes é Terenciano em "Liberdade, Liberdade" Imagem: João Cotta/TV Globo

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

13/06/2016 12h17

O maior pesadelo de Dionísia (Maitê Proença) tem nome, carne e osso: Terenciano (Jackson Antunes), seu marido, que julgava estar morto, já deu sinais de que não vai deixá-la em paz nos próximos capítulos de "Liberdade, Liberdade". No capítulo da última quinta-feira, o mercador de escravos tentou afogá-la na praia, mas em breve vai ter a chance de mostrar sua crueldade em detalhes.

"Ele tem uma paixão doentia pela mulher. Sempre a espancou e volta como se nada tivesse acontecido, quer a família de volta. Ele acredita nisso, que a esposa passou a vida inteira esperando por ele", conta o ator, que faz uma participação especial durante alguns capítulos na trama de Mario Teixeira.

Segundo Antunes, que já saiu cheio de hematomas de algumas sequências que lhe exigiram mais fisicamente, algumas das cenas também o abalam psicologicamente.

"Na hora, quando estamos gravando, mexe muito, violência é ruim até na ficção, até de mentirinha. Eu fico exaurido, cansado. Às vezes eu preciso de uma meia hora para tomar uma água, tirar o figurino e voltar. O personagem nos ensina muito. Você acaba pensando: como é que não deve ser isso na vida real durante anos seguidos?", afirma.

31.mai.2016 - Nas cenas da trama, a personagem de Maitê, Dionísia, parece se afogar e é salva pelo marido na novela, personagem de Jackson Antunes - AgNews/Dilson Silva - AgNews/Dilson Silva
Para viver Terenciano, Jackson faz cenas fortes, como a que tenta afogar Dionísia (Maitê): "Mexe muito, fico exaurido"
Imagem: AgNews/Dilson Silva

O ator enxerga no papel uma forma de dialogar com discussões que ganharam força atualmente nas ruas e nas redes sociais, que dizem respeito à violência contra a mulher.

"Até que enfim estamos discutindo isso. Não é a primeira vez que faço um personagem assim. Em 'A Favorita', Leonardo era um monstro que maltratava Catarina (Lilia Cabral). Na época trouxe uma discussão muito grande sobre a lei Maria da Penha. Agora, a voz das ruas, o eco é maior. A gente sentiu que pode falar tudo isso. Quero que minhas filhas voltem para casa sem serem assediadas, todas as famílias querem isso. Não dá mais para suportar o machismo", opina.

Embora tenha tido uma educação diferente, que ensinava o respeito, Antunes diz que conheceu alguns casos de violência doméstica. "Sou do interior de Minas Gerais, e a mulher muitas vezes era tratada como objeto. Parecia que era natural, era uma coisa velada, ninguém falava nada, nem as pessoas da própria família. Era um tabu, mas a cidade toda sabia que já tinha acontecido com a mãe, com a avó. Na minha casa, meu pai nunca nem levantou a voz para um filho", conta.

Leonardo (Jackson Antunes) era violento com a mulher, Catarina (Lilia Cabral), em "A Favorita" - Thiago Prado Neris/TV Globo - Thiago Prado Neris/TV Globo
Leonardo (Jackson Antunes) era violento com a mulher, Catarina (Lilia Cabral), em "A Favorita"
Imagem: Thiago Prado Neris/TV Globo

O intérprete faz suspense sobre os embates entre Terenciano e Dionísia, que duram alguns capítulos. O terror psicológico já abala a irmã de Raposo (Dalton Vigh) antes mesmo de um encontro cara a cara, mas a novela promete ir mais fundo nessa relação. 

"Um homem desses não tem limites. Ele é áspero com todo mundo, mas com ela é uma coisa doentia. No entanto, diz que a ama, que ela é a mulher mais perfeita do mundo. Ele a trata como um objeto. E acredito que, por ela ter vivido muitos anos com esse homem e ter sofrido todo tipo de violência, isso deve ter refletido no comportamento dela. Ela o teme, a voz dele faz com que ela baixe a cabeça", conta. 

Mas o ator avisa: "Ele vai pagar muito caro pelo que faz".