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Em novelas americanas, toda personagem feminina vira vilã em algum momento

A atriz Felisha Cooper interpreta a vilã Sasha há três anos, em sua primeira novela da carreira "The Bold and the Beautiful" - Reprodução/CBS
A atriz Felisha Cooper interpreta a vilã Sasha há três anos, em sua primeira novela da carreira "The Bold and the Beautiful" Imagem: Reprodução/CBS

James Cimino

Colaboração para o UOL, em Los Angeles

16/06/2016 08h00

Com duração de anos, as novelas americanas (ou “soap operas”, como são chamadas em inglês) precisam fazer tanto malabarismos dramatúrgicos quanto as brasileiras para manter o interesse de seus espectadores. E quem melhor para movimentar as tramas, como também acontece no Brasil, que as vilãs?

O problema é que em histórias de longa duração como essas, toda personagem feminina está sujeita a se tornar vilã. Pelo menos foi essa a impressão que as atrizes de tramas como “The Young and the Restless" (no ar desde 1973 na CBS), “The Bold and The Beautiful” (primeiro episódio exibido em 1987 na mesma rede) deram durante o coquetel de comemoração dos principais indicados ao Emmy Daytime deste ano.
 
A atriz Ashleigh Brewer com dois atores de "The Bold and the Beautiful", Scott Clifton (à esq) e Darin Brooks - Reprodução/Instagram/_ashbrewer - Reprodução/Instagram/_ashbrewer
A atriz Ashleigh Brewer com dois atores de "The Bold and the Beautiful"
Imagem: Reprodução/Instagram/_ashbrewer
 “Minha personagem varia de mocinha a vilã. Depende do cara com quem ela está saindo”, brinca a atriz australiana Ashleigh Brewer, que está no ar desde 2014 em “The Bold and the Beautiful”.
 
Outra atriz estreante da mesma novela, Mara McCaffray, conta que já desenvolveu uma técnica para não perder o fio da meada. “Tem tantas viradas e mudanças na personagem que eu tenho uma espécie de diário por episódio com informações como ‘o que minha personagem estava fazendo’ ou ‘em que ela estava pensando’. Então sempre vou lá pra checar se a personagem que estou interpretando ainda é a mesma pessoa.”
 
Mas se para as novatas a coisa parece complicada, as veteranas tiram de letra. Quem diz isso é Kathleen Gati, que está desde 2012 na novela “General Hospital”, que estreou em 1963 e ainda hoje tem uma audiência estimada em 5 milhões de espectadores. 
 
Kathleen Gati está desde 2012 na novela "General Hospital", que estreou em 1963 - James Cimino/UOL - James Cimino/UOL
Kathleen Gati está desde 2012 na novela "General Hospital", que estreou em 1963
Imagem: James Cimino/UOL
 Segundo ela, hoje em dia virou lenda a história de que ator de “soap opera” não é valorizado no mercado. “As pessoas não têm ideia de quanto trabalho dá. São cerca de 250 episódios por ano, o que dá um total estimado até hoje em 13.250 capítulos”, diz a atriz, que entre uma temporada e outra participou de grandes produções como “24 Horas”, “Transformers: O Lado Oculto da Lua” e “Fear the Walking Dead”.
 
“Antes, esse tipo de trabalho não te dava prestígio nenhum. Mas hoje é diferente. A todo lugar que eu vou eu sou reconhecida. Me tratam muito bem. E olha que eu interpreto uma mulher muito má, que já matou um cara sufocado. Mas como eu puxo pela comédia, as pessoas adoram e sempre me perdoam (risos).”
 
Mas o que acontece com a personagem quando o ator precisa fazer outro trabalho? “Quando isso acontece, minha personagem faz uma viagem. Como ela é alemã, ela sempre está indo para a Alemanha.”
 
Outra veterana, a atriz Patrika Darbo, que interpretou a vilã Nancy Wesley de 1998 a 2006 em “Days of Our Lives” — no ar desde 1965 — explica para a reportagem que nem sempre foi assim. 
 
“Em geral, quando você é regular em uma novela você não pode se comprometer com outro trabalho porque você trabalha constantemente. Mas hoje a coisa mudou. Elas não são mais populares como já foram e não trazem mais dinheiro como costumavam trazer. Então eles dão mais períodos de férias em que os atores podem fazer outros trabalhos.”
 
Ao ser informada que no Brasil as atrizes que fazem vilãs são as mais bem pagas, brincou: “Manda eles me ligarem, baby, porque eu sou muito má!”, diz a atriz que já participou de clássicos do cinema como “Meia-noite no Jardim do Bem e do Mal”, “Velocidade Máxima” e “Na Linha de Fogo”.