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Roupa do "Xou da Xuxa" era "surrealista" e não brega, defendem criadores

Paulo Pacheco

Do UOL, em São Paulo

30/06/2016 07h00

Atração à parte no "Xou da Xuxa", o figurino de Xuxa Meneghel ditou a moda das crianças fãs do programa, que nesta quinta (30) completa 30 anos de sua estreia na Globo. Entre 1986 e 1992, nas 2.000 edições do infantil, a "rainha dos baixinhos" nunca repetiu as roupas, uma mais extravagante do que a outra, e admite não ter gostado de algumas. Para os criadores, não era "brega", e sim "surrealista".

Para elaborar as roupas de Xuxa e das Paquitas, foi montada uma equipe liderada pela figurinista da Globo Sandra Bandeira. O ritmo de produção era frenético: cinco trajes diferentes por semana, e cada um demorava três dias para ficar pronto, do desenho à finalização, passando pela escolha do tecido e confecção.

Em dois anos e meio, a "rainha dos baixinhos" se vestiu de 759 maneiras diferentes, e tudo tinha de ser aprovado por ela e Marlene Mattos, diretora do programa. A apresentadora gostava do visual, porém confessa que alguns modelos não a agradavam.

Desenho do figurino de Xuxa Meneghel aprovado pela diretora Marlene Mattos - Willis Ribeiro/Arquivo pessoal - Willis Ribeiro/Arquivo pessoal
Desenho do figurino de Xuxa Meneghel aprovado pela diretora Marlene Mattos
Imagem: Willis Ribeiro/Arquivo pessoal
"Curtia, claro! Às vezes não gostava muito, mas usava igual, às vezes amava muito. Tudo normal, sempre usei o que achava que as crianças iam gostar, esse era o ponto principal", diz Xuxa ao UOL.

Figurinista da loira entre 1986 e 2001, Willis Ribeiro relembra o que ela abolia em seu figurino: "Xuxa e Marlene não gostavam de algumas roupas, então eu produzia em cima do que não deu certo e reinventava. Ela não gostava de roxo, mas usava tudo, minissaia, calça comprida, bota, sapato, sandália".

A apresentadora ainda guarda centenas de roupas do "Xou da Xuxa" em um galpão na sede de sua fundação, no Rio de Janeiro. Outras foram doadas e leiloadas em ações filantrópicas.

Xuxa era "surrealista", não brega

No "Xou da Xuxa", exagerar era regra, e o figurino de Xuxa não fugia disso. Excêntrico, as roupas faziam parte do cenário do programa, futurista e multicolorido. A "rainha dos baixinhos" usou e abusou de ombreiras, botas e mangas bufantes, moda nos anos 80, porém considerado brega três décadas depois.

Os criadores do figurino de "Xou da Xuxa" discordam das críticas ao visual, rejeitam o rótulo de "brega" e defendem que a apresentadora seguia as tendências da moda da época.

Xuxa Meneghel ao lado de seu figurinista, Willis Ribeiro, nos anos 90 - Willis Ribeiro/Arquivo pessoal - Willis Ribeiro/Arquivo pessoal
Xuxa Meneghel ao lado de seu figurinista, Willis Ribeiro, nos anos 90
Imagem: Willis Ribeiro/Arquivo pessoal
"Eu não achava brega, era muito bonito, algo do momento. Aquelas botas, ombreiras enormes, roupa colorida. Era infantil, não tinha maldade, nenhuma referência sexual. Via Xuxa como uma criança grande brincando com as outras crianças", pondera Willis Ribeiro.

"Nos anos 80, tudo aquilo fazia sentido, era elogiado, diferente. Todos esperavam ver a Xuxa assim. Nos anos 90, ela mudou e foi limpando a imagem. Nos anos 2000, vieram as críticas ao passado, e acham aquilo a coisa mais brega do mundo", explica o figurinista Marcelo Cavalcanti.

Para criar os figurinos, a equipe buscava elementos da alta-costura da época. Os franceses Jean-Paul Gautier e Christian Lacroix e o italiano Franco Moschino foram alguns dos renomados estilistas que serviram de inspiração para a "moda Xuxa", além das ideias da própria apresentadora.

"Xuxa sabe exatamente o que ela quer. Quem inventou o estilo dela foi a própria Xuxa. A roupa era bem surreal, da arte do surrealismo mesmo, com formas e traços. Dependendo da roupa, era como um cartum. É uma vertente da moda que colocamos dentro do estilo dela", diz Cavalcanti.

Da "rainha dos baixinhos" ao "rapaz americano"

Xuxa extravagante nos anos 80, na Globo (à esquerda), e sóbria em 2016, na Record - Montagem/UOL - Montagem/UOL
Xuxa extravagante nos anos 80, na Globo (à esquerda), e sóbria em 2016, na Record
Imagem: Montagem/UOL
Único da equipe do "Xou da Xuxa" que trabalha até hoje com a loira, Marcelo Cavalcanti começou como desenhista, aos 18 anos, e hoje é seu principal figurinista. Segundo ele, a mãe de Xuxa, dona Alda, criou os primeiros modelos para a filha, que sempre gostou de ousar e imprimir seu estilo.

"Xuxa vestia tudo! Ela dizia: 'Se vestir bem e me favorecer, eu topo'. Nunca foi politicamente correta nem gostava de se vestir igual a todo mundo", afirma Marcelo Cavalcanti, responsável pela mudança de visual da apresentadora na Record. Ele diz por que a "rainha dos baixinhos" adotou um estilo sóbrio criticado até por Silvio Santos, que a chamou de "rapaz americano".

"Ela ama o trabalho da Ellen DeGeneres e achou bonito. Para quem conhece a Xuxa na vida real, ela é a pessoa mais 'clean' do mundo. É aquela mulher de camisa branca e óculos escuros, você nem reconhece. O cenário dela é uma sala, é como se estivesse recebendo [os convidados] em casa. Não tem nave, nem é uma boate como o 'Planeta Xuxa'", afirma.