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Diferenças regionais viram piada em novo humorístico "A Culpa é do Cabral"

Natália Guaratto

Do UOL, em Buenos Aires*

01/07/2016 07h00

Você sabe o que é lomba? E zételo? E bilola? Para desvendar – e rir – dessas e de outras particularidades regionais do Brasil, o Comedy Central estreia na próxima terça-feira (5) o humorístico “A Culpa é do Cabral”.

Além de gírias conhecidas apenas em seus estados, os humoristas Fabiano Cambota (Goiás), Nando Viana (Rio Grande do Sul), Rodrigo Marques (Pernambuco), Rafael Portugal (Rio de Janeiro) e Thiago Ventura (São Paulo) fazem piada com todo tipo de particularidade de suas regiões: dos pontos turísticos até a comida. Vale tudo, inclusive falar de estereótipos.

“A gente tenta brincar, mas não se lambuzar no estereótipo. A gente não falou de gaúcho ser gay até agora”, explica Viana, que é apresentado no programa como “o único integrante que sabe o que é uma hidratação no cabelo”. Ele, no entanto, defende que a atração pega leve nos clichês. “Eu, por exemplo, nem sou o gaúcho clássico porque sou feio”, brinca em entrevista ao UOL.

Representante nordestino da trupe, o recifense Rodrigo Marques explica melhor a dinâmica das piadas. “Normalmente quem fala mal do local é o próprio cara. Sou eu quem falo que nas praias do Recife têm tubarão. Eu tenho propriedade para falar. Agora se o Ventura falar, as pessoas vão achar ruim”, diz.

Thiago Ventura - Divulgação/Comedy Central - Divulgação/Comedy Central
Thiago Ventura é um dos integrantes do "A Culpa é do Cabral"
Imagem: Divulgação/Comedy Central
Com 27 anos, Ventura é o mais jovem da trupe e é quem melhor conseguiu se afastar do clichê da região que representa. Ele trocou a camisa polo típica do playboy paulistano pelo boné de aba reta. Em vez do “meu", ele usa muitos “manos". E o resultado é um tipo da periferia que pode até não ser o mais original, mas não deixa se ser interessante de ver. Uma espécie de Emicida do humor, como ele mesmo define.

“Acho engraçado que as pessoas falam para mim: ‘Você imita direitinho, parece que você é de lá [da periferia]. E eu sou de lá, mesmo, mas há um tempo eu trouxe essa coisa mais caricata, comecei a falar mais gíria. Não é graça, não, os moleques falam assim mesmo”, diz o comediante de Taboão da Serra, que em cena termina quase todas as frases com um “né não, cachorro?".

Trabalho delicado

Acostumados aos palcos de stand-up comedy e à internet – Portugal é bastante conhecido por atuar em canais do YouTube como o Parafernalha e o Porta dos Fundos – os humoristas já tiveram experiências com críticas na web e até brincam sobre isso no programa. Para eles, hoje em dia, é preciso tomar algumas precauções para escrever humor.

Ventura, por exemplo, diz que nunca fala de política, religião e futebol. “Quando mexe com fanatismo fica complicado”, explica. Por outro lado, Viana afirma que não é possível se censurar o tempo todo. “Tem que ter isso também [a piada com o estereótipo]. Se você só tomar cuidado, você não tem a piada. É um trabalho delicado, às vezes a gente dá uma vaciladinha para acertar e a pessoa achar graça", diz.

“A Culpa é do Cabral” é inspirada no argentino “La Culpa és de Colón”, com comediantes de países diferentes da América Latina. Para gravar os 10 episódios, os humoristas viajaram para Buenos Aires e aproveitaram o cenário e equipe da produção argentina. “Virou um Big Brother nosso e foi muito legal porque refletiu no entrosamento e nas piadas. O programa é quase como se cinco pessoas de lugares distantes sentassem em uma mesa de bar. Cada um fala da sua experiência e é nesse contraste que fica divertido”, conclui Cambota.

*A jornalista viajou a convite do Comedy Central