Biógrafa e ex-cabeleireira culpa "mega hair" por briga com Susana Vieira
Desde que confirmou ter nas mãos praticamente um livro sobre a vida de Susana Vieira, a cabeleireira Ruddy Pinho tem recebido ligações de gente querendo saber o que ela tem para contar. "Apesar de não nos falarmos há oito anos, fomos amigas durante 30. Susana é uma irmã amada, uma ídola e por isso a minha publicação tem histórias de beleza, amor, diversão e muitas gargalhadas", conta Ruddy, assustada com a repercussão. "Querem futricas e baixarias! Estão esperando por essas coisas e isso me deixa chocada."
Aos 72 anos, Ruddy Pinho, a “Maravilhosa”, como gosta de ser chamada, se vangloria de ter ajudado a glamourizar a imagem da atriz como uma mulher à frente do seu tempo. “Conheci Susana no início de sua carreira, e ela sempre foi um excelente profissional, uma pessoa batalhadora, mas precisava se transformar numa referência. Descobrimos juntas que mudar o visual seria uma ótima saída, e foi. Tudo que ela fazia virava moda”, relembra Ruddy, que lamenta a atual situação entre as duas.
Não nos falamos mais, digo que fomos vítimas da maldição do mega hair.
“Não nos falamos mais, digo que fomos vítimas da maldição do mega hair”, brinca Ruddy, ao contar que para viver a Branca na novela “Duas Caras” (2007), Susana usou um implante capilar feito por outro profissional. “Uma bobagem. Torço para que esse livro, que é uma ode à mulher, uma homenagem à mulher vista de outro ângulo, o ângulo viado da vida, nos reaproxime”, assume Ruddy, que não tem ainda uma editora para publicar o livro.
Susana Vieira, aliás, está espalhada pelas fotos que decoram os quatro cantos do salão retrô que Ruddy tem em Ipanema, assim como as outras clientes famosas: Yoná Magalhães, Beth Carvalho, Vera Fischer, Marília Pera, Raquel Welch, Simone, entre outras. O local, que antigamente era quase seis vezes maior, já viveu dias melhores no que diz respeito a frequência de clientes. “Nos bons tempos aqui entravam em média 100 pessoas por dia e também eu tinha 40 empregados. Era um super salão! Hoje, dá para atender de cinco a dez, mas o normal são duas, no máximo três clientes. Não tenho vergonha de dizer que estou trabalhando pouco. Além da idade, sou uma senhora, né, tem também a crise no Brasil e todo mundo busca a oferta mais barata para poder sobreviver”.
Para Ruddy, que cobra acima da média em um corte de cabelo no Rio, R$ 300, seus poucos clientes se mantém fiéis. Ela não tem mais famosos em sua carteira e nem é mais chamada para fazer trabalhos na televisão. “Fiz muito, mas não me chamaram mais porque a Globo tem praticamente um salão dentro da emissora. Também porque nunca fiz parte de panelas e nunca fui de bajular artista. Era bem difícil e muitas pessoas não gostavam de mim, mas isso não me incomodou e nem me incomoda porque sempre tive compromisso com o meu nome e mais nada. O que me incomoda atualmente é a estagnação do país, a falta de emprego”, explica Ruddy, que pediu um papel para Glória Perez na próxima novela das 21h, “Flor da Pele”, prevista para 2017. “Pelo que li, a trama tem a minha cara. Mandei um e-mail e ela ainda não me respondeu".
Mudança de sexo
Ruddy era ele e quando completou 40 anos decidiu ser ela. "Bateu uma crise de identidade porque não tinha feito nada por mim naquela altura vida, como mulher que queria ser. Tive depressão, engordei, caí nas drogas e quando cheguei no fundo do poço resolvi fazer análise. Fui resolvendo as minhas coisas internas e fui para Europa. Quando voltei, voltei mulher", conta com orgulho de ser transgênero, mas que evita falar muito sobre a mudança de sexo. "Banalizou. Quem tem que falar são as pessoas que ainda devem ter problemas com a transexualidade, e eu não tenho mais. Tive, sim, os piores. Rejeição, desconfiança, maldades, violência física e repressão. Venci todos", revela a cabeleireira, que adotou um menino com seis dias de vida. “Meu filho, Ivan, está com 38 anos e me deu uma neta linda, Maria Fernanda".
Tive depressão, engordei, caí nas drogas e quando cheguei no fundo do poço resolvi fazer análise. Fui resolvendo as minhas coisas internas e fui para Europa. Quando voltei, voltei mulher.
Ruddy, que escolheu esse nome por causa do avô Ulysses Rudolf e também em homenagem ao bailarino Rudolf Nureyev, nasceu em Sabinópolis, Minas Gerais, e cresceu em Belo Horizonte. Graças ao pai, que lhe deu tesouras para aparar as crinas dos cavalos, virou cabeleireiro profissional aos 16 anos. Três anos depois foi fazer um favor para a filha de uma cliente e acabou presa. "O ano era 1964, e eu fui entregar uma carta para um homem no Diretório Central dos Estudantes. Ele fazia um discurso para 50 pessoas e de repente 300 soldados do Exército entraram e prenderam todo mundo". Ela ficou três meses incomunicável, não foi torturada e acabou sendo solta porque ficou com as mãos inchadas de tanto cortar legumes para o batalhão e porque também não estava envolvida com o grupo que planejava a morte de um político, que ela até hoje não sabe quem era.
Mas ela ficou com o nome sujo em Belo Horizonte e vivia presa. De lá, veio para o Rio, foi levada a Paris por um namorado e quando voltou para o Brasil continuou sendo perseguida pelo Exército. A situação mudou graças a uma cliente famosa. "Em 1972, trabalhava em um dos salões mais badalados do Leblon e uma das minhas clientes era Scila Gaffrée Nogueira, mulher do general Garrastazu Médici. Ela fez um pedido [a ele], e eu nunca mais fui incomodada", conta Ruddy, que além cabeleireira, já publicou nove livros e atuou em três filmes. O principal deles foi "Navalha na Carne”, de Neville d’Almeida, com Vera Fischer. No teatro, a última aparição foi em “Divinas Divas”, ao lado de nomes como Rogéria e Jane Di Castro.
Casada no civil há um ano com Risonildo da Silva, a quem ela chama de Risô e é 51 anos mais novo, Ruddy ri e faz cara de espanto com a pergunta sobre a lista longa de ex-namorados, que inclui ex-presidentes da República e até ex-jogadores de futebol. "Geeeente. Não posso falar de ex-presidentes porque é perigoso, né? Vamos pular isso! Posso dizer que fui muito namoradeira sim e acho indelicado revelar nomes. Eu namorava porque queria mesmo casar, queria uma companhia. Estou no meu sétimo e derradeiro casamento".
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