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"Narcos" não é sobre Escobar, é sobre cocaína, diz Padilha sobre morte

James Cimino

Colaboração para o UOL, em Los Angeles

27/07/2016 20h13

O trailer da segunda temporada de “Narcos” divulgado nesta quarta-feira (27) chega com um grande spoiler, que na verdade não é um spoiler: Pablo Escobar (Wagner Moura) morre. Posto isso, qual o futuro da série? "A série não é sobre Pablo, é sobre cocaína", explica o diretor e produtor José Padilha.

O brasileiro deu algumas informações sobre isso, mas já avisou que traficantes brasileiros ficarão de fora da narrativa por um motivo simples: são apenas vendedores.
 
“A série trata de quem produz a droga, dos grandes traficantes que são a origem desta guerra. Claro que o Brasil tem muita violência gerada pelo tráfico, mas você não vê a DEA [agência americana de combate ao tráfico] mandando seus agentes para o Brasil, porque não é a fonte. A segunda temporada mostra que com a morte de Pablo, não apenas o tráfico de cocaína não acabou como aumentou", disse durante evento da Netflix nos Estados Unidos.
 
E com a saída de Moura, abre-se um espaço dramatúrgico, uma vez que Escobar é a estrela da série. Questionado sobre quem ocuparia esse espaço, Padilha foi evasivo, mas contou uma história interessante.
 
“Quando filme ‘Tropa de Elite’, o personagem do Wagner, o capitão Nascimento, era para ser um coadjuvante. Só que na hora da edição, percebi que ele era o personagem principal. É o que sempre acontece com o Wagner. Ele não consegue ser coadjuvante nunca.”
 
Questionado quem seriam as estrelas a partir de agora, os agentes da DEA ou se veríamos figuras como El Chapo, na série, novamente o diretor brincou: “El Chapo é peixe pequeno perto do Escobar. Nem dá pra comparar.” 
 
Moura também comentou a trajetória de seu personagem nesta segunda parte da história. “Escobar agora tem que reagir à perda de poder, ao fato de deixar de caçador para ser a caça. Mas ele, apesar de fumar muita maconha, sempre teve noção do que estava acontecendo com ele a partir do momento em que o governo decide não negociar mais com ele. Não era como o Hitler que já no bunker, totalmente cercado, achava que teria algum jeito.”
 
Lava Jato
 
Padilha, que também está produzindo uma série sobre a operação Lava Jato para a Netflix, falou um pouco sobre a situação política no Brasil após o afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT).
 
“Em primeiro lugar, essa história de que a Dilma é a presidente legítima do Brasil porque ela foi eleita é uma mentira. Todo mundo sabe que o dinheiro que a colocou no poder, assim como o Michel Temer e vários outros presidentes no Palácio do Planalto veio da corrupção, neste caso da Petrobras. E a Constituição brasileira é bem clara quanto a isso. Se você se elege com dinheiro sujo, não pode ocupar o cargo para o qual se elegeu.”
 
Também disse que se o Brasil achar que punir apenas o PT vai resolver o problema da corrupção, o país ficará dividido para sempre. “A Lava Jato não pode parar no PT, tem que pegar o PSDB, o PMDB e todo mundo. E eu conheço o pessoal lá de Curitiba. Tenho certeza de que eles querem ir até o fim com isso.”
 
Como ele e Moura são muito amigos e têm pontos de vista muito diferentes sobre a política no Brasil, a reportagem perguntou se eles discutiam muito sobre o assunto. Padilha disse que sim, mas que nos últimos tempos pararam. “Olha, o Wagner sempre foi contra o impeachment e eu sempre achei que isso é uma guerra de quadrilha. E, sendo assim, só posso defender que todos sejam presos.”
 
A série ainda não tem data para estrear porque está em processo de roteirização. “É complicado porque ela está sendo escrita ao mesmo tempo em que a história é reescrita. Espero que o Brasil não perca essa oportunidade e não puna apenas alguns.”