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"Não são caretas, são expressões", diz tradutora que brilhou em debate

A intérprete de Libras Gildete Amorim durante o debate dos candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro, na Band - Reprodução/Band
A intérprete de Libras Gildete Amorim durante o debate dos candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro, na Band Imagem: Reprodução/Band

Natália Guaratto

Do UOL, em São Paulo

26/08/2016 20h07

Gildete Amorim, a tradutora de Libras que virou meme na internet durante a transmissão do debate dos candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro pela Band, está feliz com a repercussão de seu trabalho. Na última quinta-feira (25), ela se destacou ao traduzir as falas dos candidatos Alessandro Molon (Rede), Carlos Osorio (PSDB), Flavio Bolsonaro (PSC), Índio da Costa (PSD), Jandira Feghali (PCdoB), Marcelo Crivella (PRB) e Pedro Paulo Carvalho (PMDB).

“Tenho recebido elogios pela minha expressividade, mas é importante dizer que a expressão corporal e a expressão facial são inerentes à língua de sinais. Não são caretas, são expressões. São formas que a gente utiliza para a comunidade surda entender melhor a linguagem de sinais”, diz Gildete em entrevista ao UOL.

Formada em fonoaudiologia, Gildete trabalha como intérprete há 22 anos e aprendeu a língua dos sinais aos 10 para poder se comunicar com a irmã, que é surda. Atualmente, ela é professora de Libras na Universidade Federal Fluminense. Em 2014, durante o debate dos candidatos ao governo do Rio de Janeiro ela já havia se destacado nas redes sociais.

“Fico surpresa, mas não com os memes, com a repercussão sobre a minha expressividade ou com o trabalho que eu faço de incorporar o jeito dos personagens, ou seja, dos candidatos que estão ali. O que me surpreende é a falta de conhecimento de muitas pessoas que não veem a língua de sinais como uma língua, muitos acham que a tradutora está fazendo algum tipo de peça teatral”, conta Gildete.

Gildete - Divulgação/Band  - Divulgação/Band
Gildete Amorim, tradutora de Libras, que se destacou durante o debate da Band
Imagem: Divulgação/Band

“Sou o ouvido dos surdos”

Gildete conta que fazer uma tradução ao vivo é um grande desafio e envolve muita concentração e rapidez. “Só tive acesso ao roteiro do apresentador 40 minutos antes”, diz ela, que se preocupa em não apenas traduzir as falas do apresentador e dos candidatos, mas também em transmitir o clima dos estúdios.

“Eu me preocupo com os detalhes. Teve várias interferências na fala da candidata Jandira, teve ‘fora querida’, vaias, teve algumas intervenções na fala do Bolsonaro também. Eu tentei colocar isso em tempo real. Se eu sou o ouvido dos surdos porque não passar todos esses detalhes que eu ouvi também para eles?”, conclui Gildete.