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Pablo morre mesmo, e não espere muito mais da segunda temporada de "Narcos"

Natália Guaratto

Do UOL, em São Paulo

02/09/2016 07h00

Há alguns meses, a Netflix fez o que faz de melhor e riu de si mesma para promover uma série. Soltou um spoiler para brincar com os fãs e avisou: Pablo Escobar morre. Como toda propaganda, faltou dizer a parte ruim. “Narcos” terá uma boa cena de morte e não esperem mais que isso. O UOL assistiu aos novos 10 episódios, que chegam ao serviço de streaming nesta sexta-feira (2), e adianta: é uma temporada inferior à de 2015.

Se o final da temporada não era surpresa para ninguém, o mesmo não se pode dizer da expectativa em relação à construção do clímax que levaria ao inevitável assassinato. Decepcionantemente, o que se vê no segundo ano de “Narcos” é mais do mesmo, mas falta inspiração.

A cativante figura de Pablo Escobar construída por Wagner Moura ainda está lá. Entocado desde a fuga de sua prisão particular, evento mostrado no season finale do primeiro ano, Pablo está de mãos atadas e, talvez por isso, a atuação de Moura não se sobressai.

Indicado ao Globo de Ouro no ano passado pelo papel, o ator contracena repetidamente com telefones e rádios transmissores. O poderoso chefão colombiano ainda ameaça os inimigos, mas sem o mesmo efeito de “plata o plomo”, bordão que estabeleceu o tom de “Narcos” e a transformou em uma das atrações mais celebradas de 2015.

Narcos - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
Os agentes Murphy e Peña caçam Escobar sem sucesso na segunda temporada
Imagem: Divulgação/Netflix
Verdade seja dita, a série respondeu, com mudanças interessantes, às críticas que a temporada inaugural recebeu. O espanhol de Wagner Moura, se é que algum dia incomodou, não atrapalha mais. Acusada de heroificar os feitos de Pablo, “Narcos” se redime e passa a retratá-lo como o terrorista que de fato ele se transformou.

Também romantizados e alçados ao posto de mocinhos, os policiais americanos Murphy (Boyd Hoolbrok) e Peña (Pedro Pascal) estão mais para bobos da corte. São várias as sequências em que eles aparecem perseguindo, sem sucesso, traficantes pelos becos de Medellín. Sem contar episódios inteiros dedicados a mostrar como os agentes eram enganados por todos os envolvidos.

É notável também a mudança na linguagem cinematográfica da série. A câmera nervosa, a edição rápida e o uso de imagens documentais, heranças de “Tropa de Elite” trazidas por José Padilha no primeiro ano, estão menos identificáveis. "Narcos" assume um ritmo mais lento e didático. Um tiro no pé para o público acostumado a consumir Netflix em modo maratona.

Existe vida após Pablo Escobar?

Com uma terceira temporada nos planos, “Narcos” ainda falhou em convencer que existe fôlego para uma continuação sem seu grande protagonista. Para Padilha e Eric Newman, criadores da série, enquanto houver cocaína, haverá história para ser contada.

Em sintonia com o discurso dos produtores, a temporada estabeleceu um gancho e até se esforçou para apresentar os sucessores do “patrón”. Que o lugar de Pablo na indústria das drogas foi ocupado não há dúvidas. Resta provar se a sucessão também funcionará na televisão. Até lá, o que se sabe é que Pablo morreu e “Narcos” também.