Topo

"É um complemento, não uma guerra", dizem youtubers sobre entrada na TV

Natália Guaratto

Do UOL, em São Paulo

14/09/2016 07h00

Não é de hoje que os programas de TV flertam com personalidades da internet. O próprio “BBB”, reality dos realities, já confinou web celebridades. Quem não se lembra de Tessália, famosa no Twitter antes de entrar na “nave louca” ou de Cacau, primeira youtuber a habitar a “casa mais vigiada do Brasil”. Em “Entubados”, programa atualmente exibido pelo Canal Sony, a TV parece ter finalmente encontrado um modo de lidar com influenciadores digitais: deixá-los produzirem o conteúdo.

Apresentado por Danilo Gentili nas noites de terças e quartas, a atração coloca oito youtubers (Gusta Stockler, Lucas Lira, Daniel Saboya, Malena Nunes, Taciele Alcolea, Pyong Lee, Taty Ferreira e Isadora Becker) para competirem na área que são especialistas: vídeos para a web. Em dois dias de confinamento por semana (com total acesso à internet), eles precisam criar um vídeo com tema pré-definido. Uma votação online define o campeão da tarefa. No fim da temporada, o vencedor ganha uma câmera profissional e uma viagem para os Estados Unidos.

Apesar de já terem público consagrado – juntos, os oito participantes do “Entubados” somam 23 milhões de seguidores em seus canais -, eles enxergam a entrada na televisão como oportunidade para chegarem a mais espectadores.

“São novos olhares que vão olhar para o YouTube com mais seriedade. Vi os colegas falando: ‘Agora vou poder explicar para a minha avó o que é meu trabalho’”. E é bem isso porque ainda tem aquela mentalidade de que internet é passatempo”, diz Daniel Saboya, professor de dança carioca que ensina coreografias em seu canal, em entrevista ao UOL.

“É um complemento, não uma guerra”

PyongLee - Reprodução/Instagram/pyonglee - Reprodução/Instagram/pyonglee
Celso Portiolli participa do canal de Pyong Lee no YouTube
Imagem: Reprodução/Instagram/pyonglee
Para Gusta Stockler, dono do canal No Me Gusta, a experiência do “Entubados” vai ajudar a derrubar o mito de que a internet vai matar a TV. “Quando surgiu o YouTube a televisão se sentiu intimidada, porque, de certa forma, os canais estão puxando o público audiovisual. O reality está provando que pode existir esse crossover. Depois que o programa passa na TV, ele vai para a internet. Enquanto estamos no ar, as pessoas estão comentando no Twitter. Vejo como um complemento, não uma guerra”, diz.

Convidados constantes de programas da TV aberta, os youtubers dizem que até o tratamento nas emissoras já é diferente. “Sou youtuber há cinco anos e já fui na Globo algumas vezes. No começo, nem citavam o nome do seu canal. Fui há alguns meses de novo e é outra coisa”, diz Taty Ferreira, que comanda o canal Acidez Feminina.

O coreano Pyong Lee, famoso pelos vídeos de ilusionismo e hipnose, conta que recentemente pode até opinar sobre a pauta que gostaria de fazer em programa vespertino da Record. “Antigamente eu era apresentado como “o mágico conhecido na internet”, fazia uma apresentação e já era. Esses dias eu fui no ‘Programa da Sabrina’ e fiquei o tempo todo. O reconhecimento está muito grande, nós somos as novas celebridades”, diz.

A contratação de Christian Figueiredo, dono do canal Eu Fico Loko, pelo “Fantástico” é citada pelos jovens youtubers como um bom exemplo da aproximação entre as mídias. “Vários youtubers já recusaram proposta das emissoras. Para o youtuber não é interessante porque a TV pega o cara, engessa ele, ele não vai poder aparecer em nenhuma emissora e algumas até pedem que ele delete o canal. Não faz sentido porque o cara não vai ser o cara”, opina Pyong.

Após o “Entubados”, eles dizem querer continuar na TV, mas desde que possam manter seus canais na internet. “Vontade de fazer série, cinema, todo mundo tem, mas o YouTube é a nossa casa, nosso filho, ninguém sai, a gente criou aquilo”, afirma Gusta. “A mentalidade ainda está errada, mas pode melhorar. É só ver o Celso Portiolli, em quatro meses o canal do cara tem mais de 1 milhão de inscritos e ele continua na TV”, conclui Pyong.