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Narrativa de "Supermax" exige paciência do público: saiba o que esperar

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

20/09/2016 07h00

Originalidade não é bem a palavra para definir "Supermax", nova aposta da Globo, que estreia nesta terça-feira (20), após "Justiça". A série deixa no ar em vários momentos a sensação de déjà-vu, com ecos de "Lost", "The Walking Dead" e da primeira temporada de "True Detective". O ar de novidade tem mais a ver com a entrada num terreno pouco explorado na TV aberta brasileira, mas de apelo universal - as fronteiras entre o thriller, o terror e o suspense.

As pistas são dadas aos poucos, e avançar até a ação propriamente dita exige uma certa paciência do público - especialmente de quem vai assistir pelo modo tradicional, às terças-feiras, pela TV. Com os 11 primeiros episódios disponíveis na plataforma Globoplay (para assinantes), é possível fazer uma maratona, mas não completa: o desfecho permanece desconhecido até dezembro, quando o último episódio vai ao ar. Não adianta gastar seu fôlego de uma vez: trata-se de uma corrida de longa distância.

A trama se desenrola no meio da selva amazônica, onde se encontra o presídio de segurança máxima desativado que serve de cenário para o reality show onde 12 pessoas disputam o prêmio de R$ 2 milhões. Se os trailers divulgados pela emissora faziam uma seleção dos momentos mais frenéticos e sangrentos, os primeiros episódios pisam no freio e são mais centrados nos conflitos entre os participantes.

Na estreia, a série se aproxima bem da linguagem de um reality show, não só pela presença de Pedro Bial, indissociável do "Big Brother Brasil", mas pela própria apresentação da dinâmica do jogo. Conhecemos o mínimo sobre cada um (o que eles querem ou podem divulgar sem se comprometer demais), as instalações do presídio e as regras da competição, que tem um líder e até uma espécie de "Big Fone" (com uma função bastante diferente, diga-se). 

Presídio de "Supermax", contruido no Projac, tem 11 metros de altura, 12 celas e uma área comum no térreo - Paulo Belotte/Globo - Paulo Belotte/Globo
Os participantes do reality ficam confinados em um presídio de segurança máxima
Imagem: Paulo Belotte/Globo

Até então, o único problema para os confinados parece mesmo a convivência: em pouco tempo Sabrina (Cleo Pires) e Timóteo (Mario César Camargo) viram desafetos, assim como Sérgio (Erom Cordeiro) e Artur (Rui Ricardo Diaz). Após o fim do primeiro episódio, no entanto, o público continua tão perdido quanto os participantes sobre o que vai acontecer: a única certeza que se tem é de que há algo de errado, possivelmente sobrenatural, entre as paredes do presídio, o que pode se tornar uma ameaça. A súbita falta de contato com o mundo exterior deixa no ar a dúvida se o jogo mudou de repente ou se agora é cada um por si. 

Assim como prometido no lançamento da atração, algumas respostas demoram a chegar: o passado de cada participante vem à tona em doses homeopáticas, em flashbacks espalhados ao longo dos episódios ou em confissões promovidas pelo confinamento ou pelo confronto, às vezes em situações um tanto forçadas ou comprometidas por atuações artificiais. Mas as resoluções para os principais mistérios da trama - o real perigo para os competidores - só vêm na segunda metade da temporada, quando a trama cresce significativamente, ao criar, enfim, a própria mitologia. 

Criada pelo diretor José Alvarenga Jr. e pelos roteiristas Fernando Bonassi e Marçal Aquino, "Supermax" tem uma missão difícil a cumprir: agradar ao público acostumado ao melodrama que ainda impera na TV aberta e aos fãs de séries ávidos por novas histórias. Seu maior mérito, portanto, é o investimento em gêneros considerados de nicho e em testar limites ao tratar de temas com grande possibilidade de rejeição. Além disso, é louvável a iniciativa de apostar em nomes pouco conhecidos na televisão - a própria presença de Mariana Ximenes e Cleo Pires em duas produções simultâneas ("Haja Coração") é a prova de que a renovação é sempre bem-vinda.