O rio depois de Velho Chico: novela turbina turismo e preocupação ambiental

Durante os meses em que esteve no ar, a novela "Velho Chico" levou o brasileiro a viajar pelas histórias, culturas e lendas que habitam o rio que nasce em Minas Gerais e corta Pernambuco, Bahia, Alagoas e Sergipe até chegar ao mar. Os encantos do rio despertaram a curiosidade de novos turistas e as questões ambientais, como a preocupação com o manejo da terra na região, também ganharam força fora das telas.
“A novela foi uma excelente surpresa para todos nós que cuidamos do São Francisco, a começar pelo nome carinhoso do rio usado no título. Ela deixa uma mensagem importante para os brasileiros: o rio precisa do cuidado de todos nós agora ou será tarde no futuro”, diz Maciel Oliveira, vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco – órgão que une representantes do poder público e da sociedade civil para a fiscalização e ações de proteção do rio.
“Nos sentimos muito representados. Ali estão problemas comuns no nosso dia a dia. São situações que mostram como as hidrelétricas impõem suas forças e como elas têm relação com as questões políticas nas cidades”, analisa Oliveira, que acredita que a novela deixou as pessoas mais conscientes dos problemas, o que fará com que cobrem mais do poder público.
“A novela chama a atenção para o absurdo que é 90% dos municípios banhados pelo São Francisco jogarem seus esgotos no rio e para o perigo da diminuição da vazão das águas, controlada pelas hidrelétricas, que contribui para a salinização do São Francisco”, complementa.
Oliveira destaca ainda o simbolismo do personagem Zé Pirangueira (José Dumont), que vê os peixes morrerem e reflete a degradação do rio: “Ele representa muitos dos moradores dessa região, que vivem do rio para sobreviver. O desaparecimento dos peixes está tirando o sustento deles. E, assim como o personagem, muito terminam caindo no alcoolismo”.
Turismo em alta
A beleza e a cultura do rio presentes em “Velho Chico” fizeram muita gente querer conhecê-lo de perto. A ida de turistas para a região aumentou consideravelmente, segundo os moradores das cidades ribeirinhas. “Um aumento em torno de 25%”, afirma o empresário Manoel Foguete, dono de uma empresa de passeios ecológicos em Canindé de São Francisco (SE).
A empresa criada por Foguete há 20 anos é responsável por dois dos principais roteiros turísticos feitos por quem visita o local. O primeiro, cujo ponto de partida é Canindé, leva os visitantes para conhecer e se banhar nas águas verdes do chamado Cânion de Xingó. O outro é a Rota do Cangaço, que refaz parte da história do cangaceiro Lampião e visita o local onde ele e seu bando – incluindo a mulher, Maria Bonita – foram assassinados em meio à caatinga do Sertão.
“Nossa região é privilegiada e gerida pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, ligado ao Ibama), bem fiscalizada. O turismo da gente tem consciência da preservação”, diz Foguete.
Outra sede de gravações de “Velho Chico” foi Piranhas (AL). Tombada como patrimônio paisagístico e histórico do Brasil, a vila fundada no século 19 também viu, nos últimos meses, aumentar o número de turistas nas suas ruas de arquitetura neocolonial. Dono de uma pousada na cidade, o arquiteto recifense Álvaro Moreira conta que a chegada de visitantes cresceu bastante, sobretudo de pessoas de fora do Nordeste. “Ficou visível o crescimento dessa procura. Principalmente entre pessoas do eixo Rio-São Paulo”, diz.
Moreira é pesquisador da cultura local e lembra que por aquela região passou Dom Pedro II, em 1859, durante sua expedição pelos estados nordestinos. O arquiteto atualmente se dedica a ações de revitalização da cultura popular de Piranhas. Na pousada Casa, num sobrado do século 19, ele também criou uma espécie de espaço cultural onde acontecem apresentações artísticas e são oferecidos cursos e oficinas de música.
“Recriamos um pastoril, folguedo típico do Nordeste, e conseguimos fazer uma oficina de sanfoneiros”, conta Álvaro Moreira. “Essa é uma região em há uma forte cultura indígena. São lugares onde as pessoas fazem e vendem acessórios artesanais de pesca, e também habitam lendas como a do Negro D’Água, uma figura brincalhona das águas do rio”, conta o pesquisador.
Carrancas, amuleto dos barqueiros
Embora não tenha sido set das gravações da novela, a cidade de Petrolina (PE) também virou destino de turistas encantados com as histórias do São Francisco. “Durante a fase de pesquisa, parte da equipe esteve aqui conversando com a gente, querendo saber mais sobre a nossa cultura”, conta Maria da Cruz, filha da artesã Ana das Carrancas, símbolo do artesanato da cidade.
Segundo a artesã, a venda das carrancas também aumentou. “A gente está recebendo turista de vários estados e cidades. A venda cresceu uns 50%”, conta. “E acho que vai crescer ainda mais. Porque na nova novela das 21h, ‘A Lei do Amor’, vão usar também nosso artesanato como cenário. A equipe da novela já veio aqui é comprou duas carrancas grandes nossas para usar.”
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