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Do rádio aos youtubers: Groisman agrada gerações e planeja novo programa

O apresentador Serginho Groisman comanda o "Altas Horas" há 16 anos - Reinaldo Marques/TV Globo
O apresentador Serginho Groisman comanda o "Altas Horas" há 16 anos Imagem: Reinaldo Marques/TV Globo

Giselle de Almeida

Do UOL, em São Paulo

15/10/2016 07h00

Outro dia, Serginho Groisman ficou "surpreso e agradecido" com um pedido pouco usual de um fã pré-adolescente: um autógrafo, daquelas lembranças à moda antiga. Há quase 30 anos na TV e há exatos 16 à frente do "Altas Horas", na Globo, Serginho Groisman é da era das selfies, do tipo que assiste ao programa de olho no Twitter e dá espaço para fenômenos da internet como Whindersson Nunes. 

Mantém pulsando um formato que começou no rádio com o programa "Matéria Prima", nos anos 90 – ele comenta, orgulhoso, que a atração está em um de seus melhores momentos em termos de audiência, que oscila entre 11 e 13 pontos. E consegue a façanha de se comunicar com diferentes gerações de jovens numa época em que referência são os youtubers.
 
Como manter esse diálogo renovado? "Primeiro, é o fato de não me posicionar como adolescente. Segundo, não ser o protagonista. Protagonistas são a plateia, os convidados. Eu dou uma regida nessa orquestra", analisa.
 
Serginho Groisman e o youtuber Whindersson Nunes nos bastidores "Altas Horas" - Reinaldo Marques/TV Globo - Reinaldo Marques/TV Globo
Serginho e o youtuber Whindersson Nunes nos bastidores "Altas Horas"
Imagem: Reinaldo Marques/TV Globo
A situação confortável, no entanto, não o impede de querer dar um passo além: em breve, o paulistano de 66 anos pretende apresentar um novo projeto à emissora. 
 
"Tenho ideia, que muita gente tem, que é ter um programa de entrevistas. Passei todos esses anos dividindo com a plateia. Vai ter um formato um pouco diferente, mas ainda não posso falar sobre. Mas quero fazer isso também, porque isto [o 'Altas Horas'] não quero abandonar", conta ele, que recebeu o UOL no camarim no intervalo entre a gravação e a edição do programa que foi ao ar no último sábado.
 
Fora do estúdio, a conversa com o público é tranquila, garante Serginho. Adepto de uma rotina discreta, ele diz que a abordagem nunca é invasiva e costuma receber, quase sempre, elogios sobre os programas. Quer dizer, costumava. Há pouco mais de um ano, o assunto principal das conversas é seu filho, Thomas, nome pronunciado com um sorriso todas as vezes.
 
"Falo muito do Thomas, ele é conhecido nacionalmente. Não coloco fotos, mas o amor que tenho por ele é tão absoluto... Já compus música, é uma delícia. Ele é o que as pessoas mais falam, brincam, recebo muito carinho. Legal que consigo compartilhar desse jeito", comenta ele, casado com a dentista Fernanda Molina.
 
A rotina precisou se adaptar: tudo ficou mais enxuto, diz Serginho. “Faço tudo com ele. Não tenho ido tanto ao cinema. Se tenho um aniversário de adulto, aviso: 'Estou indo com ele’. Somos nós três agora”, comenta ele, que diz ter ficado mais compreensivo também em relação aos pais. “Você começa a entender as preocupações com os horários, as saídas. Quando você fica adolescente não quer compartilhar as coisas. Hoje eu entendo”, analisa.
 

Programa fora do óbvio

Cerca de meia hora antes de a gravação começar para valer, Serginho mantêm uma tradição que criou há muitos anos: entretém a plateia para quebrar o gelo. Os intervalos entre um bloco e outro são breves, e o programa segue no ritmo com que vai ao ar, sem interrupções.
 
“Não quero que eles saibam exatamente quando começa a gravação. Quando começa, as pessoas já estão mais tranquilas, já sabem as bandas que vêm, estão mais relaxadas e eu também. A ideia é naturalidade, procuro isso”, conta ele, que antes de uma trajetória bem-sucedida na TV, com passagens pela Gazeta, Cultura e SBT, acumulou experiências como repórter em jornais e em rádio e como professor na Faap, em São Paulo. 
 
Serginho Groisman apresentou no "Altas Horas" sua porção cantor - Reinaldo Marques/TV Globo - Reinaldo Marques/TV Globo
Serginho Groisman apresentou no "Altas Horas" sua porção cantor, interpretando a música que fez para o filho, Thomas
Imagem: Reinaldo Marques/TV Globo
Depois de mudar de horário, ficando colado ao “Zorra”, e de dar uma popularizada, o “Altas Horas” voltou a ficar com a cara de Serginho, que gosta de oferecer um cardápio menos óbvio aos telespectadores.
 
“A televisão entrou em um determinado momento em que tudo era um pouco parecido, musicalmente, nas entrevistas. Fico muito feliz de trazer Caetano, Gil, Paulinho da Viola, Ney Matogrosso, Emicida, e ver que as pessoas assistem. Elas estão em busca de histórias e de sons que não são os de sempre”, opina ele, que na TV costuma assistir a programas de jornalismo e esporte e se apaixonou recentemente pela minissérie “Justiça”.
 
Nesse balanço, entram na equação, além do entretenimento, assuntos mais sérios. Uma das próximas bandeiras do programa é debater as mudanças na educação. 
 
“A gente vai começar uma discussão frequente do que é a escola, pública e privada, qual é o papel do estado, do educador, dos pais e desse novo aluno”, adianta ele, que também gosta de contar histórias de interesse humano. Assim, o roteiro pode pinçar alguém da plateia que foi vítima de homofobia ou é portador do vírus HIV.
 
“Acredito muito que o programa possa ter energias diferentes, não precisa ser inteiro só alegria nem só coisas pesadas. Cabem todos os sentimentos”, diz.