Drag mais pop da web, Lorelay Fox faz sucesso falando de aceitação
De cabelos platinados, boca rosada, cílios enormes e pele saudável. Assim nasceu uma diva no Youtube. Em seu canal Para Tudo, lançado há cerca de um ano e meio e que já conta com mais de 180 mil inscritos, Lorelay Fox se tornou referência pela espontaneidade em tocar assuntos sérios, tantas vezes polêmicos, com a mesma facilidade com que dá dicas de beleza. Não demorou para a drag queen mais pop da web virar sensação. Em 2016, ela lançou livro ("Over the Rainbow", que revisita contos de fada para dar a eles uma roupagem LGBTT, feito em parceria com mais quatro autores), foi parar na TV e se especializou em dar palestras.
“Eu já não tinha muita coisa para fazer na minha cidade. Pensei: ou paro de me montar ou faço alguma coisa diferente. Realmente mudei a minha estratégia de comunicação”, diz ele, que passou a conciliar os shows com a nova atividade.
Mas nem mesmo imbuído das melhores intenções ele poderia imaginar o alcance e nem o desafio que teria. O sinal amarelo acendeu depois que seu segundo vídeo, sobre a diferença entre drags e transexuais, viralizou: “Eu quis criar um canal que falasse desse universo, mas não achava que as coisas sairiam dessa forma. Achei que falaria de temas como maquiagem, ou coisas assim, mas percebi que as pessoas precisavam que eu comentasse assuntos mais relevantes, como preconceito e aceitação”.
Em seu canal, Danilo cria identificação com seu público a partir de uma linguagem direta e acessível. Enquanto personalidade da internet, conta curiosidades de sua própria vida e narras experiências pessoais a fim de chegar a temas mais aprofundados. Não tem constrangimento em falar, por exemplo, de sua “infância viada”. Ele afirma que, contrariando a maioria, não enfrentou conflitos ao se descobrir gay - situação vista por ele como um privilégio, que não deixa de servir de elemento para ajudar quem o acompanha.
A aceitação sem dramas por parte da família aos 12 anos, no entanto, não evitou que Danilo se visse diante de situações de bullying: "Eu sabia que na minha família eu tinha um lugar de proteção, algo que não acontece na maioria das vezes. Os gays muitas vezes sofrem na escola e não podem contar para os pais porque em casa vão sofrer ainda mais. Eu fui alvo de preconceito, mas nunca sofri com ele".

Criatura e criador podem se confundir para o público, mas na concepção de Danilo Dabague está claro que a drag Lorelay Fox é o meio encontrado por ele para propagar as suas ideias. É por isso que, depois de algum tempo de canal, ele resolveu aparecer, também, de cara limpa. Passou, então, a se revezar nos vídeos como ele mesmo e a personagem.
“Acho que faz parte do papel de youtuber ser transparente. Por mais que eu tenha uma personagem que fale, ela está falando as coisas que eu criei. Às vezes é bom que eu apareça para que as pessoas saibam que eu existo e também para ajudá-las a se identificar. Ao mesmo tempo que fiquei constrangido no começo de aparecer, foi muito libertador”, explica ele, que procura revelar o rosto quando trata de assuntos mais pessoais.
O publicitário comenta a curiosa experiência de quando, em Londres, foi encontrar uma fã que o conhecia apenas pelo canal. “Ela foi no ponto turístico e não conseguia me achar porque na cabeça dela eu estaria montado. Por mais que ela veja os vídeos e saiba que eu não sou assim, é tão automático pensar que sou aquela pessoa... E isso não é legal porque é só um trabalho artístico”, diz.
A montagem, inspirada sobretudo nas drags que o ensinaram a se montar e em grandes divas como Jennifer Lopez e Beyoncé, leva até duas horas e meia para ficar pronta. Danilo costuma fazer quase tudo sozinho: elaboração do figurino, maquiagem, roteiro, edição e o momento de postar no YouTube. Tem ajuda de um amigo para operar a câmera e contratou um assessor para cuidar de sua agenda, deixando-o livre para se preocupar exclusivamente com o canal.
Vida de youtuber
Olhando de fora, parece tranquilo, mas a vida de youtuber não é nada fácil, garante o jovem intérprete de Lorelay. Ele, que trabalha de casa para uma agência de publicidade, explica que o faturamento com um canal hospedado no site de vídeos na maior parte não representa uma nova carreira.
“As pessoas acham que a gente fica rico, mas não é assim. Ainda mais por ser um canal de nicho, bem voltado para um publico específico, é difícil conseguir anunciantes e patrocínio. As marcas não querem se envolver com um conteúdo tão delicado. São poucas as que conseguem se posicionar a esse respeito”, esclarece. “Ganho mais dinheiro fazendo palestras e shows do que com o próprio canal."
Neste ano, ele teve pela primeira vez a experiência de falar para um público bem mais amplo do que o do canal: do programa “Amor & Sexo”, da Globo. Lorelay participou como consultora da atração de Fernanda Lima. Apesar da visibilidade que uma emissora aberta pode oferecer, ele faz questão de desmistificar que não há transferência proporcional no número de telespectadores para seu canal: “Você não ganha 100 mil seguidores só porque apareceu na televisão”.
“A grande diferença está no respeito que as pessoas têm por você. Se você apareceu na Rede Globo, vão te enxergar de uma maneira completamente diferente. Isso me deu uma autoridade maior. Abre portas nesse sentido”, afirma.
Danilo diz, ainda, ter ficado satisfeito em poder ajudar a dar voz a uma minoria. “O programa procurou mostrar esse trabalho [de drag queen] sem ser de uma maneira caricata. [Mostrou] o que a gente vive, quais são nossas questões e não estar lá só para o povo rir e pro Silvio Santos fazer piada. Precisamos dominar os espaços onde sempre fomos invisíveis. Mudou a história das drags e todas ficaram muito felizes”, se orgulha ele, que depois do “Amor & Sexo” teve a experiência de encarnar sua Lorelay em bate-papos com Marília Gabriela e Ivete Sangalo.
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