Sobrinha diz que descobriu história de Roberta Close em programa de TV
“Descobri que ela era a Roberta Close na televisão.” Sobrinha da ex-apresentadora e modelo, Carolina Gambine, de 24 anos, não fazia ideia sobre quem realmente era a musa dos anos 80 quando a viu ao lado de Silvio Santos no “Em Nome do Amor” no final da década de 90.
No programa, em que Silvio unia casais após a famosa pergunta “É namoro ou amizade?", Close ganhou uma homenagem e teve sua trajetória retratada. Foi assim que a sobrinha da primeira mulher transexual a posar para as páginas da “Playboy” no Brasil soube quem de fato ela era e o que representava. Até então, a modelo era somente uma tia querida, irmã de seu pai.
“A produção do programa entrou em contato com a minha família e esquematizou tudo para que ela não soubesse da surpresa. Eles queriam alguém para interpretá-la na infância, e eu acabei fazendo porque era igual a ela”, diz Carolina ao UOL, que lembra como tinha o rosto rechonchudo igual ao da tia famosa quando era criança. “Mas só no dia da exibição é que eu, ao assistir, descobri que ela era a Roberta Close.”
Formada em artes cênicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e modelo fotográfica, Carolina recorda ainda que a reação com a descoberta não chegou a ser de espanto, mas de curiosidade. Estar inserida no universo de Roberta Close, acredita, facilitou seu entendimento: “Eu falei: ‘Vovô, o que aconteceu? É verdade?’ Eu aceitei de maneira natural porque fui criada muito próxima a ela, que sempre teve muitas amigas trans e andróginas. Ela tinha um amigo que usava cabelo comprido, se maquiava e usava roupa de homem. Era sem gênero. Eu cresci vendo isso”, diz.
A facilidade de aceitação, no entanto, não foi a mesma para o seu avô, pai de Roberta Close e com quem ela mora atualmente no centro do Rio de Janeiro. O burburinho entre os amigos, conta, criou uma barreira em seu avô que hoje, aos 85 anos, não só compreende melhor a filha como até a defende.
“Eu aceitei quase que espontaneamente, mas para ele foi mais difícil. Não era pela Roberta, mas pelas amizades. Quando ela saiu na capa da ‘Close’ [título da publicação que foi adotado pela modelo como sobrenome artístico] era aquela fofoca... Ninguém sabia de nada direito. Os amigos dele implicaram e fizeram crescer o preconceito nele. A gente é fruto do meio em que a gente vive. Se vive em um meio preconceituoso, você tende a reproduzir isso. Mas hoje ele é desconstruído. Se alguém se refere à Roberta no masculino ele corrige”, garante.
"Nunca vou ser igual à Roberta"
A relação de Carolina Gambine com Roberta Close se tornou ainda mais próxima após a morte de seu pai, irmão da modelo: “Ela sentiu muito e nos aproximamos ainda mais. Nossa relação ficou mais profunda. Ela me buscava na escola, íamos à praia... Ela fez parte da minha criação”.
A trajetória da tia, inclusive, passou a ser acompanhada de perto pela sobrinha. Ela ainda se lembra dos comentários preconceituosos que ouvia a respeito da modelo. “Diziam: ‘Ela é homem’. Na escola, faziam questão me perguntar sobre ela no masculino e eu dizia: ‘Não sei de quem você está falando’. Isso me incomodava e eu a defendia.”
A coragem e determinação de Roberta também são fonte de inspiração para Carolina. "Ela é muito determinada e admiro, também, a coragem dela. Ela nadou contra a maré nos anos 80 e conseguiu se tornar uma mulher respeitada. Ganhou visibilidade, representatividade e, de maneira delicada, tocar em um assunto tão chocante ainda mais para aquela época”, afirma.
Carolina mantém contato com a tia principalmente pelo telefone e redes sociais, já que ela mora na Suíça e por enquanto não tem planos de se mudar definitivamente para o Brasil. E revela que recebe de Roberta Close os melhores conselhos: “Ela diz: ’Não arruma namorado que você é nova. Tem que aproveitar sua vida’. Ela é amiga e muito parceira.”
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