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Gisele, Rodrigo Santoro: fotógrafo abre baú e revela bastidores de ensaios

Gisele Alquas

Do UOL, em São Paulo

17/12/2016 07h00

Com mais de 30 anos de profissão, o renomado fotógrafo Angelo Pastorello já clicou desde o atual presidente do Brasil, Michel Temer, ao rapper Vanilla Ice no auge, passando por uma iniciante modelo Gisele Bündchen, aos 14 anos. Com seis fotos imortalizadas no livro lançado pela übermodel em 2016, ele se notabilizou pelos registros inusitados de artistas. São dele, cliques como o que mostra Rodrigo Santoro agachado na janela do segundo andar do hotel Copacabana Palace, o ator e diretor Cacá Rosset com uma calcinha na boca e Maria Fernanda Cândido fazendo pose quando ainda era modelo.

Pastorello se sente orgulhoso por ter sido um dos primeiros profissionais a fotografar Gisele, definida por ele como uma menina meiga e extrovertida. “Ela tem uma desenvoltura ótima. Voltei a fotografá-la aos 16 anos para um editorial da revista ‘Capricho’ e foi maravilhoso. Sabia que Gisele tinha potencial mas jamais iria imaginar que ela se transformaria neste fenômeno das passarelas”, relembra o fotógrafo, que recebeu a reportagem do UOL em seu estúdio na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo.

Rodrigo Santoro é outra celebridade que está entre os preferidos de Pastorello para trabalhar. Ele fotografou o ator em 2011, em uma tarde no hotel Copacabana Palace, no Rio, para a divulgação do filme “Heleno”, sobre a trajetória do jogador Heleno de Freitas. Parte do ensaio foi feito no segundo andar do hotel. Pastorello conta que sugeriu que Santoro subisse na janela, o que ele prontamente atendeu.

O fotógrafo Angelo Pastorello tem 57 anos e mais de 30 de profissão - Lucas Lima/UOL - Lucas Lima/UOL
O fotógrafo Angelo Pastorello tem 57 anos de idade e mais de 30 de profissão
Imagem: Lucas Lima/UOL

“Ele não só subiu na janela como de repente fez uma pose agachado e até brincou com as pessoas que estavam lá em baixo. Foi um susto, mas deu tudo certo. Me pediu para que não o tratasse como modelo, mas como ator”, conta.

Rock x fotografia
No laboratório onde passa a maior parte do tempo, Pastorello ainda revela e amplia manualmente suas fotografias. Em plena era digital, é assim que o fotógrafo de 57 anos recém completados mantém intacta a paixão que surgiu aos 14, durante um curso para iniciantes na escola. Ele conta ter ficado em dúvida, inicialmente, entre a nova profissão e a carreira como baixista da banda Violeta de Outono, que alcançou algum sucesso no cenário do rock nacional do fim da década de 1980.

“A Violeta tem uma importância muito grande na minha vida, mas como músico eu sou um ótimo fotógrafo”, brinca. “Comecei a estudar música e fiquei muito dividido na época, mas quis a fotografia. Um dos meus primeiros grandes trabalhos foi para a revista ‘Vogue’, tinha uns 22 anos. Depois fiz um editorial para a revista ‘Casa Claudia’, e não parei mais.”

Claudia Raia e Nicole Puzzi foram as primeiras artistas que Pastorello fotografou, no início dos anos de 1990. Desta época, lembra ainda ter fotografado uma Patrícia Pillar que começava a atuar. Ao longo de sua trajetória, o fotógrafo tem uma única frustração: perder a melhor foto que diz ter tirado do ator Ney Latorraca.

Era 1996 e Pastorello havia acabado de fotografar o cineasta Zé do Caixão e se preparava para fotografar Latorraca para uma revista. A espontaneidade do ator conquistou o fotógrafo: “Ele sentou e me disse: vou chorar com um olho só, e realmente saiu lágrima de um olho só. Ele estava de terno, mas tirou a calça e ficou de cueca samba-canção. Fiz um material incrível com ele. E também tirei algumas fotos na máquina polaroide. Fui revelar todo ansioso para ver o resultado, mas perdi tudo. Não basta ter experiência. Lembrei das três fotos que tirei da polaroide, mandei uma para a revista e eles adoraram. Não me perdoo até hoje por esse erro”, lamenta. 

Rodrigo Santoro é outra celebridade que está entre os preferidos de Pastorello para trabalhar. - Angelo Pastorello/Divulgação - Angelo Pastorello/Divulgação
Rodrigo Santoro se agachou da janela do segundo andar do hotel Copacabana Palace
Imagem: Angelo Pastorello/Divulgação

Mas nem sempre o “modelo” ajuda. Pastorello conta que já teve artistas que deram muito trabalho durante sessão de fotos, mas afirma nunca ter perdido a calma. “Nunca desisti de um trabalho, mas já pensei enquanto estava fotografando que não iria conseguir concluir. Foi com um ator que estava aqui com crianças e foi bem difícil. Acho que ele não estava em um bom dia.  Mas sou tranquilo, não bato de frente. Trato as pessoas iguais, não importa se é conhecido ou desconhecido”, afirma.

O mais importante no nu é o quanto você consegue chegar na sua proposta. Fotografar para a ‘Playboy’ é muito sério, envolve toda uma equipe, não tem constrangimento

Nu ou com roupa
Nas paredes do estúdio de fotografia, encontram-se diversos retratos e paisagens que estiveram nas 19 exposições realizadas por ele entre Brasil, Cuba, Itália e Estados Unidos.

Pastorello também já integrou o time de colaboradores da “Playboy” e não vê diferença entre o nu e com roupa. “Fotografei a Monia Apor [jornalista] e a atriz Marcela Pignatari. Ambas foram ótimas modelos. O mais importante no nu é o quanto você consegue chegar na sua proposta. Fotografar para a ‘Playboy’ é muito sério, envolve toda uma equipe, não tem constrangimento”.

Questionado com quem mais gostou de trabalhar, Pastorello prefere não se comprometer, mas revela que a modelo Fernanda Tavares e a atriz Maria Fernanda Cândido são duas das mulheres mais fotogênicas com quem já trabalhou. E quem ainda gostaria de fotografar? “Cindy Crawford", ele responde sem hesitar. "É a mulher mais linda que eu já vi pessoalmente."

E já que os nomes das celebridades mais difíceis nas sessões de fotos estão vetados, para quem o fotógrafo não gostaria de apontar suas lentes? Novamente diplomático, ele pensa e diz: “Não curto trabalhar com mulheres com o corpo masculinizado. Para fotografar é mais difícil."