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Drama invade os bastidores do reino das telenovelas mexicanas

Em novembro, a Netflix rompeu com a Televisa fazendo piada sobre novelas mexicanas - Reprodução
Em novembro, a Netflix rompeu com a Televisa fazendo piada sobre novelas mexicanas Imagem: Reprodução

Andrea Navarro

Bloomberg

11/01/2017 19h02

Os tórridos casos de amor e traições das novelas do horário nobre do Grupo Televisa não se comparam com o drama que está se desenrolando nos bastidores da companhia na vida real.

Na sala do conselho do rei das telenovelas mexicanas, os executivos acabaram de finalizar aquele que está projetado para ser o ano menos rentável da companhia em mais de uma década.

Contratos lucrativos foram cancelados, programas emblemáticos foram eliminados, empregos foram cortados e os executivos se defenderam de acusações não comprovadas de propinas ilegais.

E, o que foi o último golpe de 2016, a família bilionária que administra a maior e mais antiga emissora do México cancelou seu programa anual de Natal, repleto de celebridades, um sinal do ambiente difícil.

O ano que vem pela frente não parece ser muito melhor. O conglomerado está perdendo público porque demorou para se adaptar às mudanças das preferências e às novas tecnologias, e ficou vulnerável às incursões do Netflix e da HBO no México – em outubro, a Netflix tirou de seu catálogo as novelas da Televisa e fez piada sobre as novelas mexicanas.

Além disso, a presidência de Donald Trump ameaça enfraquecer a segunda maior economia da América Latina e reduzir a receita obtida em dólares com publicidade, enquanto uma desvalorização de dois anos do peso torna ainda mais difícil para a Televisa pagar sua dívida em dólar usando a moeda local.

"A situação da Televisa é muito complicada", disse Jorge Unda, que administra cerca de US$ 35 bilhões em ativos como diretor de investimento na América Latina do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria, na Cidade do México. "Ela precisa se redefinir em muitas áreas, mudar de tamanho e se adaptar ao novo clima."

A carga é pesada para qualquer empresa, mas, para uma instituição de 62 anos que já gozou de financiamento implícito do governo e, mais recentemente, enfrentava pouca concorrência, os investidores temem que seja mais do que ela pode suportar.

As ações e as dívidas da companhia refletem essa preocupação. Seus recibos de depósito americanos perderam quase metade do valor desde junho de 2015 e os papéis da Televisa no valor de US$ 1 bilhão com vencimento em 2045 caíram 17% desde setembro, para 87,6 centavos de dólar.

Em um comunicado, a Televisa informou que precisa mostrar crescimento nas vendas de propaganda após a estabilização do ano passado. A receita obtida com comerciais de TV permaneceu inalterada nos três primeiros meses de 2016, em contraste com uma queda de quase 10% em 2015. "Esse foi um primeiro passo importante", disse Mario San Martín, porta-voz da companhia, que informará os resultados do quarto trimestre no próximo mês.

"Eles terão que continuar fazendo ajustes", disse Unda, do BBVA. "Eles vão continuar perdendo público e receita de publicidade, por isso eu acho que, estruturalmente, a companhia está em uma situação muito complexa."