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Com toques de Tim Burton, nova versão de "Desventuras" é mais fiel ao livro

Desventuras em Série - História - Divulgação/Montagem UOL - Divulgação/Montagem UOL
Imagem: Divulgação/Montagem UOL

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

13/01/2017 10h49

Em sua primeira incursão fora das páginas dos livros, o filme de 2004 com Jim Carrey, “Desventuras em Série” não teve qualquer envolvimento de seu autor, Daniel Handler, na elaboração dos roteiros. Mas na nova versão da história, que chega à Netflix nesta sexta-feira (13), treze anos depois, Handler não só assina os roteiros como também atua como um dos produtores executivos – o que faz muita diferença para quem acompanha a saga.  

Para os fãs de primeira viagem, a história segue os infortúnios dos três órfãos Baudelaire, Violet (Malina Weissman), Klaus (Louis Hynes) e Sunny (Presley Smith). Após perderem os pais em um incêndio misterioso, eles têm de ficar com um guardião até que a mais velha, Violet, complete 18 anos e tenha acesso à fortuna da família. Mas eles acabam nas mãos do cruel Conde Olaf (Neil Patrick Harris), que está de olho no dinheiro das crianças, e, a partir daí, quase nada de bom acontece. Não à toa, o tema de abertura da série tem um recado claro: “look away” (ou ‘é melhor não olhar’, na versão em português).

Em "Desventuras em Série", após a trágica morte de seus pais, os órfãos Violet (Malina Weissman), Klaus (Louis Hynes) e Sunny são colocados sob a guarda de Conde Olaf (Neil Patrick Harris), que quer roubar a herança das crianças - Netflix/Divulgação - Netflix/Divulgação
Neil Patrick Harris ficou irreconhecível para fazer vilão que tenta roubar fortuna de três órfãos
Imagem: Netflix/Divulgação

Mais do que ser fiel aos acontecimentos literários, que no longa acabaram prejudicados pela necessidade de se condensar três livros em menos de duas horas, a série consegue ser fiel à essência da triste trajetória dos órfãos. O narrador, Lemony Snicket (alter ego de Handler, interpretado por Patrick Warburton) volta e meia aparece em cena para aconselhar que o espectador vá ver outra coisa, assim como nos livros, e a série ainda mantém um clima de fábula, com uma pontinha de esperança em meio à sequência de problemas.  

O formato de série, claramente, beneficia a adaptação. Na telinha, cada um dos livros ganhou dois episódios – ou seja, pelo menos 1h30 – para desenvolver sua história, o que previne cortes abruptos que, muitas vezes, acabam prejudicando aqueles espectadores que não estão familiarizados com a obra original, bem como mudanças de trama que podem mexer com os ânimos dos fãs mais puristas.

A trama sombria é acompanhada de um visual imaginativo e carregado nas cores, que invoca diretores como Tim Burton (que, ironicamente, esteve ligado ao projeto do filme no passado) e Wes Anderson.  Também se sobressai o humor irônico, e frequentemente metalinguístico, trazido principalmente por Watburn e por Harris, bem acompanhados por coadjuvantes como Joan Cusack e Alfre Woodward, que entregam performances divertidas como a juíza Strauss e a tia Josephine, respectivamente. Assim como a maior parte dos personagens adultos da série, elas caem facilmente nas armadilhas do conde e isso, em vez de ser apenas ridículo, é deliciosamente engraçado de se ver, assim como nos livros.

Com a missão de liderar o elenco e fazer a trama se mover, Harris está visivelmente à vontade no papel de Conde Olaf. Ele se entrega aos absurdos do personagem, um ator canastrão extremamente narcisista e vilanesco, e vai mostrando novas faces dele a cada disfarce que assume em sua caçada às crianças.

“Desventuras em Série” se prova uma produção divertida até mesmo para quem não tem familiaridade com os 13 livros de Handler. E quem for fisgado, já pode se preparar: em entrevista à imprensa internacional, Handler afirmou que já trabalha na segunda temporada da série que, se confirmada pela Netflix, deve ter 10 episódios. 

Confira 4 diferenças entre a série e o filme

Os Condes Olaf

Desventuras em Série - Olaf - Divulgação/Montagem UOL - Divulgação/Montagem UOL
Imagem: Divulgação/Montagem UOL

Em termos de ameaça às crianças, o Olaf de Carrey no filme de 2004 é muito mais contido do que o de Harris, que volta e meia reafirma sua maldade na série. O humor, com Carrey, também é mais leve, lembrando alguns de seus famosos papeis entre os anos 1990 e os 2000, como "O Máscara" (1994) e "O Mentiroso" (1997). Já com seu sucessor, a comédia ganha tons mais estridentes e irônicos. 

O visual

Desventuras em Série - Visual - Divulgação/Montagem UOL - Divulgação/Montagem UOL
Imagem: Divulgação/Montagem UOL

Enquanto o filme privilegiou tons mais sóbrios, a série tem um visual bem mais vibrante. E isso vale também para os figurinos, que deram adeus ao ar mais gótico do longa. 

O narrador

Desventuras em Série - Narrador - Divulgação/Montagem UOL - Divulgação/Montagem UOL
Imagem: Divulgação/Montagem UOL

No filme, Lemony Snicket foi interpretado por Jude Law --e narrava parte significativa da trama, sem aparecer. Mas a série o tornou uma figura muito mais presente: o ator Patrick Warburton surge com frequência ao longo dos episódios para falar diretamente com o espectador. 

O espaço dado à história

O filme adaptou a trama de três dos 13 livros de Handler: "Mau Começo", "A Sala dos Répteis" e o "Lago da Sanguessuga". A série adapta um livro a mais, "Serraria Baixo-Astral", e, por dedicar dois episódios a cada um, acaba permitindo que as tramas se desenvolvam com menos pressa, dando mais atenção aos detalhes.