Topo

Nicole Kidman ficou roxa e chorou após gravar estupro em "Big Little Lies"

Nicole Kidman como Celeste Wright na série "Big Little Lies" - Divulgação/HBO
Nicole Kidman como Celeste Wright na série "Big Little Lies"
Imagem: Divulgação/HBO

James Cimino

Colaboração para o UOL, em Los Angeles

18/02/2017 04h00

Vivenciar um estupro é traumático até na ficção. Nicole Kidman praticamente bloqueou a experiência de viver uma dona de casa americana que sofre abusos do marido, interpretado pelo ator Alexander Skarsgard (“True Blood”), na série “Big Little Lies” (“Grandes Mentirinhas”, em tradução livre), que estreia na HBO neste domingo às 23h.

“Uma das coisas mais estranhas [dessa experiência] é que eu não consigo lembrar de qual cena especificamente você está falando”, respondeu a atriz ao UOL quando questionada sobre o que sentiu ao materializar uma cena que é muito comum em diversas famílias e que muitos negam que seja estupro: o marido violento que, após espancar a mulher, pratica sexo com ela à força.
 
“Foi difícil, eu fiquei toda roxa. Mais tarde fui para casa e, durante o banho, eu chorei. Foi bem difícil. E eu queria que fosse autêntico e real porque, embora seja apenas uma das histórias contadas na série, é algo epidêmico e real que acontece por todo o mundo. É muito difícil falar disso, porque conheço muitas histórias como aquela.”
 
Mas a gravação dessas cenas não foi difícil apenas para as mulheres da equipe de produção desta série, que conta as histórias de quatro outras donas de casa do rico balneário de Monterrey, na costa central da Califórnia, interpretadas por Reese Witherspoon (em um dos melhores papéis de sua carreira), Shailene Woodley, Zoë Kravitz e Laura Dern (também impecável).
 
“É um campo minado, porque a violência doméstica é real”, disse o roteirista David Kelley. Já o diretor Jean-Marc Vallée (de “Clube de Compras Dallas” e “Livre”) falou que o segredo da cena era não interferir. “Fiz sem cortes para que fosse incômodo e real. É um padrão de violência seguido por sexo. Então, teve alguns momentos em que eu olhei e pensei: ‘Não acredito que estamos fazendo isso tudo de novo’.”
 

Quem matou e quem morreu?

Violência doméstica e sexual permeiam a vida das personagens de “Big Little Lies”, que resulta da adaptação do livro homônimo da autora australiana Liane Moriarty. Mas a série não se resume a isso. Desde o primeiro episódio, sabe-se que houve um ou mais assassinatos. Quem matou e quem morreu, no entanto, não é possível saber até pelo menos o episódio quatro — até onde a reportagem teve acesso.
 
A existência do crime se revela com a alternância de cenas futuras, que consistem em pequenos depoimentos dos personagens secundários sobre os suspeitos, os protagonistas. A ação central, portanto, acontece nos eventos passados. Nesses depoimentos, as grandes mentirinhas, as fofoquinhas, os rumores dão novas camadas e suspeitas sobre a aparente perfeição do subúrbio americano — assunto que já foi tema de “Desperate Housewives”.
 
“É a beleza de roteirizar a história. Como vamos contar? E isso cria na audiência aquelas ideias… ‘Qual dessas mulheres vai matar a outra, afinal ela se odeiam?’ Aí entram os maridos, e você pensa que é entre eles. Aí entram os depoimentos, a fofoca e todos esses pretextos para falar de amor e relacionamentos”, analisa o diretor.
 

Picuinhas infantis

Tudo começa quando Jane (Woodley), uma mãe solteira, chega à cidade com seu filho Ziggy (Iain Armitage). Embora não tenha condições financeiras para viver em Monterrey, decide mudar para o local para dar ao menino uma educação pública de qualidade.
 
Reese Witherspoon como Madeline Mackenzie em "Big Little Lies" - Divulgação/HBO - Divulgação/HBO
Reese Witherspoon como Madeline Mackenzie em "Big Little Lies"
Imagem: Divulgação/HBO
Recebida de braços abertos pela inquieta e enxerida Madeline (Witherspoon), passa a ter problemas com a controladora Renata (Dern) após sua filha acusar Ziggy de tê-la agredido.
 
As crianças, diferentemente de outros programas de TV, são personagens tão elaborados quanto os adultos, o que deixa tudo mais intrigante e autêntico, afinal, quem nunca presenciou grandes brigas entre adultos que resultaram de pequenas brigas entre filhos na escola ou na vizinhança?
 
“É muito complicado quando seu filho é acusado de alguma coisa, como, por exemplo, uma vez fui chamada à escola do meu filho porque ele estava colando. Fiquei tão brava! E eu não tinha a menor ideia do sentimento de proteção que tinha dentro de mim. Mas o interessante desse programa é que ele mostra que a gente não sabe quem são nossos filhos”, analisa Reese Witherspoon. 
 
Shailene Woodley, 26, ídolo adolescente por filmes como “A Culpa É das Estrelas” e a série “Divergente”, também falou sobre maternidade, ao ser questionada se não havia achado estranho ser escolhida para interpretar uma mãe de subúrbio: “Há mães de 14 anos, mães de 19 anos, por causa da inseminação in vitro há mães de 60 anos. Então, não, não achei estranho.”
 
A esta altura, muita gente deve estar se questionando se este é um programa feminista, afinal, discute todas essas questões sob uma ótica feminina, é produzido por Nicole Kidman e Reese Witherspoon e tem cinco protagonistas mulheres.
 
Zoë Kravitz, quando questionada sobre isso, responde na lata: “Definitivamente é um programa feminista. Mas não é um programa apenas para feministas. A ideia é educar e inspirar todas as pessoas sobre por que o feminismo é importante. Eu e meu namorado assistimos juntos e ele é genuinamente interessado pela história. Homens vão aprender mais sobre as mulheres e sobre o que acontece na vida deles e delas.”