Glória Perez reedita fórmula com transgênero, boto e amor bandido
O sabor é diferente, mas a receita o público já conhece. Em “A Força do Querer”, Glória Perez insiste em elementos já explorados em suas tramas anteriores. Não falta um amor proibido e triangular; um drama social, desta vez, a questão dos transgêneros, e uma cultura peculiar, neste caso, a do Norte do Brasil. A novela estreia no próximo dia 3.
Conhecida por escrever sem a ajuda de nenhum colaborador ou assistente, a autora está em sua 11ª obra -nove delas ocuparam a faixa das 21h, com exceção de "Pecado Capital" e "Barriga de Aluguel". No evento de lançamento, na terça-feira (14), Glória filosofou sobre o mote da trama: "Será que somos o tempo todo movidos pelos quereres e desafiados a fazer escolha? A força do querer de um afeta a do outro? Todos nós procuramos essas respostas".
A espinha dorsal da nova novela das 21h é o caso entre Bibi Perigosa (Juliana Paes), que entra para o mundo do crime por causa da paixão pelo marido bandido (Emílio Dantas), mas não esquece Caio, o antigo namorado, advogado e defensor das leis (Rodrigo Lombardi). Além de repetir o par de "Caminho das Índias" (quem não se lembra de Maya e Raj?), esse tipo de amor proibido é enredo recorrente da autora. Em “Explode Coração” (1995), um político importante (Edson Celulari) se apaixonava por uma garota cigana (Teresa Seiblitz), em um romance que começava na internet.
"Bibi diz que entrou pela vida do crime por amor, mas eu acho que ela também tem um fascínio pelo poder e pelo 'status' de ser a mulher do dono do tráfico. Com a chegada do Caio, a coisa muda de figura. Minha personagem fica bem dividida entre o bem e o mal", contou Juliana Paes.
A atriz já adianta que espera reviravoltas no destino de sua personagem. "Vamos ver o que a Glória vai decidir mais para frente."
"Juliana é uma das poucas amigas que eu tenho fora dos sets de gravações. O que as pessoas chamam de química, eu vejo como um prazer explícito de dois atores contracenando em cena. Se deu certo lá atrás, tem tudo para dar certo agora”, aposta Rodrigo Lombardi.
Se em “O Clone” (2001) Glória usou uma adolescente (Débora Falabella) para expor a dependência química, a próxima trama abre espaço para tratar a questão do gênero. “A minha proposta é discutir sobre a diversidade e tolerância, e o que estamos assistindo em todo mundo é a desconstrução do gênero e suas transformações." Ivana, personagem da estreante Carol Duarte, vai mostrar as dificuldades que um transgênero passa.
Depois dos Estados Unidos, Índia e Turquia, cenário de suas três novelas mais recentes, “América” (2005), “Caminho das Índias” (2009) e "Salve Jorge" (2012), respectivamente, Glória escolheu Belém, no Pará. Da mesma forma que as antecessoras, há uma ponte direta com o Rio de Janeiro, outro núcleo de "A Força de um Querer".
"Foi incrível gravar lá [no Pará]. Tem a dança, a linguagem, a culinária, a cultura e o povo tão único e tão simpático. Adorei e acho sempre superválido mostrar esses cantões brasileiros”, diz Isis Valverde, que interpreta Ritinha. Assim como Tião, o personagem de Murilo Benício em “América”, que acreditava ter uma ligação ancestral com o boi bandido, ela acredita ser filha de um boto.
"Ritinha nasceu e cresceu na fictícia Parazinho e foi a mãe dela que espalhou a lenda de ter engravidado de um homem-boto. Meu personagem, Ruy, vai se apaixonar por ela, pelo seu jeito livre de ser", explica Fiuk.
"Sempre quis falar do ser humano, dessa mistura de maneiras de pensar e de viver", diz a novelista. "O que me importa é o incômodo que as pessoas têm com aquilo que é diferente delas." Resta saber se veremos algo diferente na tevê.
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