Atriz que encantou El Chapo vive primeira-dama em fuga em série da Netflix
Famosa por interpretar a traficante Tereza Mendoza na novela “La Reina del Sur”, a mexicana Kate del Castillo, 44, se tornou globalmente conhecida após ver seu nome envolvido em um escândalo da vida real. Ela intermediou as negociações para a polêmica entrevista que o chefão do tráfico El Chapo concedeu ao ator Sean Penn e acabou nas graças dele, que chegou a mandar flores e mensagens românticas para a atriz.
O envolvimento custou caro. Kate, que tinha pretensões de fazer um filme sobre a vida de El Chapo e já havia dito acreditar mais nele do que no governo de seu país, entrou na mira das autoridades mexicanas e passou a ser investigada por obstrução de justiça e lavagem de dinheiro. Moradora de Los Angeles, nos Estados Unidos, ela se viu impedida de voltar ao seu país natal. Uma situação ironicamente semelhante ao seu novo papel da ficção: a primeira-dama em fuga de “Ingobernable”, série mexicana da Netflix que estreia nesta sexta-feira (24).
Na série, Emilia Urquiza (Kate) se torna a principal suspeita da morte do presidente Diego Nava (Erik Hayser), de quem estava se separando, e dá início a uma jornada para provar sua inocência. E vida real e ficção se misturaram para a atriz, que começou a trabalhar na trama em meio a seus problemas com a justiça do México.
“Não tinha que ir muito longe, só tinha que fechar os olhos e pensar ‘Ah, sim’”, diz a atriz sobre levar seu próprio sentimento de fuga para a TV. “Não passei por isso especificamente, mas posso dizer que sei o que é se sentir perseguida. Sei como é querer demonstrar sua inocência quando todos estão contra você, te pintam como culpada, e você está sozinha contra o mundo. Essa sensação eu tenho, e ela está registrada no meu corpo. E tudo isso me ajuda a ser uma atriz melhor, espero”.
Franca e bem-humorada, Kate agradece efusivamente aos colegas, que tiveram que se dividir entre o México e a cidade californiana de San Diego, onde ela grava suas cenas. “Eles ficavam indo e vindo, coitados. Eles foram ótimos, passaram por muitas coisas. Quando anunciaram que eu estava gravando, apareceram algumas figuras interessantes perguntando onde eu estava para me prender. Foram muitas coisas que aconteceram”.
A experiência na série, porém, não foi completamente pesada para a artista. “Graças a Deus tenho bons advogados e pude deixar isso de lado e me focar em meu trabalho como atriz, que me serviu como um escape para tudo o que estava vivendo”, afirma.
Política na ficção
Politizada e crítica das autoridades mexicanas, Kate não teme represálias por parte do governo contra a série e seu envolvimento nela. Para ela, seria uma reação “muito óbvia e muito tonta” em um momento que os políticos poderiam usar a seu favor: “É um momento para que o México se abra a liberdade de expressão. É uma oportunidade para os nossos governantes. De verdade, é uma oportunidade mais para eles do que para nós”.
A livre expressão, defende Kate, é uma responsabilidade dela tanto como atriz como cidadã. “Depois do que passei, se eu mesma arrisquei a minha vida, nada me amedronta. Meu único poder, na verdade o único poder que temos todos, como cidadãos, é o de levantar nossa voz. Se ficamos calados, mais facilmente eles pisam nas nossas costas. Se nos levantamos e os enfrentamos, tudo muda. É a mesma lógica para qualquer coisa. Meu primeiro casamento era abusivo até que eu me levantei e o enfrentei. Perguntavam ‘Por que não fez isso antes?’ Porque tinha medo, e o medo nos paralisa. Mas, de verdade, é a única arma que temos, levantar a voz”.
“Ingobernable”, porém, não tem a mesma carga política de sua protagonista, apesar de fazer conexões com acontecimentos recentes da política mexicana. No noticiário fictício da série, é mencionado o desaparecimento de um grupo de estudantes, referência direta aos 43 que sumiram durante uma viagem, em 2014, e foram dados como mortos pela polícia.
“Pessoalmente, não queria que a série fosse completamente politizada e pendesse ao esquerdismo, que seria um caminho fácil. Alcançamos um equilíbrio muito importante. Os roteiristas entenderam bem o que se passa no México. Estamos questionando. Estamos dando a todos armas para pensar e questionar as coisas”, analisa Kate.
Erik Hayser, que interpreta o presidente Diego Nava, acredita que a trama traz discussões importantes em um momento em que tantos países estão às voltas em crises. “Me parece um projeto necessário, justamente por esses tempos que estamos vivendo social, politica e economicamente na América Latina. É uma América Latina que está acordando e exigindo muito mais does seus políticos. Me sinto muito orgulhoso de fazer parte dessa história e de contá-la ao público para que eles conheçam cada vez mais o México e entendam mais a essência e os acontecimentos da América Latina”.
Briga intensa
Em seus primeiros minutos, “Ingobernable” traz uma cena que poucos se ousariam a fazer na TV: uma briga física entre o presidente e a primeira-dama, com direito a empurrões, chutes e sangue. E a cena foi uma das preferidas de Kate e Erik. “Quando li o primeiro capítulo, falei que ia fazer esse personagem. Nem quis ler mais”, conta o ator.
Ele e sua colega de cena tiveram pouco tempo de preparação, mas isso não tornou a cena menos intensa. “Só a fizemos duas vezes, em plano sequência. Nos envolvemos por completo, foi fazer toda a coreografia, ensaiar várias vezes o que íamos fazer e depois nos deixamos levar. Fluiu incrivelmente bem, com muita intensidade. Alguns roxos e danos colaterais, mas creio que foi uma cena com muita verdade”.
Fã de cenas de ação, Kate também estava ansiosa por essa gravação. “Ficava perguntando ‘quando vamos fazer?’ Eu saboreava a cena. Foi cansativo, mas foi divertido”, contra a atriz, que treinou jiu-jitsu para a série e não poupou elogios a Erik. “Nos divertimos muito, e isso é a chave de tudo. E também trabalhar com atores que são atores, que entram de cabeça com você em tudo, não ficam ‘ai, não me toca aqui’. Uma cena assim é muito incômoda, ainda mais como mulher, e se eu me entrego por completa, quero a cena saia bem. Com um companheiro que te ajuda, que te protege, sai muito melhor.”
*A jornalista viajou a convite da Netflix
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