Patrícia França diz sentir falta da TV e lembra decepção em novela da Globo
Quinze anos após o fim de “A Padroeira”, Patrícia França se recorda de um episódio que a chateou durante as gravações da novela de Walcyr Carrasco reprisada atualmente pela TV Aparecida. Ela deu vida a Blanca de Sevilha, uma espanhola que foge da Inquisição e chega ao Brasil colônia. A atriz diz que uma reviravolta nos rumos da novela de época, que tem como pano de fundo histórico o encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida nas águas do Rio Paraíba do Sul, em Guaratinguetá, a deixou aborrecida. A trama passou por mudanças após a saída do diretor Walter Avancini, que precisou se afastar para tratar de problemas de saúde e acabou morrendo vítima de câncer ainda no início da exibição original em 2001.
“Na primeira leitura com elenco, eu propus aquela espanhola realmente falando em espanhol. Eu não sou fluente em castelhano, mas sei o essencial para me virar. Todos ficaram surpresos. Ele [Avancini] bancou a minha história. Ele disse, ‘mantenha’. Eu achei muito bacana. Era um diretor ousado e que esteve sempre à frente. Ele entendeu o que eu estava propondo e arriscando”, afirma.
A saída inesperada do diretor, substituído por Roberto Talma, acarretou em uma mudança de roteiro e personagens passaram a adotar falas com sotaques mais suaves: “Baixou essa ordem que não podia mais fazer esse acento tão forte. Eu deixei só o sotaque. Isso foi bem difícil para mim e para todo mundo. Se, talvez, o Avancini tivesse continuado na novela, houvesse dado um jeito de as pessoas aceitarem... "
“Isso me preocupou na época porque havia esse problema de falarem que estava castelhano demais. Eu diria que foi um balde de água fria. Mas eu entendo que é diferente do cinema, por exemplo. Na televisão você precisa falar para os mais diversos públicos, então é natural que aconteça isso. Hoje talvez eu lidaria de maneira diferente. Na época, eu fiquei chateadíssima. Eu entendi como é importante colocar o ego de lado e entender que é preciso ceder sem necessariamente se anular. É encontrar o meio-termo”, diz.
Papéis de nordestina
Embora lamente a decisão da emissora em relação a sua expectativa para a personagem, Patrícia diz ter orgulho do papel. Pela primeira vez, ela conta, pôde fazer algo diferente do que até então estava acostumada.
“Foi a minha primeira personagem com um vilanismo e um desprendimento. Até então, eu era atriz nordestina que tinha um sotaque nordestino. Ali eu era uma espanhola. Uma coisa completamente diferente de tudo o que as pessoas podiam esperar. Eu tive que realmente compor um personagem com tintas mais fortes. Era de certo modo uma caricatura. É a espanhola de leque que fala com sotaque. Era icônica”, afirma a atriz pernambucana, que estreou na Globo na minissérie "Tereza Batista" (1992), adaptação da obra de Jorge Amado.
Passagem pela Record
Depois de “A Padroeira”, Patrícia França fez uma pequena participação em “Chocolate com Pimenta” e, após doze anos de Globo, acertou com a Record para integrar o elenco de uma nova versão de “A Escrava Isaura”, adaptada por Tiago Santiago e reexibida atualmente no horário nobre da emissora. Ela diz que aceitou o convite pois se encantou pela proposta de fazer a antagonista de um clássico da teledramaturgia brasileira.
”Era uma personagem muito boa. Eu não tinha motivo para negar [o convite]. O projeto também era bom. Tinha o Herval Rossano [então diretor de teledramaturgia da Record, morto em 2007], uma pessoa com estrada na televisão, encabeçando o projeto. Naquele momento, parecia que a Record estava realmente investindo em teledramaturgia. Foi uma belíssima retomada, de abertura do mercado de teledramaturgia no Brasil. Foi um papel muito importante porque inaugurei uma nova fase da minha carreira. Eu me vi fazendo comédia. Meu trabalho foi muito bem recebido pela crítica e público”, diz.
O artista é movido por paixão. Eu espero que aconteça [de receber] um bom papel. Algo que me desafie e me deixe feliz. Quando me perguntam [quando irá voltar à TV], eu digo: 'em breve'
A atriz, que ainda fez papéis marcantes na Record em folhetins como “Prova de Amor” e “Poder Paralelo”, voltou à Globo em “Malhação” na temporada de 2014. Patrícia afirma que a saudade de sua primeira casa a fez vencer o receio de fazer a novelinha voltada ao público teen. “Fiquei muito feliz e um pouco temerosa porque era um produto que nunca tinha feito. Era aquele medo: 'Será que vai dar certo? Será que vão gostar de mim?' Uma insegurança natural. Mas foi uma volta muito feliz.”
Saudades da telinha
Patrícia diz que o público a cobra para que volte à TV – mas, ela diz, tudo depende de propostas para “bons papéis” ainda que sinta saudade do vídeo. Enquanto não volta ao ar, ela, que mora no Rio de Janeiro, se dedica ao teatro e à família. Há quase dois anos Patrícia fez o musical “Ou tudo ou nada”, da Broadway, e agora está envolvida na produção de uma nova montagem, “O Jogador”, com direção de Tadeu Aguiar, que ainda está em fase de captação de recursos.
“Eu entendo que temos que estar felizes no que estamos felizes. O artista é movido por paixão. Eu espero que aconteça [de receber] um bom papel [para a televisão]. Algo que me desafie e me deixe feliz. Sou muito abordada [nas ruas], também pelas reprises. As pessoas falam, ‘Quando você vai voltar?’. Acho justo porque “Malhação” já tem um tempo que eu fiz. Digo 'em breve' ou então que estou no teatro, pois aproveito para divulgar a peça. Fico feliz que as pessoas se lembrem”, diz.
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