"Estou aberta para ser odiada", diz Bruna Linzmeyer sobre virada de Cibele
Não faz muito tempo que Bruna Linzmeyer, então uma adolescente de Corupá (SC), fez seu primeiro teste na TV Globo, em busca de um trabalho que lhe garantisse mais tempo em São Paulo.
Aos 24 anos, sete após sua estreia na minissérie "Afinal, o que Querem as Mulheres?", de Luiz Fernando Carvalho, ela estrela sua quarta novela no horário nobre, além de experiências no teatro e vários trabalhos no cinema.
A jovem Bruna seria capaz de imaginar isso? "Não, é louco, né? Não penso muito em perspectiva. Estou sempre em Corupá, é o lugar onde eu me reconheço. Me orgulho dos meus trabalhos, mas as pessoas que ficam são as que mais me tocam", diz ela, que lança, entre outros trabalhos, "O Filme da Minha Vida", de Selton Mello, e "O Grande Circo Místico", de Cacá Diegues, no cinema.
Até agora, o público se mostra solidário à sua Cibele, de "A Força do Querer" - no máximo, indignado com sua ingenuidade -, traída por Ruy (Fiuk) com Ritinha (Isis Valverde), que diz esperar um filho dele e conseguiu levá-lo para o altar antes. Mas a personagem está vestindo a pele de vilã.
Bruna se diz curiosa para saber o que a aguarda no fim dessa grande curva dramática que Gloria Perez preparou, dá para dizer, de certa forma, que ela quer ser odiada.
"Ah, acho que vale! O Dan Stulbach estava me falando que quando você aprende que é gostoso ser odiado é uma delícia. Estou aberta", garante. "Nada justifica não ser correto, mas dramaturgicamente tem um motivo para isso. Não é crueldade pela crueldade. Ela está magoada, foi traída, enganada. É muito produtivo ter um porque."
Por enquanto, a atriz reforça, Cibele não faz nenhuma "maldade". Mas nos próximos capítulos a filha de Dantas (Edson Celulari) mostra que não vai deixar nada passar em branco. Vale inventar uma gravidez, fazer um ensaio com seu vestido de noiva grafitado e um vídeo tentando arruinar a reputação do ex de uma vez por todas.
"Ela só está bem louca. Então é um grande divertimento, dou risada em casa, ensaiando. Mas estou adorando. A Gloria foi muito esperta de construir e conduzir a Cibele assim. Essa pessoa legal, correta, ingênua, quase boba, mas que volta com uma dor, uma força."
"É como se fosse um espelho para aquela família. Como se dissesse: 'Seus hipócritas. No que vocês acreditam de verdade? É na família, na instituição casamento? Todo mundo sabia o que estava acontecendo e nunca ninguém me falou'. Ela retorna dando isso de presente, com uma loucura maravilhosa", diz Bruna, acrescentando que, logo depois, ela fica realmente má.
Imaginar-se na situação da personagem é um exercício para a intérprete, que não se considera tão racional quanto ela.
"Acho que a questão para a Cibele não é o Ruy ter se apaixonado pela Ritinha. As pessoas se apaixonam por outras pessoas, e está tudo certo. Dói, é ruim, é estranho, mas acontece. O que pega para a Cibele é que ela foi enganada pelo pai, pela sogra, por todo mundo."
"Se estou namorando alguém e essa pessoa se apaixonar por outra pessoa, eu vou achar triste, vou ficar mal, não vou gostar. Mas em algum lugar eu vou entender. Eu quero o bem do outro. E o fato de você namorar alguém não significa que a pessoa te pertence", analisa.
Fama e exposição
Viver do ofício foi, sim, uma conquista para Bruna, que reconhece que o sucesso traz consigo algum ônus.
"Acho que nada tem só um lado bom. Essa construção que o mundo fez sobre a imagem é difícil, é triste. Quando alguém vem tirar uma foto porque eu sou famosa e quer postar no Instagram, eu fico triste. Mas se vem alguém falar e perguntar me interessa, me acalenta o coração. Acho que a exposição, a fama, é só um sintoma da nossa sociedade. Quem inventou a parte ruim da fama somos nós. Nossa sociedade é assim. Quando alguma coisa me invade, é óbvio que eu fico triste, mas entendo que faz parte do mundo", afirma.
Ativa nas redes sociais, a atriz costuma dividir alguns pedaços da vida privada. O limite entre mostrar demais ou de menos é intuitivo, segundo ela, mas uma preocupação constante.
"Uso as minhas redes sociais como um contato com essas pessoas que estão de olho em mim, e isso é bom. De alguma maneira eu tenho alguma voz, posso falar de coisas em que eu acredito e isso me acalma. Se eu compartilho coisas da minha vida é também uma forma de falar sobre o que eu acredito. E aí não me machuca divulgar minha vida pessoal quando tem um conceito, uma verdade por trás", analisa.
Mas e quando ela não tem controle sobre essa narrativa? O interesse sobre a vida amorosa de Bruna - assunto em que ela não entra em detalhes, apenas confirma que está apaixonada - virou pauta fixa dos paparazzi. Ela diz que esse assédio a aborrece.
"Óbvio que se eu parar e pensar o que é tudo isso eu vou achar horrível. Mas, ao mesmo tempo, o que eu tenho para fazer em relação a isso? Não frequento muitos restaurantes porque acho uma grande invasão. Mas é um sintoma da nossa sociedade. Tento controlar um pouco os lugares onde vou, o que eu faço, mas não demais, para não perder a minha vida. E não deixo me afetar pessoalmente", conta.
A atriz encara a internet também como uma ferramenta para o diálogo. Integrante do coletivo "Mexeu com uma, mexeu com todas", criado entre funcionárias da Globo após o caso de assédio envolvendo o ator José Mayer, a atriz costuma se posicionar contra casos de violência contra a mulher.
"A gente sabe o quanto a gente é assediada, aprendemos a sorrir amarelo. Estamos começando a nos colocar de uma maneira um pouco maior, e isso é muito precioso. O movimento diz por si."
"A gente está falando de igualdade. E, sendo bem radical, quando as pessoas vem falar: 'Ah, mas o feminismo é agressivo', eu digo: 'É, uma mulher é estuprada a cada 3 minutos no Brasil'. A gente não está falando de botar um homem de quatro, botar um dedo no cu dele e estuprá-lo. A gente só está falando de igualdade. Parem de violência contra as mulheres. Só para começar. E, sim, se existe uma desigualdade para que esse lado [faz com as mãos uma balança] fique maior, esse lado vai ter que perder. É matemático e é simples", conta.
Ouvir Bruna falar dá a impressão de que se está conversando com uma pessoa de bem mais que seus 24 anos. Ela ri do comentário. "As pessoas me dizem isso. Ouço isso desde criança", afirma.
"Mas acho que idade não é uma coisa que existe exatamente, ela é uma construção social. Uma coisa que me incomoda é sermos separados por idade nas escolas. Por que os mais velhos não ensinam os mais novos? Maturidade tem a ver com vivência, não com a idade."
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