"Sofri todos os tipos de abusos contra uma mulher", diz musa dos anos 80
Quando criança Cláudia Alencar apanhava do pai por não fazer as tarefas domésticas. Aos 15 anos, a violência não era mais dentro de casa. Para fugir dos galanteios e até mesmo de algumas abordagens agressivas dos homens da vizinhança, ela fazia o percurso mais longo para chegar em casa no bairro de Santo Amaro, em São Paulo.
Cinco anos mais tarde, já na Escola de Comunicação e Artes da USP e integrante da Aliança Libertadora Nacional - organização de esquerda - Cláudia sofreu um dos piores abusos contra uma mulher: estupro.
“Eu fazia teatro de protesto na rua, nas universidades e alguns espaços públicos, mas não participava do grupo que sequestrava ou assaltava bancos. Quando a casa caiu, caiu para todo mundo. Fui muito violentada nos Anos de Chumbo, na Ditadura Militar. Depois disso, achava que nenhum assédio poderia mais me abalar, poderia me derrubar. Me enganei. Foram dez anos dizendo ‘não’ a diretores e produtores porque eu queria um papel bom sem barganhar uma noite de sexo”, conta a atriz.
Ela conseguiu o papel de Patativa em “Roda de Fogo” graças ao ex-professor de faculdade e autor da trama Lauro César Muniz.
“Eu era uma atriz de teatro em São Paulo, mas fazer uma novela na Globo era o ápice. Fui chamada várias vezes para fazer testes e eles até começavam mesmo com as leituras de texto, mas terminavam com uma proposta de um jantar ou de um encontro em um lugar mais reservado. Cada vez que isso acontecia, eu saia arrasada, frustrada e me sentindo violentada porque eu tinha certeza que era boa atriz com condições para entrar e ficar entre as estrelas da casa. Graças a Deus, tive um anjo que confiou no meu trabalho e me ajudou”, lembra.
Por conta da personagem sensual e fogosa, Claudia Alencar ganhou logo predicado de musa reforçado com os dois personagens sucessores: Laura, em “Tieta”, e Perla, em “Fera Ferida”. E o assédio continuou só que de uma forma mais velada.
“Me fingi de tonta várias vezes. Era diretor, ator, produtor, apresentador e empresário que vinham com aquele joguinho de sedução. Tive um colega de cena que me perturbou meses e, quando um dia eu cansei do cerco e dei um fora definitivo, ele passou a me perseguir, me humilhar na frente dos outros colegas. Ninguém me defendeu. Daí eu percebi que se eu quisesse continuar trabalhando, teria que fingir que nada acontecia e foi o que eu fiz durante uns 25 anos.”
Hoje, aos 66 anos, Claudia diz que não se surpreende com as denúncias e mais denúncias de assédio moral e sexual. “Em qualquer lugar, uma mulher mais atraente, mais bonitinha é assediada. Sei de muitas profissionais que passaram o pão que o diabo amassou. Acho corajoso essas meninas falarem, darem os nomes, apontarem os dedos. É heroico, é encorajador e um alerta também para os homens: atitudes machistas estão com os dias contados. Não fiz lá atrás por medo, mas apoio incondicionalmente quem faz isso agora."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.