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Christina Rocha conta o que a revolta na TV e comenta 5 tretas de famosos

Christina Rocha comemora oito anos à frente do "Casos de Família" - Gabriel Cardoso/SBT
Christina Rocha comemora oito anos à frente do "Casos de Família" Imagem: Gabriel Cardoso/SBT

Felipe Pinheiro

Do UOL, em São Paulo

16/06/2017 04h00

Em briga de marido e mulher não se mete a colher? No "Casos de Família”, o ditado popular pode fazer sentido da porta para fora do estúdio onde o programa é gravado, no SBT, em São Paulo. Está ali quem aceita discutir problemas da intimidade diante de milhares de telespectadores, uma plateia acalorada e aos olhares atentos de uma apresentadora pronta para fazer de quase tudo, menos pegar leve ou ficar em cima do muro.

Há oito anos, Christina Rocha entrou para elevar a temperatura de um programa que praticamente renasceu do zero a despeito do nome ser o mesmo da primeira versão lançada em 2004. Em seu camarim, na sede da emissora, Christina recebeu a reportagem do UOL um dia após fazer aniversário. Não fosse pelos parabéns com bolo surpresa que ganhou da produção, seria mais um fim de tarde corriqueiro após horas exaustivas de gravação de três programas.

Ela havia acabado de perder as estribeiras com um rapaz, com o qual se indignou e quase o mandou se retirar do palco. Nada que já não estivesse acostumada. Com longa trajetória na televisão, a apresentadora do popularesco “Aqui Agora”, do memorável "Alô Christina" e que foi jurada de Silvio Santos no ”Show de Calouros” afirma que nunca se sentiu tão ela mesma à frente de um programa de TV.

”Eu entrei [no ‘Casos de Família] com o coração. Tudo que eu faço eu visto a camisa. Comigo não tem isso de estar em cima do muro. Quando fiz o teste, o Silvio queria um programa mais popular com uma apresentadora que se desse bem com a plateia. Que fosse mais participativa, coloquial e que desse opinião. A [antiga] apresentadora [Regina Volpato] ficava sentada o tempo todo e no final a psicóloga falava. Era uma coisa mais contida”, compara.

As câmeras podem estar desligadas que Christina continua tão comunicativa como se ainda estivesse no ar. Extrovertida e sem filtros, ela diz que tem uma qualidade que é “não ser nada insegura” – e essa característica a ajuda no comando do “Casos”. Ela não está ali no palco como “apresentadora decorativa” e sabe disso.

“Eu não tenho script. Só vejo as pessoas [os participantes] no dia da gravação. Eu digo que me sinto eu mesma porque se eu me distrair não tem programa. Não é um programa de atrações, em que eu chamo o cantor, uma matéria e vou tomar um café. Eu preciso estar ligada. Às vezes o assunto muda tanto que temos que mudar o tema. O programa tem roteiro, mas pode mudar de uma hora para outra. As pessoas podem falar coisas que não comentaram na entrevista, por exemplo. São histórias de vida”, afirma.

Christina Rocha diz que nunca aprendeu tanto com as histórias de vida do "Casos de Família" - Divulgação/SBT - Divulgação/SBT
Christina Rocha diz que nunca aprendeu tanto com as histórias de vida do "Casos de Família"
Imagem: Divulgação/SBT
 

Show da vida real: “Nunca aprendi tanto”

Ela conta que os participantes do “Casos de Família” passam por um processo de filtragem, são entrevistados e têm suas histórias checadas até o “valendo” – que é quando a gravação começa e os barracos se armam. Mas por que eles concordam em expor problemas, não raramente pesados, em rede nacional? 

Christina Rocha diz estar cansada de repetir que o "programa é verdadeiro" e de ter que responder a perguntas como: “As brigas são combinadas?” ou “Os participantes são atores contratados?”. “Não aguento mais responder isso. Eu desisti. Quem não quiser acredita, não acredita! Jamais faria uma coisa que não fosse [verdadeira]. Já deu, né?”, se defende.

Ela tenta explicar o que motiva gente comum a discutir abertamente o que parece ser praticamente um show da vida real. Seria vontade de estar na televisão? Ajuda, realmente, para solucionar algum conflito? A apresentadora encontra mais de uma simples resposta.

“A vida deles é um reality show. Todos moram em comunidades muito pobres. Não é uma coragem vir até aqui contar [os problemas]. É algo normal, do dia a dia deles. Eles ganham um cachê de R$ 100 pelo dia de trabalho perdido, passeiam pela emissora, são maquiados... Até problema de dente [é corrigido]. Então eles vêm na televisão, ganham uma graninha e contam o que para eles não é problema algum”.

Não levanto bandeira de feminista, mas isso é uma coisa que me afeta. É uma covardia homem bater em mulher. Mas o que eu fico muito brava [no programa] é quando me desrespeitam

O “Casos de Família”, diz, também tem uma função que não é meramente de entreter. O programa, que conta com o auxílio de uma psicóloga, tem para ela uma missão social e mesmo terapêutica. “Nunca aprendi tanto. Por mais que tenham casos parecidos, nunca é igual. Cada pessoa conta e vê um problema de uma forma diferente. A gente aprende a respeitar a diversidade. Muitas mulheres contam que duas semanas após conhecerem um cara já vão morar junto. A gente fala, namora, beija muito, mas por que se juntar? A gente dá conselhos de vivência. Já recebi muitas cartas de mulheres que graças ao ‘Casos de Família’ viram que não estavam sozinhas”.

Christina, que não levaria um problema pessoal para um programa como o “Casos de Família” com a justificativa de que é muito fechada, tranquila e avessa à fofoca. E se entrega às discussões no estúdio, mas tenta não levar para casa os dramas com ela compartilhados. O que nem sempre é possível.

“Eu acabo absorvendo um pouco mais em algumas situações... Teve o caso do Itamar, que era muito agressivo com a mulher dele e também de uma menina tinha vergonha da mãe que era faxineira. O meu mundo não é o mundo do ‘Casos de Família’, mas eu vejo como existem casos iguaizinhos em todas as classes sociais. Barracos existem em todas elas. A diferença é que nas classes mais humildes a coisa é mais exposta”, afirma ela, que por causa do programa chegou a fazer terapia para se conhecer melhor.

Barraco é o que está acontecendo no Brasil. Essa roubalheira, falta de vergonha na cara, o brasileiro sem educação, saúde, desempregado. Dá uma revolta, sabe? Mas barraco também é briga do 'Casos de Família'.

Quanto mais barraco, melhor?

No “Casos” de Christina, ou melhor, no “Casos de Família” tem briga de mãe e filho, marido e mulher e até daquela amiga traíra. E o que não falta é bate boca. Christina Rocha é quem coloca ordem quando a discussão está perto de sair do controle. Como no “BBB”, a regra é clara: deu porrada, está fora! Mas diferentemente do reality da Globo, não precisa nem chegar às vias de fato.

“É claro que a gente sabe [que briga dá audiência]. Eu não vou deixar rolar alguma coisa só para dar Ibope. A gente não gosta que tenha briga. A gente corta na hora. Em qualquer programa [se acontece isso] chamamos o segurança na hora. Vamos esperar para dar porrada?”, declara a apresentadora.

Mas para ela levantar a voz bastou ser mal-educado. “Já vieram homens que batem em mulher, mas que na hora da gravação se comportam. Não levanto bandeira de feminista, mas isso é uma coisa que me afeta. Sabe quantas mulheres morrem por dia no Brasil por conta de violência doméstica? É impressionante. É uma covardia homem bater em mulher. Nós mulheres devemos nos unir. Mas todas as pessoas com quem eu fiquei muito brava é porque me desrespeitaram ou desrespeitaram a plateia”, afirma.

Se tem barraco, pode dizer que é um programa de... barracos? "Depende do jeito que é falado. Se não for no sentido pejorativo, não ofende. Eu não gosto quando desvaloriza a minha equipe e o produto. Você pode não gostar, mas não desvaloriza o trabalho dos outros. É um dos programas mais difíceis de se colocar no ar", diz. "Barraco é o que está acontecendo no Brasil. Essa roubalheira, falta de vergonha na cara, o brasileiro sem educação, saúde, desempregado. Dá uma revolta, sabe? Revolta porque não acontece nada... Agora é que está começando [com a Lava Jato]. Por isso o [Sérgio] Moro virou um herói. A gente quer o Brasil limpo. Mas barraco também é briga", completa.