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Ator que fez cigano Igor se compara a Travolta e diz: "Sofro há 20 anos"

Igor (Ricardo Macchi) e Dara (Tereza Seiblitz) em "Explode Coração" - Reprodução
Igor (Ricardo Macchi) e Dara (Tereza Seiblitz) em "Explode Coração" Imagem: Reprodução

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

23/06/2017 12h45

Ricardo Macchi garante que tem de "Explode Coração", seu primeiro trabalho na TV, uma lembrança boa. Mas fala com um misto de orgulho e mágoa da novela, que será reprisada pelo canal Viva. Também pudera: o cigano Igor, protagonista do horário nobre que deveria abrir as portas na nova carreira do ex-modelo, acabou lhe rendendo muitas críticas e nenhum outro grande papel em seguida.

"Sofro há 20 anos com esse clichê, essa chacota. Carrego esse carma aguentando resignado. É um sofrimento muito grande", diz.

Se o efeito da estreia não foi o esperado, o ator se orgulha de não ter pedido trabalho para autor, diretor ou produtor de elenco desde então. "Não finjo que sou amigo de ninguém. É uma questão de caráter, de não ser dissimulado. Coisa que não existe no mercado", afirma. 

Macchi se ressente de não lhe darem o reconhecimento pelo sucesso do personagem na época - ele gosta de lembrar que, graças ao cigano, 124 mil crianças ganharam o nome de Igor no período em que a novela esteve no ar. E faz uma analogia de sua carreira com a de John Travolta, que foi redescoberto depois de décadas no ostracismo graças a "Pulp Fiction".

"Aconteceu o mesmo com ele, que ficou 20 anos esquecido, fora do mercado. No filme 'Birdman', o cara [o protagonista vivido por Michael Keaton] se tornou um ator de verdade, estudou, se dedicou. Eu também. Só que eu não tive chance. Não entrei em depressão profunda porque eu tenho minha dignidade", afirma. 

Enquanto um Quentin Tarantino não cruza seu caminho, o gaúcho de 47 anos resolveu correr atrás do seu jeito: produzindo os próprios projetos, como documentários de responsabilidade social e educação ambiental. Desistir nunca passou pela sua cabeça.

"A minha vida toda só trabalhei com publicidade, teatro, televisão e cinema. Nunca fiz mais nada na vida", diz ele, que gravou seu primeiro comercial aos 15.

Tereza Seiblitz e Ricardo Macchi - Reprodução/Instagram/ricardomacchioficial - Reprodução/Instagram/ricardomacchioficial
Tereza Seiblitz e Ricardo Macchi se reencontraram para uma reportagem para o "Video Show"
Imagem: Reprodução/Instagram/ricardomacchioficial

Aos 17, trocou Porto Alegre por São Paulo. Aos 20, estava morando na Europa. Em 1995, de férias no Rio, foi chamado para um teste para a novela "Tropicaliente" graças a uma reportagem de página inteira num jornal carioca que destacava os tops da nova geração.

Seu registro ficou no acervo da TV Globo até surgir o segundo teste, desta vez, para a novela de Gloria Perez, onde interpretou o par romântico de Dara (Tereza Seiblitz). 

"Naquela época não tinha coach. Fui colocado como protagonista sem preparação, nem diretor de ator. Meu sonho era ter estreado com o Wolf Maya ou Luiz Fernando Carvalho, que fez o Leonardo Vieira", afirma.

Sobre seu desempenho, Macchi afirma que "foi igual à de todos que iniciaram na televisão". "O problema é que eu era o protagonista. Então eu fui muito bem. Se pegar o primeiro trabalho do Humberto Martins, do Antonio Fagundes, do Fábio Assunção, foram fracos", opina.

Estudo intensivo 

Depois da estreia, ele diz que investiu na carreira. "A Globo queria me colocar em 'A Indomada', mas eu recusei. Fui para a Inglaterra estudar, estava sob essa pressão psicológica. Em três meses, fiz dois cursos, estudava o dia inteiro. Voltei e fiz 'Por Amor', era um personagem legal, no núcleo de humor. Fui superbem. Fiz todo tipo de projeto, menos uma novela inteira, com personagem, nenhuma chance de trabalho boa", afirma.

Ainda hoje, Macchi garante tirar foto toda semana com um Igor ou a mãe ou o pai de um menino batizado em homenagem ao personagem. Nada que se compare, claro, ao furor da época, quando foi capa de 57 revistas (conta dele).

"Eu não podia andar na rua. Mas o assédio não me assustou. O que me assustou foi a maldade. Do público não, eu sou sucesso de público. O público me ama. Tiro foto todo dia, mesmo estando na geladeira, esquecido do mercado", diz ele, que afirma ter um pé atrás com a imprensa e faz questão de avisar que grava a conversa, por telefone.

O ator Ricardo Macchi - Reprodução/Instagram/ricardomacchioficial - Reprodução/Instagram/ricardomacchioficial
O ator Ricardo Macchi
Imagem: Reprodução/Instagram/ricardomacchioficial

Mas se ele mesmo faz questão de reforçar, mais de uma vez, o currículo com dez novelas, dez peças de teatro e três longa-metragens, faz sentido reclamar que está na geladeira?

"Mas o que eu fiz? O homem-babá no 'Zorra Total', duas participações no 'Adnight', 'Tá no Ar', 'Tomara que Caia', a novela 'Metamorphoses', 'Os Mutantes', 'Caminhos do Coração'... Mas pelo que eu tenho de potencial, de popularidade, não é nada. Nunca fiquei um mês sem trabalhar, faço evento, filme, um monte de coisa. Fiz série para a RBS, produzi para a Netflix [a série 'Coisas Que Porto Alegre Fala']. Sou muito realizado. Mas pelo nível que eu atingi de popularidade não estou sendo aproveitado", avalia.

Atualmente rodando o filme "Os Parças", de Halder Gomes, em São Paulo, ao lado de atores como Tom Cavalcante, Paloma Bernardi e Oscar Magrini, Macchi diz que ouve nas ruas todos os dias os pedidos para à TV.

Ainda assim, garante que não se arrepende de ter dito sim à oportunidade que o tornou conhecido. "Jamais. Tenho muito orgulho da minha trajetória", diz. 

"A minha vaidade, o meu ego foram bem nutridos pela minha realização de ter chegado no topo com a minha estrela, que brilhou sem eu ter sido indicado por ninguém. Tenho o maior orgulho desse personagem, a maior felicidade de lembrar, porque toda essa injustiça reverte para lembrar que eu não falhei na coisa mais importante: retidão. Mesmo que a minha carreira tenha sido meio suicida, tenho uma coisa que não tem preço, minha dignidade. Durmo bem todas as noites", diz.

 

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