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Ex-Ronaldinha Vivi evangeliza moradores de rua e encontrou o amor no Japão

Ex-sexy simbol, Viviane Brunieri mora há dois anos no Japão com os dois filhos  - Arquivo pessoal
Ex-sexy simbol, Viviane Brunieri mora há dois anos no Japão com os dois filhos Imagem: Arquivo pessoal

Felipe Pinheiro

Do UOL, em São Paulo

26/07/2017 04h00

Luxo, fama e tanto poder quanto o dinheiro pode proporcionar. Na década de noventa, Viviane Brunieri namorou Ronaldo Fenômeno e, de posse do seu mais valioso troféu, conquistou com menos de 20 anos de idade tudo o que havia aspirado para sua vida. Eram tantos flashes, presenças em programas de TV, eventos badalados e viagens pelo mundo que nem o fim do relacionamento abalou seu mundo de sonhos. Afinal, ela já era a Vivi Ronaldinha.

Há dois anos e meio morando com os dois filhos em uma cidade próxima de Nagoya, no Japão, a loira que abalou o coração de um craque do futebol mundial conversou com a reportagem do UOL por telefone sobre seu atual estilo de vida e do rompimento com um passado nem tão distante, mas que é como se pertencesse a outra pessoa. De bem com seu antigo eu, hoje ela atua junto à Igreja Batista Renovada como colaboradora do projeto social Eu Amo o Japão, Eu Amo os Japoneses, fundado pelo pastor Gilson Almeida, da Igreja Assembleia de Deus, que ajuda, com evangelização e nas necessidades básicas, moradores de rua de uma estação de metrô.

Nadya França e Viviane Brunieri na Itália em abril de 1998 - Pasquale Bove/AFP - Pasquale Bove/AFP
Nadya França e Viviane Brunieri na Itália em abril de 1998
Imagem: Pasquale Bove/AFP
Após se converter, Vivi se formou em teologia, começou a pregar e, como missionária, a dar seu testemunho por igrejas evangélicas. Nascida em Peruíbe, litoral de São Paulo, ela viajou pela primeira vez à terra do sol nascente na adolescência, quando partiu em busca de um reencontro com a mãe, que lá vivia desde o divórcio de seu pai e com quem tinha perdido contato. Descobriu uma realidade bem diferente do que esperava encontrar:

“Decidi que queria ter essa ligação novamente com a minha mãe, já que não tive ela comigo em momentos importantes como quando fiquei mocinha. Quando perdi minha virgindade, não pude contar com ninguém. Ficou aquela lacuna... Mas me deparei com outra realidade. Ela trabalhava na noite e eu, aos 16, acabei indo pelo mesmo caminho porque queria ajudar mesmo ela sendo contra”.

Antes de completar 20 anos, Vivi resolveu parar de se prostituir, mas mal ela sabia que ainda teria um desafio grande para apagar essa parte considerada obscura de sua história. De volta ao Brasil, conheceu Ronaldinho Fenômeno em um flat na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Ela conta que não tinha a menor ideia de quem era o camisa 9 da Seleção:

“O meu irmão, que estava no hotel comigo, falou ‘Meu, é o Ronaldo! Ele vai ser o novo Pelé. É a maior promessa do futebol’. Acendeu aquela luz. Na hora só me lembrava da Xuxa, Adriane Galisteu [que namoraram atletas famosos]. Eu queria de qualquer jeito entrar no mundo artístico e vi que era uma oportunidade de sair da noite sem deixar de ter o mesmo padrão financeiro que eu já tinha. Esse era o caminho mais rápido”, afirma.

Vivi não é de rodeios quando define sua atração por Ronaldinho. Do primeiro olhar até ao esperado beijo, diz, foi tudo premeditado – mas, ainda assim, declara que houve um envolvimento real. Amor, mesmo, diz que nunca sentiu. 

“Eu queria era me destacar naquela multidão de mulheres lindas e talentosas. Imagina eu, com 1,59, uma beleza nada extraordinária. (...) Eu nunca o amei. Eu me apaixonei pela pessoa que ele era e pela circunstância. Ronaldo era divertidíssimo e de alto astral. Ele era apaixonante. E estava no auge, no melhor momento da carreira, assinando um contrato milionário. As coisas aconteciam. Era tudo o que eu tinha sonhado. Cada dia era um evento, uma viagem de helicóptero para Angra...”, se recorda.  O namoro progrediu rapidamente e se tornou público em maio de 1996 no programa da Hebe, no SBT: “Quando a câmera focou em mim, pensei, ‘era isso que eu precisava’”.

Eu queria de qualquer jeito entrar no mundo artístico e vi que era uma oportunidade de sair da noite sem deixar de ter o mesmo padrão financeiro que eu já tinha. Esse era o caminho mais rápido. (...) Eu nunca o amei

Viviane Brunieri, ex-namorada de Ronaldo Fenômeno

Fim do relacionamento: “Ronaldinho chorou de revolta”

Após se converter, Vivi Brunieri se formou em teologia e passou a pregar seu testemunho em igrejas evangélicas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Após se converter, Vivi Brunieri se formou em teologia e passou a pregar seu testemunho em igrejas evangélicas
Imagem: Arquivo pessoal
Viviane Brunieri já estava com uma personalidade pública, tinha status de celebridade por tabela, mas não conseguiu se livrar de fantasmas do passado. Ela garante que Ronaldinho nunca desconfiou de seus reais interesses, mas o cerco começou a se fechar e quando a bomba explodiu já era tarde demais para arrependimento. 

“Eu tinha que esconder a minha vida no Japão, sendo que os empresários dele já estavam investigando. A minha situação financeira era muito boa para uma menina naquela idade, que não era de família rica e nem uma herdeira. Eu tinha que inventar mil mentiras. Dizia que trabalhava como modelo e o Ronaldo acreditava, mas os empresários não”, explica.

A gota d’água para a separação veio após uma festa: “Eu bebi muito e comecei a contar meu passado. Foi uma briga feia. A reação dele foi horrível. Hoje eu falo isso rindo porque chega a ser engraçado, mas claro que não é. Não gostaria que fizessem isso com um filho meu. Ele começou a chorar muito. Era um choro de tristeza, meio que de revolta. Como eu podia ter enganado ele? Eu falava, ‘não vai dar certo porque você tem uma história, e eu não’... E aí contei toda minha vida”. Os dois começaram a se distanciar e até o final da Olimpíada de Atlanta já não estavam mais juntos. Mas não tinha problema. Vivi já tinha conseguido o que queria.

Capa da “Playboy” e estrela pornô

Nadya França e Viviane Brunieri na capa da "Playboy" (1998) - Reprodução - Reprodução
Nadya França e Viviane Brunieri na capa da "Playboy" (1998)
Imagem: Reprodução
Vivi fez como pôde para prolongar seus 15 minutos de fama. O ensaio de capa para a "Playboy", um motivo de grande orgulho na época, acabou contribuindo mais do que ela esperava. Isso porque, ao posar nua com Nadya França (também ex-namorada do jogador), surgiram as Ronaldinhas. O curioso é que a dupla surgiu de uma feliz coincidência:

"O Jr. Duran era o fotógrafo. Eu e a Nadya éramos bem parecidas, e como ele não gravava nossos nomes começou a nos chamar de Ronaldinhas. Foi assim, meio que sem querer mesmo. Eu falo que não foi nada confortável porque era meu primeiro ensaio, mas o sonho de ser capa da ‘Playboy’ falou mais alto. Era tudo o que as globais queriam na época. Mas depois é que começou mesmo o verdadeiro glamour”.

As Ronaldinhas viajaram pela Europa, gravaram CD, se apresentaram em turnê e fizeram périplo por vários programas de TV. Vivi brinca que, se fosse hoje em dia, com toda certeza poderia fazer parte da categoria de subcelebridade. E como acontece com tantas outras que ficam famosas do dia para a noite, ela foi caindo no esquecimento até que recebeu um convite de uma produtora de filmes pornográficos.

“Eu assinei contrato porque queria voltar para a mídia. Foi tudo muito consciente, mas isso quase me levou para o fim. Mais uma vez, o que eu precisava era de dinheiro e autoafirmação. A primeira cena foi como se meu mundo estivesse acabando. É algo que agride. É o underground da prostituição. A pior coisa para uma mulher. Meu ex-namorado sugeriu para rescindir o contrato, mas eu já tinha assinado. Pensei, agora vou encarar”, se lembra. Financeiramente, tanto a “Playboy” quanto o filme (dividido em quatro partes) foram bastante lucrativos. A ex-Ronaldinha faturou algo em torno de R$ 800 mil somando os cachês da revista e do pornô, mas por dentro ela se sentia destruída.

Sofri muito mais por estar gordinha do que na época dos filmes. Hoje eu sei o que elas passam. O meu recado é: toda gordinha tem o seu espaço.

Viviane Brunieri

Novo amor e feliz: "Toda gordinha tem seu espaço"

Viviane Brunieri conheceu seu atual namorado no Japão - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Viviane Brunieri conheceu seu atual namorado no Japão
Imagem: Arquivo pessoal
Viviane Brunieri mudou radicalmente de vida após se converter à religião evangélica por intermédio de um casal de pastores, que já a acompanhava há algum tempo. Ela relata que era emocionalmente muito instável e, também pelo vício em metanfetamina, se internou em uma clínica. A ex-Ronaldinha vê sua regeneração como obra de Deus, mas o processo de transformação não aconteceu num piscar de olhos.

"A minha maior dificuldade [após a conversão] eram os abortos que eu fiz. Eu achava que não tinha perdão. Mas entendi que não dava para voltar atrás. Passei por um processo de cura e libertação e entendi que não existe um culpado. Se existe, o culpado é o diabo", diz. 

Vivi acredita que dar seu testemunho de transformação é importante para ajudar quem passa por uma história semelhante. Aos 41 anos, ela celebra uma vida tranquila, com seu casal de filhos e um novo amor. E dando risadas, diz que sofreu muito mais preconceito por causa dos quilinhos a mais (hoje ela está com quase 90 kg) do que quando estrelou os filmes pornôs:

“Vai completar um ano que estou namorando depois de sete anos. Ele é japonês e ama gordinha. É o único japonês que gosta de gorda. E eu encontrei! Gordinha aqui não tem vez. É para provar que Deus é Deus. Sofri muito mais por estar gordinha do que na época dos filmes. Hoje eu sei o que elas passam. O meu recado é: toda gordinha tem o seu espaço. Essa experiência estou tendo agora”, comemora ela, que não pensa em voltar tão cedo ao Brasil. “Eu amo meu país! Estive de dezembro a março em Santa Catarina, mas a única coisa que me desanima é a questão da segurança. Aqui eu saio tarde da noite para andar de bike com minha filha. Não existe assalto”, afirma.