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Julia Dalavia revela como Nanda descobre que tem HIV em "O Dias Eram Assim"

A atriz Julia Dalavia - Raquel Cunha/TV Globo
A atriz Julia Dalavia Imagem: Raquel Cunha/TV Globo

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

27/07/2017 04h00

Com apenas 19 anos, Julia Dalavia precisou fazer uma certa viagem no tempo para entender o universo de Nanda, sua personagem em "Os Dias Eram Assim", atualmente ambientada em 1984. O boom do amor livre, a revolução sexual e a mudança de comportamento decorrente foram alguns dos temas de sua pesquisa, que logo tomou um caminho mais delicado, que cruza a trajetória da sua personagem. A Aids, na época considerada uma sentença de morte, já dá seus primeiros sinais na irmã de Alice (Sophie Charlotte), que ainda nem desconfia ser portadora do HIV.

"Comecei a frequentar uma instituição que me deu material, falei com médicos, psicólogos. Procurei pessoas que contraíram naquela época, e foi muito difícil achar alguém vivo. O que mais me surpreendeu foi a dor dessas pessoas. Não consigo imaginar uma doença que afete assim a minha geração, que mate os meus amigos, um por mês, um por semana. A minha geração trata a Aids como uma doença crônica, porque a gente não viu as pessoas morrerem desse mal. O meu maior medo, ao usar preservativo, é a gravidez", analisa a atriz.

Na trama de Angela Chaves e Alessandra Poggi, o processo de descoberta é lento. Nos próximos capítulos, a jovem volta a se sentir mal na praia, quando Caíque (Felipe Simas) a leva para aprender a surfar. Ela fica preocupada com esse mal-estar que não passa, cogita-se uma gastrite. Sem os resultados dos exames, o primeiro contato que ela tem com a síndrome é através de uma carta dos Estados Unidos que traz uma má notícia: a morte de um amigo. Kiki (Natália do Vale) ainda comenta que viu um "programa assustador" sobre a Aids, mas a família ainda nem se dá conta de que Nanda também possa ser soropositiva.

Até porque, até então, até a forma de transmissão era uma incógnita. 

"Isso veio para reprimir aquela ideia do amor, do sexo e da liberdade que estava se construindo nos anos 70 e deixou as pessoas muito receosas. Não se sabia se tinha cura, se pegava pelo beijo, pelo abraço. Tinha gente que achava que era mosquito. Imagina o quão desesperador isso era. Fico pensando como é que era viver nessa situação, gente que era colocada para fora de casa, abandonada", comenta.

Caíque (Felipe Simas) conversa com Nanda (Julia Dalavia) em "Os Dias Eram Assim" - Estevam Avellar/TV Globo - Estevam Avellar/TV Globo
Caíque (Felipe Simas) conversa com Nanda (Julia Dalavia) em "Os Dias Eram Assim"
Imagem: Estevam Avellar/TV Globo

Ao receber a sinopse, Julia percebeu que precisaria emagrecer - até agora foram eliminados oito quilos, que a ajudam, segundo ela, a manter uma postura mais fragilizada em cena. As olheiras e a pele pálida, resultados do processo de caracterização, também contribuem para o resultado final. 

"Em março, comecei a acertar minha alimentação. Por isso não sofri tanto, vem sendo aos poucos. Agora estou sendo mais rigorosa. Quando quero comer alguma coisa, lembro da minha motivação, do resultado que eu quero atingir. Como salada, legumes. Estou sendo acompanhada por uma nutricionista, tomando vitamina, mas o corpo vai ficando preguiçoso. E isso é bom. Quando eu chego para gravar, bate aquela moleza, aquele cansaço. Continuo saindo, mas não vou para a night, minha energia gasto toda aqui [no trabalho]", diz ela, que ainda não sabe detalhes sobre futuras transformações, como uma possível queda de cabelos. 

Enquanto não se chega a um diagnóstico, os médicos recomendam à jovem soluções paliativas, como repouso, hidratação, alimentação saudável - um problema, já que ela também perde o apetite. Vai ser só no capítulo previsto para ir ao no dia 21 de agosto, no entanto, que ela recebe a notícia. Depois de uma endoscopia, ela pede a Domingos (Izak Dahora) que conte, primeiro para ela, o que tem. 

Ao saber do que se trata, Nanda pede que o especialista não a olhe com pena. Num primeiro momento, ela esconde a notícia da família e até evita um contato mais próximo com o namorado, que fica confuso com a atitude dela.

"Essa doença foi muito atrelada, principalmente, aos homossexuais, eram considerados grupo de risco. E a novela vem quebrando esse estigma ao colocar uma mulher como portadora do vírus. É uma responsabilidade. Sempre esperei que a a novela levantasse uma bandeira, porque a gente está falando de uma coisa muito séria", diz Julia.

Nanda (Julia Dalavia) se sente mal, e Kiki (Natalia Du Vale) e Sandoval (Ricardo Blat) cuidam dela em "Os Dias Eram Assim" - Raquel Cunha/TV Globo - Raquel Cunha/TV Globo
Nanda (Julia Dalavia) se sente mal, e Kiki (Natalia Du Vale) e Sandoval (Ricardo Blat) cuidam dela
Imagem: Raquel Cunha/TV Globo

Um sentimento, no entanto, não passa pela cabeça da personagem: culpa.

"O sexo era outro estigma. O hemofílico, as mulheres casadas eram considerados vítimas, mas quem pegava pelo sexo era 'culpado'. A Nanda não acredita nisso, ela não se culpa porque transou. Poderia ter sido um câncer ou outra doença. Era a hora dela. Ela não se arrepende de como levou a vida dela, encara e aceita as consequências das coisas que ela fez. Não vê como uma punição", analisa.

Segundo a atriz, Caíque continua ao lado da amada até o fim, mas é na família que se dá a maior transformação. Ao longo do processo, Kiki e a filha se tornam mais próximas.

"Vai haver muitas mudanças, isso vai movimentar toda a casa. Ela é uma menina que vem para mudar a cabeça da mãe, para resgatar alguma coisa, ensinar alguma coisa para a família", acredita.