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"Passaram a mão na nossa bunda", diz Alexandre Nero sobre cenário político

Alexandre Nero é Geraldo Bulhosa em "Filhos da Pátria" - Mauricio Fidalgo/Globo
Alexandre Nero é Geraldo Bulhosa em "Filhos da Pátria" Imagem: Mauricio Fidalgo/Globo

Marcela Ribeiro

Do UOL, no Rio

03/08/2017 15h27

Alexandre Nero interpreta Geraldo Bulhosa, um homem solícito e prestativo, funcionário do Paço Imperial que acaba se corrompendo na série "Filhos da Pátria", que estreia em setembro na Globo. A trama se passa no Brasil de 1822, após a proclamação da Independência, e muito tem a ver com a situação política atual do país.

"Meu sentimento é de absoluta desesperança. O país não tem o que melhorar coisa nenhuma. Só tende a piorar cada vez mais. Passaram a mão na nossa bunda e a gente riu. Não lembro de algo tão claro assim do que está acontecendo. É um traço que está lançando na história do Brasil neste momento", disse Nero sobre a decisão dos deputados de barrar a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer, na quarta-feira (2).

O jeitinho brasileiro e a malandragem será um tema mostrado na série e Nero diz que vê muito mais gravidade nos crimes cometidos pelos políticos do que algumas atitudes ilícitas cometidas por pessoas desfavorecidas na sociedade.

Alexandre Nero na coletiva de "Filhos da Pátria" na Casa de Arte e Cultura Julieta de Serpa, no Rio de Janeiro - Roberto Filho/ Brazil News - Roberto Filho/ Brazil News
Alexandre Nero na coletiva de "Filhos da Pátria" no Rio
Imagem: Roberto Filho/ Brazil News

"Pequenas corrupções é o jeitinho brasileiro. O cara que é explorado vai tentar explorar o sistema de alguma forma. Não acho esse cara um bandido. Bandido mesmo é quem explora esses caras. A história vende que o bandido é o pobre, é o negro... A gente esquece que o bandido é o cara que está ali no congresso com gravata e terno. Esses são os piores, que matam muito mais gente do que os outros", opina.

O ator se reuniu com Bruno Mazzeo, criador da série, com o diretor Maurício Farias e o elenco no lançamento, que aconteceu  a nesta  quinta-feira (3) na Casa de Cultura Julieta de Serpa, na zona sul do Rio. Apesar de não ver esperança a curto prazo para o cenário político do Brasil, Nero opina sobre o que pode ser feito nas próximas eleições para que, aos poucos o país melhore.

"Como cidadão o que posso fazer é estudar profundamente os candidatos que vem. Não acreditar em imprensa, não acreditar em artistas. Estudar as propostas, saber quem são e de onde vieram. É a única saída".

Casado com  Karen Brusttolin e pai de Noá, 1 ano e 7 meses, o ator não esconde que tem vontade de morar no exterior ao ver o Brasil enfrentar tamanha crise.

"Penso o tempo inteiro. Acho que não tem um brasileiro que não pense em morar fora. Qualquer coisa que eu fale já virou clichê. Não tem um brasileiro que não fale, 'o que estou fazendo aqui? Vamos embora deste país'".

Na série, o personagem de Nero, Geraldo Bulhosa, é casado com a ambiciosa, Maria Teresa (Fernanda Torres), obcecada pelos modos e tradições da alta sociedade. Com a Independência, Bulhosa se sente ameaçado de perder o cargo oficial que ocupa no Paço Imperial, intermediando as relações entre Brasil e Portugal.


Apesar de no início ser um homem íntegro e honesto, ele acaba fazendo parte dos novos esquemas no trabalho, liderados por Pacheco (Matheus Nachtergaele) para favorecer obras públicas e conferir títulos de nobreza indevidos. Assim, ele começa a enriquecer.

"O grande barato do meu personagem é que ele era um cara honesto e virou corrupto e acho que todo mundo pode ser qualquer coisa. O que faz a pessoa se tornar aquilo é fazê-lo. Infelizmente acho que não tem ninguém tão inocente quanto o Geraldo na nossa política. Ele não quer entrar, mas é que está fácil", diz Nero.

"A gente sempre imagina de uma forma caricata. Mas isso tudo é muito comum. É um pai de família. Esse cara é bom, íntegro. Por que ele se corrompe? Porque é fácil, o dinheiro está na mão dele, ele trabalha com dinheiro, ele não vai preso porque ele trabalha com gente que tem contatos. A gente viu um exemplo ontem, né? De um cara que não vai ser investigado porque ele tem amigos, né? Que votaram para ele não ser investigado. É muito bom ganhar dinheiro fácil, né? O corrupto não é necessariamente uma pessoa má. No caso do Geraldo é um cara bom, então ele está sendo incomodado com isso. Mas ele vai começar a ganhar gosto porque é fácil e é gostoso ter dinheiro. Chega uma hora que ele começa a não ligar mais pro outro", completa.