Dez anos após doping, Rebeca Gusmão celebra maternidade e "corpo perfeito"
Primeira campeã do Brasil de natação nos Jogos Pan-americanos em 2007, Rebeca Gusmão viu a glória do pódium se desfazer pouco tempo depois com o resultado positivo de um exame antidoping. A perda das medalhas, a suspeita do uso de anabolizantes e o banimento do esporte foram só o começo das transformações vividas pela ex-atleta, que relança este mês a biografia “Virada Olímpica – A carreira, a queda e a superação”.
Passados dez anos, Rebeca comemora a boa forma física um ano depois de dar à luz Zeus, o filho batizado em homenagem ao mais poderoso dos deuses olímpicos. “Ganhei 30 quilos na gravidez, cheguei a 108. Achava que não fosse recuperar meu peso. Troquei a hora de comer para dormir, faço pelo menos duas vezes academia pro semana, tenho uma alimentação balanceada”, diz ela, que está com 78 kg e exibe uma barriga sarada. “Hoje estou com o melhor corpo que já tive.”
Com o livro autobiográfico, publicado há um ano, a ex-nadadora, hoje com 32, acredita poder ajudar quem enfrenta sofrimentos pelos quais ela mesma já passou. “Acho que é possível superar toda dor que a gente passa pela vida. Se estamos vivos temos que continuar em frente. É engraçado falar isso, mas acredito que se minha história tivesse sido diferente, meu filho não estaria comigo. Ele é o fruto de eu ter parado de nadar. É o preenchimento do vazio que eu tinha na minha alma.”
A sensação de vazio que Rebeca se refere é sobre o período mais sombrio de sua trajetória, quando, mergulhada em uma severa depressão, tentou cometer suicídio duas vezes. Após falhar na primeira tentativa, aumentou a dose de medicamentos, misturou com veneno de rato e acordou no leito de um hospital após três dias em coma.
“Foram seis anos para a depressão me levar para o fundo do pré-sal. Quando voltei do coma, o primeiro sentimento que eu tive foi raiva. Raiva de ter feito aquilo comigo. Quando fiquei apagada, acho que devo ter levado um esporro lá em cima muito grande. Abri os olhos e pensei: 'Não posso fazer isso. Tenho que lutar.' Foi quando comecei a parar de pensar no meu sofrimento e mais nas pessoas que me amam.”
Embora garanta ter superado a fase mais difícil, Rebeca diz que a sensação de injustiça permanece. A ex-atleta, que afirma ter sido um bode expiatório, ainda espera pelo dia em que será absolvida pelo tribunal internacional do esporte por um erro que, garante, nunca cometeu.
“O que eu perdi e o que sofri não será recuperado. Mas acho que os danos materiais, psicológicos e na minha vida essas pessoas têm que pagar. Sempre fui uma atleta grande, forte, e algumas pessoas se incomodavam porque pensavam que se eu fosse um ídolo, outras meninas poderiam querer ficar como eu e isso poderia gerar uma consequência com o doping”, afirma.
“A Fazenda”: "Não voltaria"
Rebeca se aposentou das piscinas, mas nunca deixou o esporte e nem os holofotes. Ela virou campeã mundial de supino e, eleita deputada estadual, se dedicou a projetos na área. Em 2015, entrou no elenco do reality “A Fazenda”, mas após seis semanas de confinamento, foi eliminada.
"Eu queria que as pessoas me conhecerem e vissem que eu não era brava como podia parecer. Mas o que as pessoas não entendem é que depois de enclausurada por muito tempo até a sua personalidade muda. É muito difícil. Eu não recomendo para ninguém e não voltaria", diz ela, que, no entanto, afirma não ter se arrependido do programa.
De volta à vida real, Rebeca ainda descobriu que um assessor havia entrado com uma ação contra ela e acabou perdendo uma parte do cachê que havia ganhado. “O que mais me chateou foi que se ele tivesse batalhado enquanto eu estava lá dentro, tivesse feito fã-clube, ele poderia sim dizer: ‘Eu trabalhei para ela’. Mas ele ficou falando mal de mim. Não acredito na justiça dos homens, mas na justiça divina”, afirma.
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