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Corpo de Rogéria é velado nesta terça (5) no Rio de Janeiro

Do UOL, no Rio

05/09/2017 08h01

O corpo de Rogéria foi velado nesta terça-feira (5) no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. A atriz morreu aos 74 anos após ser internada no hospital Unimed, na Barra da Tijuca, onde estava desde 8 de agosto devido a um quadro de infecção urinária. Depois de um momento reservado para familiares e amigos, o espaço foi liberado, por volta de meio-dia, para que fãs dessem adeus à artista.

A atriz Leandra Leal, diretora do filme "Divinas Divas", que tinha Rogéria como uma das protagonistas, participa da organização do velório. "Para mim é um conforto que ela tenha visto o filme e tenha recebido esse carinho. Mas ela sempre teve reconhecimento", afirmou ela, que lembrou a importância da amiga para a comunidade LGBT. 

"Ela dizia: 'Eu não preciso de bandeira, eu sou a bandeira.' Ela abriu portas para muita gente. Com sensibilidade, dignidade e talento, ela entrava na casa das famílias. Foi muito amada. É difícil pra gente nesse momento tão difícil perder essa figura, porque ela fazia muita diferença. A gente deve muito a ela."

Gloria Pires se emocionou ao falar com a imprensa sobre Rogéria. "Tinha uma relação muito próxima com ela, porque ela era amiga do meu pai. Ela começou como maquiadora. Rogéria, como artista, sempre foi uma pessoa da maior importância. Pela coragem dela, pela maneira de ser, sempre rompendo barreiras impensáveis para a época e de uma maneira muito correta, digna, inteira e muito forte."

A atriz Jane de Castro, que também participa de "Divinas Divas", também estava muito emocionada ao falar da amiga. "É uma tristeza muito grande. É uma parte da história que se vai, os holofotes se apagaram. Era uma amiga, ela faz parte da minha história. Convivemos por quase 60 anos, eu a conheci quando tinha 15. Muitas pessoas diziam que a gente brigava, mas era briga de irmãs. Nunca fomos inimigas. Sonhávamos em ser artistas e conseguimos."

Muito abalado, o empresário de Rogéria, Alexandro Haddad, afirmou que trabalhar com ela "não era trabalhar na verdade". "Digo que cuidava mais do Astolfo que da Rogéria. O que ela deixa é um exemplo de caráter, de índole, de educação. Falava com todo mundo onde chegava. Era uma amiga, mãe, confidente. Só de olhar a gente sabia o que estava acontecendo um com o outro", afirmou.

Ele relembrou os dois meses, difíceis para a artista. "Agora ela descansou. Sempre levou alegria por onde passou e ver que ela estava sofrendo tanto, não era justo. Da primeira vez ela ficou 15 dias no hospital, depois uma semana em casa. Aí foram mais 28 dias internada, a infecção ia e voltava. A esperança era de que ela ia conseguir", lembrou.

Depois de uma oração, Leandra Leal fez um breve discurso. "Todos nós temos vários motivos para ser gratos a Rogéria. Esse ritual é porque ela é uma artista acima de tudo. Vamos sempre homenagear, saudar e festejar Rogéria", afirmou.

Em seguida, Jane de Castro, Divina Valéria e outros amigos cantaram "La Vie en Rose" e aplaudiram a artista.

"Eu e Rogéria descobrimos Paris em 1970. É tanta coisa para recordar! São muitas e muitas histórias... Que descanse em paz", afirmou Valéria, que como Jane e Rogéria, também fez parte do documentário "Divinas Divas".

Diogo Vilela também prestou sua última homenagem à amiga. "Era uma pessoa muito amorosa e que tinha uma maneira de se colocar muito interessante. Era talentosíssima e de uma transparência ímpar. Venceu muitas barreiras e merece respeito por isso. Tudo que sofreu devolveu com amor", disse.

A atriz Isadora Ribeiro fez questão de se despedir de Rogéria. "Ela era minha estrela, minha diva. Tinha uma energia muito positiva, sou fã número um. Ela me ensinou muito. Era uma pessoa do bem, brilhava. Tinha star quality que só as divas têm. Vou admirar eternamente", contou.

Às 17h30, o caixão foi fechado e, às 18h, o corpo deixou o Teatro João Caetano, sob aplausos, em direção a Cantagalo, na Região Serrana do Rio, onde será realizado no enterro, na quarta-feira, após um segundo velório que vai acontecer durante a madrugada no ginásio da cidade natal de Rogéria.

Nas redes sociais, famosos lamentaram a morte de Rogéria e prestaram homenagens à artista

"Travesti da família brasileira"

Rogéria abriu as portas para as travestis na TV brasileira - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Rogéria abriu as portas para as travestis na TV brasileira
Imagem: Reprodução/Facebook
Nascida como Astolfo Barroso Pinto em 25 de maio de 1943, em Cantagalo, interior do Rio, Rogéria se autointitulava "travesti da família brasileira" e era uma das transformistas mais antigas em atividade no Brasil.
 
Rogéria passou a usar roupas e maquiagens femininas na adolescência, mas seu transformismo não foi repreendido pela mãe --ela cresceu longe do pai. A artista se considerava transgênero, mas nunca teve vontade de realizar a cirurgia de redesignação sexual.
 
"Minha mãe não tinha vergonha de mim. Pelo contrário, ela trabalhava no laboratório químico farmacêutico do Exército. Eu entrava, fazia festa no colo do general, sentava numa boa, porque as pessoas gostavam de mim. Quando surgi como Rogéria, mamãe no vestiário botou todas as fotos", disse a atriz à GloboNews, em 2016.
 
Rogéria começou a carreira artística como maquiadora na extinta TV Rio, na década de 1960, trabalhando com artistas como Fernanda Montenegro, Bibi Ferreira e Elis Regina. Também foi cantora, se apresentou como transformista fora do Brasil e tornou-se vedete de Carlos Machado, produtor e diretor de espetáculos musicais e conhecido como "O Rei da Noite".
 
Na televisão, Rogéria participou como jurada em vários programas de auditório, de apresentadores como Chacrinha, Gilberto Barros e Luciano Huck.
 
Como atriz, Rogéria fez participações especiais em "Tieta" (sua primeira novela, em que apareceu no capítulo desta segunda no canal pago Viva), "Paraíso Tropical", "Duas Caras", "Lado a Lado" e Babilônia", na sitcom "Sai de Baixo", no humorístico "Tá no Ar" e na minissérie "Desejos de Mulher".
 
No teatro, ganhou o Troféu Mambembe em 1979, pela peça "O Desembestado", em que atuou com Grande Otelo. Encenou, ao lado de outras travestis pioneiras no Brasil, o espetáculo "Divinas Divas", que virou documentário dirigido por Leandra Leal, em 2016.