Topo

Zé Congonhas tietou Claudia Raia, foi demitido e hoje persegue famosos

Felipe Pinheiro

Do UOL, em São Paulo

06/11/2017 04h00

Um autógrafo de Claudia Raia custou o emprego do pernambucano Irineu Bernardo da Silva há alguns anos. Ex-segurança do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, ele não resistia ao ver alguma celebridade cruzar o saguão de desembarque de um dos terminais mais movimentados do país. O antigo chefe já o tinha ameaçado quando ele largou o posto e avançou em direção a Tarcísio Meira. Na segunda investida, não houve perdão.

“Quando ele me viu pedir autógrafo para a Claudia Raia, disse que eu estava dispensado. Consegui o autógrafo, mas perdi o emprego. Ele tinha razão. Eu não estava focado em trabalho. Quando via artista, não tinha controle nenhum e ia para cima”, reconhece, resignado.

Era a deixa que faltava para Silva, hoje conhecido como Zé Congonhas, fazer o que mais queria. Aos 58 anos, o hoje gerente de um condomínio aproveita qualquer folga para montar seu acampamento no desembarque. Espécie de paparazzo informal, ele persegue celebridades das mais variadas áreas para uma selfie e chega a passar 13 horas à espera de um rosto conhecido –marca de fazer inveja a profissionais de ramo.

O emprego em Congonhas, inclusive, foi só uma desculpa para ficar mais tempo numa das áreas onde circulam mais artistas na capital. Pernambucano de Gameleira, Zé chegou a São Paulo aos 32 anos com o sonho de se tornar um daqueles famosos que via na TV. Sem os realities dos dias de hoje, tentou o teatro.

“Não conhecia nada de São Paulo. A minha família me dava muita força, dizia para eu tentar o meu espaço. Descobri o teatro e cheguei a fazer duas peças, mas antes de tirar minha DRT [registro profissional] fiquei desempregado”, recorda.

Os cabelos espetados e os inseparáveis óculos escuros acabaram convertendo-o em um personagem reconhecível de quem passa com frequência por ali. Ele chegou a colaborar para o extinto programa “Perfil 2000”, de Otávio Mesquita, na Rede TV!. Desta época, conta, veio o apelido -- que ele aderiu de vez após ser chamado assim por Zezé Di Camargo.

Zé Congonhas diz que o aeroporto é como sua segunda casa: Há quase 30 anos ele fotografa famosos no saguão do desembarque - Felipe Pinheiro/UOL - Felipe Pinheiro/UOL
Zé Congonhas diz que o aeroporto é como sua segunda casa: Há quase 30 anos ele fotografa famosos no saguão do desembarque
Imagem: Felipe Pinheiro/UOL

Chatos ou legais?

Zé Congonhas encontra Claudia Abreu e corre para não perder a foto com a atriz - Felipe Pinheiro/UOL - Felipe Pinheiro/UOL
Zé Congonhas encontra Claudia Abreu e corre para não perder a foto com a atriz
Imagem: Felipe Pinheiro/UOL
O tempo passou e os autógrafos deram lugar às selfies.  Zé se adaptou à era pós-Zuckerberg e abriu uma conta no Instagram, onde possui mais de 1 mil seguidores. Ele ganhou até a ajuda de um amigo que atua como seu assessor de imprensa.

O que pouco mudou, afirma, é a recepção nem sempre simpática de estrelas da TV. “Costumo dizer que o aeroporto de Congonhas é minha segunda casa. Aqui me sinto bem – mesmo levando os 'nãos' das celebridades. No início não foi fácil, mas agora já estou acostumado quando acontece”.

O caçador de celebridades costuma dividir em listas de chatos e legais aquelas que lhe negaram uma foto e as que já o reconhecem de cara. “Não consegui foto com Alcione, Pedro Bial, Zeca Pagodinho... Respeito, mas fico chateado. Se é uma pessoa pública, acho que não podia negar”.

Com os anos de “carreira”, ele começou a achar uma estratégia na abordagem dos famosos. Durante a entrevista ao UOL na área externa do saguão, Zé foi avisado de que a atriz Claudia Abreu estava logo atrás dele. Agitado, o pernambucano se aproximou da global, que havia desembarcado em São Paulo, e pediu uma foto.

Zé reconhece que já foi inconveniente algumas vezes. “Fui aprendendo. Na segunda vez que vi a Claudia Raia, ela estava entrando no táxi e eu a cutuquei. Ela falou, assustada: ‘Por favor, me leve, mas não me mate!'”

“Me sinto celebridade”

Zé Congonhas com a atriz Bruna Marquezine; ele não deixa de arrepiar o cabelo e usar os óculos escuros - Reprodução/Instagram/zecongonhasoficial - Reprodução/Instagram/zecongonhasoficial
Zé Congonhas com a atriz Bruna Marquezine; ele não deixa de arrepiar o cabelo e usar os óculos escuros
Imagem: Reprodução/Instagram/zecongonhasoficial
No dia a dia, o tiete de famosos mais excêntrico de Congonhas diz passar despercebido no condomínio onde trabalha e vive com a mulher.

“Às vezes, ela pergunta: ‘isso é hora de chegar em casa?’ Ao mesmo tempo que me apoia, diz que eu sou louco, mas entende que é um hobby. Tem dias que chego com duas fotos, outros dias com quarenta”, conta.

A transformação em Zé Congonhas começa com a preparação para se deslocar ao aeroporto. É quando Irineu capricha no visual e sai de casa com o acessório que não pode faltar. “Eu só faço as fotos de óculos escuros! É um charme. A marca do Zé Congonhas”.

O reconhecimento que o personagem recebe hoje em dia, ele diz, preenche uma antiga frustração. “Eu me sinto realizado. Quando alguém me faz um elogio, me sinto uma celebridade. Tem muita gente que se lembra de mim quando me vê. O Caio Castro me chama de pai! Fabiana Karla, Klebber Toledo, Cauã Reymond, o Paulinho Gogó... tem muita gente que já me conhece”, orgulha-se.

Sem ver contradição, no entanto, revela a celebridade que mais deseja encontrar numa das idas a Congonhas: Carlos Alberto de Nóbrega. “Quero pedir nem que seja uma pequena ponta em ‘A Praça é Nossa’. Tenho confiança que esse dia vai chegar”.